Resultado da maior movimentação de transações via
Pix, a redução de dinheiro em espécie vem afetando o dia a dia do comércio e
serviços. Lançado em 2020, o Pix é um projeto do Banco Central (BC) de
digitalização da economia e feito para reduzir os custos do Banco Central com a
produção e circulação da moeda física. Mas, se por um lado, o novo modelo de
realizar transações agilizou e facilitou as operações, por outro, trouxe
dificuldade quando se recorre à moeda física. Passar troco tem se tornado um
desafio para os comerciantes que veem a situação sem otimismo.
Em lojas de Natal, é perceptível a preferência dos
clientes pela modalidade digital, o Pix. A escolha preocupa os comerciantes que,
pela ausência do dinheiro em espécie, sentem maior dificuldade para passar o
troco para seus clientes. Há situações em que precisamrecorrer ao PIX para
repassar troco, porque não dispõem da moeda em papel.
“Depois do Pix ficou difícil, o dinheiro miúdo no
comércio ficou bem complicado. (…) A gente tem que passar até troco mesmo no
Pix, porque muitas vezes a gente não tem para dar ao cliente e para não perder
uma venda, a gente se habilita a fazer até mesmo isso”, contou a comerciante
Graciana Oliveira.
Ela também relata que alguns hábitos dos clientes
dificultam a circulação das moedas no comércio. “Tem clientes que ficam
juntando moedas em minhaeiros, incentivam principalmente as crianças para
juntarem e abrirem no final do ano e isso complica ainda mais. A nota nós até
conseguimos, mas as moedas estão presas em cofrinhos”, explica.
A situação é semelhante para o comerciante Francisco
dos Santos que, há 37 anos trabalhando no comércio do bairro do Alecrim. Ele
levanta a preocupação sobre o futuro. “Eu vejo isso com muita preocupação.
Porque o dia da manhã, no futuro, logo, logo o dinheiro desaparece. Então,
imagine quantas pessoas vão ficar desempregadas, por exemplo, as casas
lotéricas, os bancos, como é que vai ficar? Como é que vai ficar o futuro dos
bancos? Hoje chegamos no banco e vemos eles vazios porque ninguém precisa mais
de dinheiro em espécie”, declara.
Para Francisco, o público mais jovem é melhor
favorecido com a digitalização da moeda, pela maior facilidade com as
tecnologias. “Uma pessoa de idade geralmente vem pagar com a moeda. O público
mais novo com a idade de 15 a 25 anos, ele não faz questão de pagar com a
moeda. Ele faz questão de pagar com o cartão. Isso vai fazer a moeda
desaparecer”, enfatiza.
Percebendo a mudança cercar o seu negócio, o
comerciante conta que adotou uma estratégia para ter sempre dinheiro em espécie
disponível. “Se eu apurar 500 reais, eu apuro 50 reais em espécie e o resto é
cartão ou Pix, e isso atrapalha o troco. No meu caso, o meu comércio aqui não é
pequeno, então graças a Deus eu me previno um pouco, geralmente tenho um fundo
de reserva. Mas tem pessoas que não conseguem ter, então precisam procurar por
aí pra dar o troco ao cliente, e isso atrapalha a venda”, revela Francisco.
A situação também é alvo de reclamações do
comerciante José Assis de Lima, que percebe a menor movimentação do dinheiro em
espécie afetando as contas gerais da sua loja. “A falta de dinheiro tem
atrapalhado muito. Hoje, você mal consegue pegar dinheiro no comércio, tudo é
Pix ou cartão. Isso é ruim porque na movimentação diária do caixa da loja, a
gente se vê obrigado a passar Pix para o pagamento de contas básicas”, relata
José Assis.
Ele diz ainda que as novas regras do PIX estão
afetando o caixa da empresa. “Agora os bancos estão tomando taxa também. Às
vezes a taxa é pequena, mas é acumulativa, porque tudo pesa no final. Porque
você está pagando, está recebendo Pix e na hora que você vai sacar ou
transferir, você está pagando do mesmo jeito e onerando a gente que é
comerciante, afetando principalmente as nossas despesas diárias”, reclama.
O comerciante se refere à cobrança da taxa aplicada
para transações via Pix feitas por contas bancárias de pessoas jurídicas, com
exceção de microempreendedores individuais (MEIs) e empresários individuais
(EIs). A taxa do Pix para pessoa jurídica depende da instituição bancária.
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