Nos últimos meses, os consumidores têm observado que
a laranja, umas das frutas mais consumidas do País, ficou mais cara. O que eles
sentem se justifica num aumento de 39,1% que ocorreu em um ano, de acordo com o
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quilo da fruta varia de R$ 4 a
R$ 5,49 nos supermercados e feiras livres.
Consumidores ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE relatam
que a laranja é um item básico na dieta diária, seja consumida como suco ou
inatura, em qualquer refeição do dia. Por isso, o aumento de quase 40% tem
impacto significativo nas compras do mês. “A gente todo mês tem que se preparar
para um aumento diferente. É tanto aumento no supermercado que a gente até
deixa de comprar algumas coisas”, conta a aposentada Maria das Graças, 68 .
A subida no preço da laranja é atribuída a uma
combinação de fatores, incluindo o clima desfavorável, aumento dos custos de
produção e logística. O surgimento da praga greening reduziu a colheita nas
regiões produtoras, como São Paulo, Minas Gerais e Paraná. A doença não tem
cura e faz a fruta amadurecer de forma anormal, adquirindo coloração verde
clara manchada e caindo precocemente. A escassez de chuvas também contribui
para a redução da oferta, impactando os preços no mercado. “É um aumento que
tem acontecido sim, embora a laranja, dentro dos segmentos de frutas, verduras
e legumes, fique em segundo plano. Nós vivemos um momento de El Niño, mudanças
climáticas e tudo isso tem impacto nas colheitas”, explica Gilvan Mikelyson
Gois, presidente da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte
(Assurn).
Segundo conta, a estratégia utilizada para tentar
driblar o aumento é reduzir as margens de lucros para que as vendas não
diminuam. “Se a gente repassar tudo que vem de aumento para o consumidor, a
gente não vende nada, perdemos clientes e isso é ruim para todo mundo”, afirma.
“A gente está falando da laranja, mas vale para outros itens também. Hoje com
R$ 50 você não consegue comprar um quilo de tomate, um de cenoura, um de cebola
e outro de batatinha, que são os principais”, acrescenta.
A elevação dos preços também é sentida nas bancas
das feiras livres, onde a fruta é vendida de R$ 4 a R$ 5 o quilo, a depender do
tamanho, visto que é uma estratégia dos vendedores. O quilo das menores fica
entre R$ 4 e R$ 4,50 enquanto as maiores vão a R$ 5 o quilo. Há um ano, a fruta
ainda era vendida por unidade, a R$ 0,50 e hoje o produto só é encontrado a
partir do quilo.
O professor aposentado Francisco Lourenço, 74, é um
dos que não deixa faltar laranja em casa, mas precisa adotar alternativas que
não deixem a fruta faltar. Ele prefere ir às feiras porque acredita encontrar
preços menores. “Minha saúde depende da laranja, gosto de comer a fruta
inteira, com o bagaço porque o médico indicou. Se a gente fosse depender do supermercado
ia gastar muito mais. A laranja aumentou demais, 40% é muita coisa”, disse.
O artesão Erilson Araújo, 67, pontua que a sensação
é de que o poder de compra vem diminuindo mês a mês. “Estou prestes a completar
68 anos e posso dizer com certeza que a gente parece sufocado, entra governo e
sai governo e a sensação é a mesma, a gente compra menos e paga mais”,
desabafa.
Economistas dizem que essa sensação de “sufocamento”
é um efeito da inflação que atinge principalmente a classe mais pobre do País.
“Quando acontece isso com um item específico, podemos tentar entender,
considerando um aumento da demanda ou restrição de oferta. Nesse caso, como não
houve nenhum fenômeno onde as pessoas passaram a tomar mais suco de laranja,
por exemplo, esse aumento fica atrelado à restrição de oferta”, avalia o
economista Cassiano Trovão.
O efeito se torna mais evidente, segundo diz, quando
soma a de outros produtos inflacionados. “Quando a gente soma o aumento de um
item com a elevação de outros itens de alimentação, a gente tem esse impacto
que a população relata. Logicamente que quem tem menor renda acaba sendo mais
impactado por isso”, diz Trovão.
Queda de 2,2% na safra
Chuvas
abaixo da média, frutos menores e a presença de pragas puxaram a safra de
laranja para baixo na principal região produtora do Mundo, o chamado Cinturão
Cítrico, localizado entre São Paulo e Triângulo/Sudoeste mineiro. A produção
2023/2024 foi 2,22% menor que a colheita anterior com 307,2 milhões de caixas.
Já em 2022/2023, a quantidade ficou em 314,2 milhões. Os dados são do Fundo de
Defesa da Citricultura (Fundecitrus). As condições climáticas desfavoráveis
foram determinantes para a redução da produção em relação à expectativa
inicial, segundo o coordenador da Pesquisa de Estimativa de Safra do
Fundecitrus, Vinícius Trombin. “A transição do primeiro semestre chuvoso em
2023 para um déficit de precipitação no segundo semestre, que se prolongou até
o fim da temporada em 2024, impactou a produção das laranjeiras”, diz.
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