Membros do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram mais duas propriedades
privadas nesta semana no Rio Grande do Norte. A última delas, na noite de
terça-feira (16), em Ceará-Mirim, na Grande Natal. Diante dos novos casos, a
Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern) lamentou a situação de
insegurança no estado e classificou as ações do MST como “de caráter
político-ideológico, e não de luta por terra”.
“Lamentamos que
episódios dessa natureza aconteçam no Rio Grande do Norte, pois não falta terra
para fazer assentamentos. O governo brasileiro, a União, tem muitas terras
disponíveis para fazer assentamentos. Então não é uma invasão por procura de
terra, é uma invasão de caráter político”, afirmou o presidente da Faern, José
Vieira.
A última invasão
ocorreu no terreno da Companhia Açucareira do Vale do Ceará-Mirim, na
terça-feira. De acordo com o MST, cerca de 300 famílias ocupam a área. A
invasão foi divulgada nas redes sociais do movimento e faz parte da Jornada
Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, que ocorre neste mês, conhecido
como “Abril Vermelho”, em repúdio ao massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará,
quando 21 trabalhadores rurais ligados ao MST foram assassinados pela Polícia
Militar em 1996.
De acordo com o presidente
da Faern, a invasão na antiga usina açucareira em Ceará-Mirim já se tornou
periódica. “Todo ano eles fazem essa invasão lá. Então, eu não tenho mais
nenhuma surpresa”, afirmou ele. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou contato
com o prefeito do município, Júlio César Câmara, e a secretária de Comunicação,
Luana Karen Dias. A Prefeitura disse que não iria se pronunciar.
O outro episódio de
invasão desta semana ocorreu no município de Santa Maria, na região Agreste
Potiguar. Na segunda-feira (15), o MST invadiu a fazenda Campos Novos, “dando
largada” às ocupações no estado. Ao todo, cerca de 80 famílias ocuparam o
local.
“Na hora que você
invade por orientação de um grupo que sempre se posicionou contra o direito de
propriedade, nunca respeitou, então eles (MST) querem justamente relativizar o
direito de propriedade. Nós acreditamos na Justiça e esperamos que assim que o
produtor solicitar a reintegração de posse, que sejam tomadas as providências.
Da mesma forma, que sendo expedida a reintegração de posse, que a polícia
cumpra a determinação judicial”, disse José Vieira.
O presidente da Faern
reafirmou o compromisso da entidade com o cumprimento das leis e colocou a
assessoria jurídica da federação à disposição dos produtores potiguares, diante
da possibilidade de novas invasões no Rio Grande do Norte.
“Abril Vermelho”
Segundo dados do próprio MST, as invasões promovidas pelo movimento, desde a
segunda-feira, alcançaram 28 áreas em 11 estados. Além do Rio Grande do Norte,
os atos foram registrados em Sergipe, Espírito Santo, Pernambuco, Paraná,
Bahia, Pará, São Paulo, Goiás, Ceará, Rio de Janeiro e no Distrito Federal até
essa quarta-feira (17).
O MST reivindica as
áreas invadidas, as quais considera improdutivas, para assentamento e reforma
agrária. A onda de invasões ocorre em comemoração ao Dia Nacional de Luta Pela
Reforma Agrária, que foi celebrado nessa quarta-feira. A data que enseja o
chamado “Abril Vermelho” foi definida em memória às 21 vítimas do massacre de
Eldorado dos Carajás, que completou 28 anos em 2024.
Para tentar frear as as
invasões “Abril Vermelho”, o governo federal lançou o Programa Terra para
Gente, para acelerar o assentamento de famílias no País. O programa prevê a
inclusão de 295 mil famílias no Programa Nacional de Reforma Agrária, sendo 74
mil assentadas e 221 mil reconhecidas ou regularizadas em lotes de
assentamentos existentes até 2026. Em nota, o MST afirmou que as iniciativas do
governo voltadas à reforma agrária são “insuficientes” e que há 70 mil famílias
vivendo em acampamentos.
Tribuna do Norte
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