Tribuna do Norte
Famílias de Natal e do interior do Rio Grande do
Norte já estão acampadas no canteiro central da avenida da Alagoas, umas das
vias mais movimentadas da zona Sul de Natal. A cena é recorrente ao longo dos
anos durante o período natalino. Dezenas de pessoas ocupam a região contando
com a solidariedade dos natalenses em busca de doações de roupas, cobertores,
brinquedos e principalmente alimentos. Sob forte sol e expostos à chuva, as
famílias dormem em barracas improvisadas e se alimentam no próprio local.
Geralmente, as pessoas ficam acampadas até o réveillon.
Morando em Natal, no bairro Bom Pastor, zona Oeste,
a desempregada Iris Raquel, de 47 anos, conta que tem moradia fixa, mas vê no
canteiro uma oportunidade de levar comida para casa. “A gente vem por
necessidade, não é porque quer, até porque quem gostaria de estar aqui? A gente
vem principalmente por alimentos e roupas, contando que nesse período as pessoas
ficam mais generosas, então a gente vem para cá pensando em garantir o pão, um
fim de ano menos difícil”, relata Iris Raquel, que trabalhava como diarista.
Raquel diz ainda que pretende permanecer no local
até a virada de ano. “Chegamos aqui na terça-feira, eu e meu esposo. Tenho sete
filhos e, infelizmente, o auxílio que recebo não é suficiente, só dá
praticamente para pagar o aluguel, então a gente precisa fazer isso aqui. Até
agora só consegui uma fubá, um macarrão e um pacote de arroz. É torcer que com
o Natal se aproximando, as pessoas possam ajudar mais porque a necessidade é
grande, ainda mais para mim que tenho asma e problema de coluna”, desabafa.
A Secretaria Municipal de Assistência Social de
Natal (Semtas) diz que as famílias são monitoradas pelo Serviço Especializado
em Abordagem Social (Seas), que realiza acolhida, orientações e encaminhamentos
para os serviços executados pela Semtas e pelo Sistema de Garantia de Direitos.
Em nota, a Semtas ressaltou que a intervenção da pasta é restrita ao campo
orientativo. “A Semtas não trabalha com a retirada das pessoas das ruas, mas,
desenvolve um trabalho socioeducativo com estas famílias, destacando que às
mesmas possuem lugar de moradia fixa e estão inseridas nos serviços executados
pela secretaria”.
A secretaria reforça também uma preocupação para
coibir práticas de crimes no local. “O Seas tem como objetivo assegurar o
trabalho social de abordagem e busca ativa, para identificar a ocorrência de
trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, pessoas em
situação de rua, e outras situações de risco e violações de direitos. O
público-alvo do Seas são crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos e
famílias que utilizam espaços públicos como forma de moradia e/ou
sobrevivência, o qual encaminha essas pessoas para os serviços ofertados no
município”.
Há também quem veio de mais longe. A família da
faxineira Samanta dos Santos, 37, chegou há uma semana no canteiro, vinda de
São Tomé, município distante 112 quilômetros da capital. A família vem para o
local todos os anos em busca de alimentos. “Por enquanto está ruim, mas a gente
espera que melhore porque a situação está muito difícil. Não tem comida, não
tem emprego, a gente vem para cá no desespero mesmo”, destaca Samanta, que está
acampada com a mãe e o esposo.

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