domingo, 5 de novembro de 2023

Número de pessoas ocupadas no RN cai em 47 mil no 2º trimestre de 2023

 


Fonte: PNAD Contínua/IBGE

O Rio Grande do Norte registrou queda de dois pontos percentuais no nível de ocupação – passou de 47,5% no segundo trimestre de 2022, para 45,5% no mesmo período deste ano – de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. Os números indicam que 1,377 milhão de pessoas tinham uma ocupação nos meses de abril, maio e junho do ano passado. Em 2023, no mesmo recorte, eram 1,330 milhão de potiguares com ocupação, ou seja, 47 mil a menos do que em 2022. A professora e pesquisadora do Departamento de Economia (Depec) da UFRN, Juliana Bacelar, explica que a queda pode ser sazonal e afirma que é preciso observar a dinâmica do mercado.

A especialista avalia, contudo, que há um cenário positivo para o Estado. Ela frisa que, quando comparados apenas os dois primeiros trimestres deste ano, abril, maio e junho somaram desempenho melhor do que janeiro, fevereiro e março, cujo nível de ocupação ficou em 44,8% (1.302.000 pessoas ocupadas). Além disso, os indicadores sobre desocupação também reduziram. Segundo o IBGE, a quantidade de pessoas desocupadas caiu de 188 mil no segundo trimestre de 2022 para 152 mil no mesmo período deste ano. A taxa de desocupação portanto, reduziu de 12,1% para 10,2%.

Já o primeiro trimestre deste ano registrou taxa de 12,1%, isto é, superior ao período seguinte. Bacelar diz que ambas as reduções (ocupação e desocupação) registradas no comparativo dos meses de abril, maio e junho de 2022 e 2023, têm a ver com o aumento da ida de pessoas para fora da força de trabalho, ao mesmo tempo em que a população em idade ativa (a partir dos 14 anos) também cresceu.

De acordo com os dados da Pnad, no segundo trimestre deste ano, eram 2.900.000 pessoas em idade ativa. No mesmo recorte de 2023, eram 2.922.000, aumento de 0,75%. Paralelo a isso, a quantidade de pessoas que foi para fora da força de trabalho nos dois períodos cresceu 7,78% (passou de 1.336.000 para 1.440.000). A força, esclarece a especialista, é composta pelo quantitativo de pessoas ocupadas (que estavam em atividade remunerada na semana da pesquisa do IBGE) e desocupadas (aquelas não ocupadas, mas que estavam à procura de trabalho desde o mês anterior ao levantamento).

Já quem está sem ocupação mas não está à procura, é considerado fora da força de trabalho. “Este grupo fora da força é composto pelos desalentados, isto é, aqueles que desistiram de buscar emprego, mas também por pessoas que se aposentaram, por jovens que estão apenas estudando e ainda por aqueles que pararam de trabalhar para se dedicar a alguma atividade como um mestrado, por exemplo”, explica Barcelos.

Ela esclarece que, exatamente em razão disso, não é possível afirmar se a queda na desocupação ocorre porque ficou mais fácil as pessoas conseguirem emprego. “As pessoas podem simplesmente ter parado de procurar trabalho e foram para fora da força. O que se pode afirmar, com certeza, é que há menos gente em busca de uma oportunidade no mercado”, aponta.

Trabalho sem carteira assinada tem crescimento

Para Juliana Bacelar, não há perspectivas de mudanças bruscas no curto prazo, mas os dados do ano passado para cá podem indicar para um ambiente de melhoras. “Há uma tendência de recuperação e um sinal de retomada do mercado de trabalho, que foi muito afetado com a pandemia. Em 2023, os números, aparentemente, demonstram mais vitalidade, já que tem uma uma tendência maior de desaceleração da taxa de desemprego, que é muito importante”, afirma.

A grande questão, segundo ela, é que a precarização do emprego deve continuar. “O dado deste segundo trimestre é bem positivo, com a taxa de desemprego voltando a patamares baixos, igual ao mínimo histórico da PNAD Contínua, registrado no terceiro trimestre de 2013. Mas isso parece não significar a reversão do trabalho precário. No País, quem está puxando o mercado é a ocupação sem carteira assinada no setor privado e o emprego doméstico. No RN o trabalho doméstico não cresceu, mas o emprego público, com e sem carteira, está em alta, além do setor privado”, analisa.

“Esse crescimento do trabalho sem carteira reforça a tendência de um mercado que ainda tem precarização. Isso é um sinal de alerta, mesmo em meio aos sinais positivos de desempenho do mercado”, completa a pesquisadora, ao descrever sobre os fatores que têm contribuído para melhorar o cenário ocupacional do Estado. “Há um processo de retomada da atividade econômica, queda da inflação e do preço dos alimentos, que amplia espaço para o consumo, e a expansão dos programas sociais, que gera um impacto positivo nas regiões mais pobres, também por causa do aumento do consumo nessas áreas”.

Além disso, aponta a professora, há uma retomada da política do salário mínimo. Outras ações, no entanto, podem ser adotadas para melhorar o mercado. “Um fator que poderia contribuir para uma melhora mais constante e significativa seria a ampliação dos investimentos públicos, como o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], mas isso ainda está na agenda do Governo Federal.

No Estado, desocupação afeta mais as mulheres

As mulheres sofrem mais com o acesso ao mercado de trabalho, conforme os dados da Pnad Contínua. No segundo trimestre deste ano, elas somavam 77 mil (taxa de desocupação de 12,5%), enquanto os homens eram 75 mil (taxa de 8,6%). Elas também eram maioria fora da força de trabalho (882 mil), enquanto homens somavam 559 mil.

Por outro lado, a representação feminina na força de trabalho era de 41%; homens representavam 60,8%. Jéssica Jamily, de 24 anos, está desempregada há cinco meses e, desde então, busca uma recolocação no mercado. Na quarta-feira (26), ela foi à unidade do Sistema Nacional de Emprego (Sine), em Candelária, na zona Sul de Natal, para renovar o cadastro na expectativa de conseguir uma oportunidade.

“Meu último emprego foi como costureira, mas antes disso já trabalhei como vendedora e atendente. Além de costura, procuro algo na área de atendimento, operadora de caixa, camareira, enfim, vagas que se aproximam das experiências que eu tenho”, conta. Jamily iniciou, há três meses, um curso técnico de Enfermagem. Além da necessidade de ajudar em casa, ela conta estar em busca de recursos para arcar com os estudos.

“Lá em casa, somos três pessoas, mas somente meu pai, que é aposentado, tem renda. Não tem sido fácil conseguir emprego. Nesse período de buscas, fui chamada apenas para três entrevistas, mas não recebi retorno de nenhuma delas. No geral, acho que está difícil para todo mundo, mas acredito que para a mulher é mais complicado” comenta. Desde junho, Rosa Maria, de 53 anos, deixou a empresa onde trabalhou durante 26 anos. No último dia 26, ela decidiu ir ao Sine para fazer o cadastro e tentar uma nova vaga.

“Meu seguro acaba em dezembro, mas eu não quero esperar até lá. Trabalhei 23 anos como cobradora de ônibus, no entanto, com o fim da função, me tornei agente de portaria na mesma empresa, por três anos. Saí porque queria me tornar motorista, mas estou com problemas nos punhos e não ia conseguir entrar nessa área. Fiz um acordo com a empresa e agora busco vagas como atendente, experiência que já tive antes”, relata.

Para a professora e pesquisadora Juliana Bacelar, os impactos dessa dificuldade de acesso são variados, especialmente porque as mulheres têm assumido, mesmo em famílias tradicionais, a chefia da casa. “Isso tem acontecido tanto em núcleos monoparentais quanto, digamos, nas famílias tradicionais, o que afeta a composição da renda familiar”, descreve. Para Bacelar, os dados da Pnad são um reflexo da desigualdade existente no mercado de trabalho, permeada por diversos fatores.

“O machismo, a demora que a mulher encarou para entrar no mercado, o patriarcado que reforça essa lógica e fatores familiares estão entre os aspectos que levam a esse cenário. A mulher costuma ser mais a cuidadora. Na pandemia, vários estudos mostraram que elas saíram mais do trabalho para ficar com os parentes idosos ou os filhos, porque as escolas estavam fechadas. Além disso, tem a discriminação e o fato de as mulheres ainda ganharem menos do que os homens, mesmo com melhor formação”, sublinha.

Juliana Barcelos pontua que políticas públicas e de mercado são fundamentais para mudar esse quadro. “Somente um conjunto de políticas vai mudar isso, como a redução da desigualdade de rendimentos, o aumento das mulheres em cargos de chefia e liderança, bem como políticas públicas como creche em tempo integral, melhoria do transporte público para que as mulheres se desloquem mais rápido e tenham mais tempo para o lazer, dentre outras”.

Ocupação e desocupação no RN
(2º trimestre)

2022
Ocupação

  • 1.377.000 pessoas ocupadas
  • Nível de ocupação: 47,5%

Desocupação

  • 188 mil pessoas desocupadas
  • Taxa: 12,1%

2023
Ocupação

  • 1.330.000 pessoas ocupadas
  • Nível de ocupação: 45,5%

Desocupação

  • 152 mil pessoas desocupadas
  • Taxa: 10,2%

 

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