Tribuna do Norte
Dezenas de pessoas ocupando corredores, em macas
improvisadas como leitos de internação, à espera de uma cirurgia, que pode
levar dias sem previsão para acontecer. Embora não seja novidade, essa é a
situação atual do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. De acordo com a direção
da unidade, o recente aumento de pacientes internados nessas condições se deu
por problemas nos três autoclaves (aparelhos utilizados para esterilizar
materiais e artigos médico-hospitalares) do hospital. Um deles voltou a
funcionar nessa quinta (22), junto com a retomada das cirurgias eletivas, que
estavam suspensas desde o início da semana. O volume de procedimentos represados
no período deve ser sanado em uma semana, segundo a direção.
Por causa da suspensão das cirurgias eletivas
ortopédicas, cerca de 40 pacientes estavam internados em macas nos corredores
do Walfredo Gurgel até o fim da manhã dessa quinta-feira (22), segundo levantamento
do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Saúde do Rio Grande do Norte
(Sindsaúde-RN).
Uma das pessoas nessas condições é a idosa Joaquina
de Medeiros, 84 anos. Ela fraturou o úmero (osso do braço) há 20 dias, quando
caminhava na rua da frente de casa, no bairro de Cidade Alta, zona Leste de
Natal. A idosa faz questão de registrar que é bem atendida pelos profissionais,
mas diz que aguarda o quanto antes a realização da cirurgia para poder sair do
hospital.
"Anteontem [terça-feira] era um horror isso
daqui, hoje [quinta-feira] está até vago esse corredor", disse ela.
"Eu sou prioridade, eu tenho 84 anos, mas tem gente aí com 90, 92, 96
anos. Quer dizer, tem prioridade ainda maior do que a minha, mas graças a Deus
está dando para levar", finalizou a paciente.
Luiz André de Pádua, 36 anos, está há duas semanas
com o braço quebrado e aguardando cirurgia em uma maca no corredor do hospital.
Ele sofreu um acidente enquanto trabalhava na feira de Lagoa Seca, também na
zona Leste Natal, quando escorregou e caiu por cima do braço. De lá para cá
foram feitos exames e aplicadas as medicações para aliviar a dor, mas que
continuam incomodando.
"Eu já perguntei como vai ser a cirurgia,
quando vou fazer e até agora nada, não tem previsão. Estou internado esse tempo
todinho e não posso nem sair. Eu estava até falando com a minha esposa que
daqui a pouco, de uma hora para outra, eu vou embora. Não vou ficar esperando
uma situação dessa, só sentindo dor e tomando medicamento", afirmou Luiz
de Paula.
Além dos pacientes, a angústia pela demora também é
dos acompanhantes. Maria da Piedade, 38 anos, acompanha a ex-sogra Maria de
Lourdes Oliveira, 70 anos, desde segunda-feira (19), quando a idosa sofreu um
acidente doméstico e quebrou o fêmur. Durante o período, a ex-nora teve de ir
em casa, na cidade de Nísia Floresta, na Grande Natal, e precisou pagar R$ 100
a uma pessoa para que ficasse ao lado da paciente.
"É desumano aqui, ela fica no corredor e não
tem nem previsão. Ela reclama de muita dor, está toda roxa o lado da perna
dela. Está desde segunda assim, fez o exame, mas nos disseram que não tem
previsão e está no sistema", relata a acompanhante.
Cirurgias no período noturno para
diminuir fila
O diretor-geral do Walfredo Gurgel, Tadeu Alencar,
disse à reportagem da TRIBUNA DO NORTE que os corredores do hospital voltaram a
lotar nesta semana depois de quatro meses por uma "fatalidade". Para
desafogar a fila, o plantão noturno de cirurgias eletivas vai ser aberto
extraordinariamente nos próximos dias.
"A gente tem três máquinas autoclaves
justamente para se uma quebrar ter outras duas funcionando, mas quebrar três de
uma vez foi uma fatalidade. E essas empresas são de fora, tem que vir técnico
do Rio ou de São Paulo para cá, aí falta uma peça, não é simples não. Pelo
menos uma já voltou a funcionar, é o que a gente conseguiu para voltar as
cirurgias, torcendo para não quebrar", disse Tadeu Alencar. Os outros dois
autoclaves quebrados devem estar consertados até esta sexta-feira (23), segundo
ele.
O presidente do Sindicato dos Médicos (Sinmed-RN),
Geraldo Ferreira, alegou à TRIBUNA DO NORTE que a superlotação do Walfredo
Gurgel nesta semana também era fruto da demanda absorvida do interior do
Estado, do atraso de pagamentos às cooperativas médicas e da redução de
procedimentos contratados ao setor privado. O diretor-geral do hospital negou
as hipóteses.
As cirurgias eletivas à noite na unidade voltaram a
ser realizadas após cerca de um mês que o hospital havia retirado os
procedimentos do horário. Atualmente, esses serviços são prestados de
segunda-feira a sábado, nos turnos matutino e vespertino.
"Eram poucas cirurgias à noite e no domingo também,
mas isso não impactou em nada os nossos corredores. A gente tirou porque já não
havia mais necessidade e voltamos agora no intuito de ajudar as cirurgias que
não foram feitas segunda e terça-feira. O número total de cirurgias do hospital
não diminuiu, o que reduziu foi o número de cirurgias da terceirizada. Agora, o
próprio hospital conseguiu absorver a demanda e não precisou mais da empresa
terceirizada", declarou Tadeu Alencar.
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