O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho
acusou o atual mandatário do estado, Cláudio Castro, e o ex-presidente da Alerj
Rodrigo Bacellar de comandarem organizações criminosas no estado. As
declarações foram feitas à CPI do Crime Organizado nesta terça-feira (16),
mesmo dia em que a Polícia Federal cumpriu mandados contra Bacellar.
"O Rodrigo Bacellar e o governador montaram
duas organizações criminosas. Uma na Assembleia Legislativa e outra no
governo", afirmou. Segundo Garotinho, o esquema envolveria desvio
sistemático de recursos públicos em contratos nas secretarias e mecanismos como
incentivos fiscais e negócios regulados pelo governo.
Ao ser questionado pelo relator, senador Alessandro
Vieira (MDB-SE), sobre a estrutura dessas organizações, Garotinho apontou
Bacellar como o chefe do grupo na Alerj e Cláudio Castro como líder no
Executivo. Abaixo deles, citou deputados estaduais que integrariam a chamada
“tropa do Bacellar” e, no governo, um núcleo apelidado de “turma do charuto”,
formado por secretários e aliados políticos.
Segundo o ex-governador, a falta de experiência
administrativa de Castro teria levado à terceirização do poder, transformando
cada secretaria em um “feudo” voltado à obtenção de lucro para grupos
específicos.
Garotinho disse que haveria uma lista de 47
deputados estaduais que receberiam mesadas, informação que, segundo ele,
estaria registrada em três celulares apreendidos na casa de Rui Bulhões, chefe
de gabinete do presidente afastado da Alerj. Ele foi um dos alvos de busca e
apreensão na segunda etapa da Operação Unha e Carne, nesta terça.
“Captura do dinheiro”
Garotinho detalhou ainda o que chamou de “captura do
dinheiro”, afirmando que a arrecadação ilegal não ocorreria prioritariamente
por meio de emendas parlamentares, mas por fraudes em contratos públicos.
Também citou incentivos fiscais e autorizações administrativas que, segundo
ele, só seriam concedidos mediante pagamento de propina.
"O cara quer botar gás no posto de
gasolina, tem que pagar R$ 500 mil. Se não pagar R$ 500 mil, não autoriza, não
tem licença para botar", afirmou.
No caso do Executivo estadual, Garotinho afirmou que
o esquema envolveria secretarias e grandes negócios, especialmente nas áreas de
energia, combustíveis e incentivos fiscais. Ele comparou a atual situação à do
governo Sérgio Cabral, dizendo que, proporcionalmente, os desvios seriam tão
graves quanto, ou até piores. Cabral foi preso por participar de um esquema de
propina que desviou milhões dos cofres estaduais.
"Eles só não estão roubando mais do que o
Cabral porque, na época do Cabral, tinha a Copa do Mundo, tinha a Olimpíada,
tinha muitas obras do PAC, mas em proporção é uma coisa impressionante. Se
tiver uma investigação séria, vai faltar cadeia para autoridade",
disse.
Ligação com o Comando Vermelho
O ex-governador citou episódios que, segundo ele,
mostrariam ligações entre agentes públicos e criminosos, como a ordem do
Comando Vermelho para “segurar sete dias sem guerras e roubos” durante a
reunião do G20 no Rio, em fevereiro do ano passado. Anthony Garotinho também
denunciou supostas irregularidades na administração penitenciária do Rio de
Janeiro, apontando os presídios como “escritórios do Comando Vermelho”.
Segundo Garotinho, a facção teria crescido nos
últimos anos, durante a gestão Castro.
"Esses fatos me levaram a uma convicção: havia
um acordo claro entre as autoridades estaduais e o Comando Vermelho. Aí eu quis
traduzir isso em número. E, pasmem os senhores, o Comando Vermelho, além de
recuperar todas as áreas que ele havia perdido, conquistou áreas que eram da
milícia. Jacarepaguá, por exemplo, era uma área totalmente dominada pela
milícia. Hoje, você tem metade milícia, metade Comando Vermelho, em combates
sangrentos".
Fonte: Agência Senado

Nenhum comentário:
Postar um comentário