Luiz Inácio Lula da Silva tem 80 anos e está em seu
terceiro mandato presidencial. Logo, ninguém pode se dizer surpreso. Nunca
houve razão para crer que Lula, mesmo com a idade avançada e a experiência,
tivesse aprendido com seus inúmeros erros e pudesse ser um presidente melhor.
Pelo contrário: como bom petista, Lula nunca erra. Por isso, insiste em
projetos que já resultaram em imensos prejuízos para o País, na expectativa de
que o resultado desta vez seja diferente.
Diz a sabedoria popular que isso é sinônimo de
insanidade, mas Lula de louco não tem nada. Sua missão, desde que saiu da
cadeia por uma canetada do Supremo Tribunal Federal, é reescrever a História,
para que toda a saga de corrupção, desmandos e incompetência do PT no poder se
transforme numa fábula de superação, prosperidade e justiça contra todos os
que, na visão de Lula, sabotaram o Brasil ao se opor aos petistas.
Tome-se o exemplo da Petrobras. Há poucos dias, em
cerimônia para o anúncio de obras de ampliação da Refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco, Lula declarou que, durante muitos anos, dizia-se que aquele projeto
era desnecessário. Segundo sua versão, seus adversários afirmavam que “a
Petrobras não precisava de uma nova refinaria” e que “isso aqui era um processo
de corrupção que envolvia a Petrobras, governo e empreiteiros”. E completou: “E
muitos de vocês acreditaram, porque a imprensa falava disso de manhã, de tarde
e de noite”.
Ou seja, Lula quer fazer o País acreditar que a
Petrobras não foi tomada de assalto por uma quadrilha de corruptos ao longo dos
governos petistas. Foi explícito: “Eles conseguiram criar como se fosse uma
peste nas pessoas da Petrobras dizendo que havia corrupção. E a História vai
provar que quem queria fazer a corrupção eram aqueles que diziam que tinha
corrupção na Petrobras”.
O problema da versão de Lula é que ela não
corresponde aos fatos, amplamente documentados. Do extenso cardápio de
exemplos, tomemos o caso da própria Refinaria Abreu e Lima. Há exatos 20 anos,
no lançamento da pedra fundamental da refinaria, Lula estava eufórico: a obra
seria o símbolo da sociedade entre o Brasil petista e a Venezuela chavista, no
escopo do “socialismo do século 21” então em voga na América Latina. O caudilho
Hugo Chávez prometeu colocar o dinheiro da PDVSA, a estatal de petróleo
venezuelana, no negócio, mas não pôs um único bolívar na refinaria, deixando
todo o custo galopante para a Petrobras.
Não foi por falta de aviso. Na “sociedade” para a
construção da refinaria, como alertou na ocasião o Tribunal de Contas da União,
as responsabilidades da PDVSA nunca ficaram estabelecidas, ainda que o objetivo
fosse refinar também o petróleo venezuelano – que, por ser de baixa qualidade,
encareceu ainda mais o empreendimento. A escalada do custo foi brutal: orçada
inicialmente entre US$ 2,3 bilhões e US$ 2,5 bilhões (ao câmbio atual, entre R$
12,2 bilhões e R$ 13,3 bilhões), a obra consumiu cerca de US$ 18,5 bilhões (que
hoje correspondem a mais de R$ 98 bilhões) e chegou a ser citada como a
refinaria mais cara do mundo. Agora, para duplicar a capacidade, sugará mais R$
12 bilhões, conforme a estimativa original.
São gastos que não se justificavam na época, a não
ser como parte do projeto político de Lula e Chávez de usar as estatais de
petróleo como poderosas alavancas populistas. Na Venezuela, como se sabe, o
chavismo exauriu a PDVSA. No Brasil, felizmente, o governo petista caiu antes
de destruir completamente a Petrobras, que se tornara então a empresa de
petróleo mais endividada do mundo. Sob direção mais racional, a estatal reviu
investimentos absurdos e saneou seu balanço.
Mas, para azar do Brasil, Lula voltou ao poder e
está mais determinado do que nunca em converter a Petrobras em financiadora de
sua megalomania demagógica. Já sabemos como isso acaba. A corrupção na
Petrobras na época do petrolão não foi a causa da derrocada da empresa, mas a
consequência lógica do gigantismo de projetos sem sentido, que criaram um
oceano de oportunidades para a rapinagem. Preferir a versão de Lula aos fatos
não é muito inteligente.
Opinião do Estadão

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