Após três dias de julgamento, o Tribunal do Júri
em Natal absolveu,
na sexta-feira (12), o brasileiro Alexsandro
Nascimento da Silva, de 28 anos, acusado de matar o francês Serge Albert
Pierre Yves Claude, de 56 anos, com quem teve um relacionamento.
A morte do francês aconteceu em Lisboa,
capital de Portugal, em 2019. O réu respondia pelos crimes de homicídio
qualificado, ocultação de cadáver e furto qualificado, que poderiam resultar em
até 41 anos de prisão, caso fosse condenado. A decisão dos jurados foi pela
absolvição de todas as acusações.
“Foi um alívio. Um alívio enorme. Saber que foi
provado que tudo o que eu falava era verdade. Passei anos sendo acusado por
algo que não fiz, só por ser brasileiro”, afirmou ao g1.
Alexsandro era réu primário e respondia ao processo
em liberdade. A decisão do júri formado por sete pessoas foi confirmada em
sentença assinada na noite de sexta-feira (12) pela juíza federal Lianne Motta.
Acusação teve origem em investigação
portuguesa
O caso chegou à Justiça brasileira após um pedido de
cooperação jurídica internacional feito pelo Ministério Público de
Portugal. A
denúncia no Brasil foi formalizada em agosto de 2024 pelo Ministério Público
Federal (MPF) no Rio Grande do Norte.
Segundo a acusação, o francês teria sido morto por
asfixia dentro da casa onde morava, em Lisboa, e o corpo foi encontrado dias
depois, escondido em uma despensa.
A investigação apontava Alexsandro como autor do
crime e dizia que ele teria vendido bens da vítima, incluindo um relógio Rolex,
e fugido para Natal.
Defesa apontou xenofobia e falhas na
investigação
Durante o julgamento, a defesa realizada pelo
advogado dativo Rodrigo Galvão e pelos defensores públicos federais Eduardo
Oiveira e Fernanda Evlaine sustentou que Alexsandro foi vítima de xenofobia e
racismo, além de falhas graves na investigação conduzida em Portugal.
Fernanda Evlaine afirmou que a polícia portuguesa
adotou uma linha única de investigação e descartou outros elementos relevantes
durante as apurações policiais.
“Ele foi vítima de uma xenofobia, de um racismo. Um
homem brasileiro, negro, pobre, que acabou se tornando o elo mais fraco da
relação. A polícia fechou nele como suspeito e ignorou outras linhas de
investigação”, disse a defensora.
Segundo a defesa, a acusação não tinha prova direta
da autoria do crime. Dados de GPS do celular do acusado indicariam que ele não
estava na casa da vítima no momento estimado da morte e outros elementos que
não apontavam para Alexsandro teriam sido ignorados.
“Houve o que chamamos de ‘visão de túnel’, quando a
polícia foca em um único suspeito e descarta tudo que não leva a ele”, explicou
Fernanda Evlaine.
A defensora também destacou que o relógio Rolex
citado na denúncia teria sido presente dado pela vítima ao então companheiro e
vendido para custear a passagem de volta ao Brasil, quando a mãe de Alexsandro
enfrentava um tratamento contra o câncer.
Réu diz que sofreu preconceito
Em entrevista ao g1, Alexsandro afirmou
que viveu anos de sofrimento por ser acusado de um crime que não cometeu.
Ele contou que trabalhava desde os 13 anos de idade
e tinha ido para Portugal para tentar melhores condições de vida para a
família, especialmente para a sua mãe, que já tinha diagnóstico de câncer de
pulmão.
Na Europa, onde trabalhou como auxiliar de cozinha e
de entregas, ele conheceu Serge Albert, com quem teve um relacionamento rápido.
"Foi um relacionamento de poucos meses. Mas
mesmo depois, continuamos amigos. Por sermos estrangeiros, tínhamos um ao outro
para conversar", afirmou.
Segundo Alexsandro, o francês gostava de
presenteá-lo, algumas vezes com presentes caros. Ele afirma que se arrepende de
ter recebido alguns desses presentes, que o colocaram como suspeito do crime.
"Hoje me arrependo de ter aceitado, porque
passei tudo isso por ter aceitado um presente muito caro, sabe? Ele era muito
muito apaixonado por mim, querendo me agradar. Pensam que eu o queria por
interesse, mas não", diz.
Menos de um ano após chegar a Portugal, Alexsandro
conta que deixou o país e voltou ao Brasil para acompanhar sua mãe, que havia
recebido o diagnóstico de agravamento da doença, com metástase.
Ele só soube da morte do ex-namorado já no Brasil,
quando a polícia portuguesa o procusou no imóvel que dividia com outras pessoas
na Europa.
O jovem conta que sofreu preconceito no país
europeu, por ser brasileiro, e acredita que essa foi uma das motivações de ter
sido apontado como autor do crime.
“A gente é muito mal visto lá. Chamam brasileiro de
enganador, de bandido. Teve lugar que eu evitava até falar que era brasileiro”,
disse.
“Meu pai ficou sem comer, emagreceu muito. Ver minha
foto na TV sendo chamado de assassino doeu demais”, lembrou.
A mãe dele morreu em 2020. Atualmente, Alexsandro
trabalha como auxiliar de cozinha em um restaurante na ilha de Fernando de
Noronha e pretende reconstruir a vida sem o peso da acusação.

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