A esquerda não aceita o fato de que a maioria dos
brasileiros aprova a megaoperação policial nos Complexos da Penha e do Alemão,
no Rio de Janeiro. Que a maioria dos brasileiros gosta de polícia que age como
polícia.
Entre perplexos e indignados diante das pesquisas,
petistas ancoram-se em sociólogos, que repisam a meia verdade de que é a falta
de oportunidades a alimentar a criminalidade, e em especialistas em segurança,
alguns bem supostos, que acusam o governador Cláudio Castro e a polícia carioca
de ter matado traficantes para favorecer as milícias.
Alguns se voltam contra as próprias pesquisas e
perguntam, sem corar de vergonha, se os entrevistados realmente entenderam as
perguntas que lhes foram formuladas pelos pesquisadores, como aquela sobre
enquadrar facção criminosa como organização terrorista (72% dos cariocas
aprovam).
Há também a preocupação mais comezinha e vergonhosa:
a eleitoral. O governo petista vem plantando notas na imprensa para dizer que a
popularidade de Cláudio Castro é momentânea, que a popularidade de Lula não
diminuiu ainda mais e que a aprovação à megaoperação será revertida com o
tempo.
O que a esquerda teria de enxergar é que os
brasileiros chegaram ao limite de tolerância com a criminalidade (e,
convenhamos, ele é largo) e que não há política de prevenção ao crime mais
efetiva do que a punição — e, no sentido inverso, não há maior estímulo do que
a impunidade. Ninguém precisa aplaudir um Bukele ou achar que bandido bom é
bandido morto para ver a obviedade.
Se visse o óbvio, porém, a esquerda não seria
esquerda. Negar aspectos da realidade que contradizem a sua ideologia, e eles
são muitos, talvez quase todos, é inerente ao seu pensamento autoritário. Já no
pensamento autoritário de direita, a inerência é amplificar ao máximo os
aspectos da realidade que reforçam o seu ideário. Entre as duas visões de
mundo, vamos combinar: bandido bom não resiste a voz de prisão, bandido bom é
bandido preso.
Mario Sabino - Metrópoles

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