O Tesouro Nacional voltou a acender o alerta fiscal
sobre o Rio Grande do Norte. De acordo com o Relatório de Gestão Fiscal em Foco
– 2º quadrimestre de 2025, divulgado neste mês de outubro, o Estado destinou
cerca de 70% de toda a sua arrecadação líquida para pagar salários de
servidores e cobrir o déficit da previdência. Proporcionalmente, a despesa
apenas com pessoal mantém o Rio Grande do Norte com maior comprometimento da
receita (55,73%) e o único acima do limite máximo de 49% fixado pela Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF). Apenas Minas Gerais (48,52%) e Rio Grande do Sul
(42,54%) se aproximam desse patamar, mas ainda dentro do limite.
O dado reforça o quadro de rigidez orçamentária que
limita a capacidade de investimento e compromete a execução de políticas
públicas. A Receita Corrente Líquida (RCL) do RN no período foi de R$ 18,62
bilhões. Segundo o levantamento, a despesa com pessoal do Poder Executivo
estadual somou R$ 10,38 bilhões. O relatório mostra que, além dos gastos com a
folha, o governo precisou transferir R$ 2,68 bilhões do Tesouro Estadual para cobrir
o déficit do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS). Esse repasse extra é
o reflexo do déficit estrutural do RPPS, que cresce ano a ano devido ao
envelhecimento do quadro de servidores e à baixa reposição de novos
contribuintes.
“O aumento das despesas com pessoal e previdência
reduz o espaço orçamentário para investimentos e políticas públicas,
comprometendo o desempenho fiscal futuro”, ressalta o documento. Outros R$ 3,72
bilhões foram pagos com receitas próprias do sistema previdenciário, provenientes
das contribuições de servidores e da parte patronal. O total de desembolsos com
inativos e pensionistas chegou a R$ 6,4 bilhões.
Na prática, isso significa que de cada R$ 100
arrecadados pelo Estado, cerca de R$ 70 são consumidos apenas com pessoal ativo
e aposentadorias/pensões. Com o peso crescente da folha e da previdência, sobra
menos de 30% da arrecadação para custear áreas como saúde, segurança,
infraestrutura e educação. O relatório do Tesouro alerta que esse nível de
comprometimento “reduz significativamente a capacidade do ente de realizar
investimentos e prestar serviços públicos essenciais”.
O economista e professor da UFRN, Zivanilson Silva,
alerta que é preciso melhorar a arrecadação, visto que para manter os serviços
públicos, é necessário haver servidores. “Tem que procurar arrecadar mais,
justamente para ter dinheiro suficiente para cobrir as despesas, inclusive os
investimentos. Não tem como reduzir salários, por exemplo. E as aposentadorias
tendem a aumentar”, reforça.
No comparativo com o quadrimestre anterior, o
percentual de comprometimento foi reduzido, mas se manteve elevado. De janeiro
a abril o Executivo estava com 56,01% da RCL comprometida com despesa de
pessoal.
O economista ressalta que reajustes salariais e
progressões nas carreiras consequentemente aumentam o gasto com a folha. “A
gente sabe que são direitos adquiridos e ainda há diferenças grandes nos
percentuais e aumentos das diferentes categorias, mas os funcionários recebem
reajustes no mínimo, pela inflação ou pode resultar em greves que paralisam os
serviços. Então é preciso haver gestão, especialmente financeira”, pontua
Silva.
O documento traz ainda os valores totais de
precatórios — dívidas judiciais reconhecidas — em relação à RCL, colocando o RN
como o segundo estado com maior comprometimento (25%), atrás apenas do Rio
Grande do Sul (27%). Paraíba (22%) e Bahia (17%) aparecem na sequência do RN.
Esses passivos, muitos deles acumulados em exercícios anteriores, representam
pressão adicional sobre o caixa estadual, uma vez que os pagamentos
obrigatórios reduzem o espaço para investimentos e novos gastos.
Até o quadrimestre, os Estados do Amapá (0%), Mato
Grosso do Sul (0%) e o Espírito Santo (1%) registraram comprometimento próximo
ou menor que 1% nesse tipo de dívida.
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