A resistência de bancos ao empréstimo de R$ 20
bilhões para ajudar os Correios a tirar o pé da lama é compreensível. Afinal,
pelo que foi apresentado até agora, a operação de socorro desafogaria
temporariamente a empresa, mas nada garante que não retornaria ao atoleiro logo
adiante, já que, até então, não se tem conhecimento de um plano de recuperação
capaz de mudar o rumo da companhia, que caminha a passos largos para a
insolvência.
A crise da estatal chegou a tal ponto que é possível
imaginar que seria difícil atrair investidores até para uma venda por valor
simbólico – o que é juridicamente questionável. Em caso de liquidação, pelas
demonstrações de junho, se a empresa convertesse em dinheiro todos os bens
disponíveis em um ano (ativo circulante, de R$ 3,8 bilhões), teria o suficiente
para pagar apenas um terço das dívidas que vencem no mesmo período (passivo
circulante, de R$ 9,4 bilhões).
O prejuízo gigantesco, de R$ 4,4 bilhões no primeiro
semestre, como se sabe, é 70% superior ao rombo do ano passado inteiro. Pior do
que a situação financeira insustentável, no entanto, é a falta de transparência
do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para encarar o problema. Não
são apresentados, com o comprometimento que a questão merece, os detalhes que
levaram ao rombo bilionário e tampouco a proposta para tirar a companhia do
buraco.
Quando surgiram as primeiras notícias do eventual
aporte de recursos com garantia do Tesouro Nacional – ou seja, com o dinheiro
do contribuinte –, a crise dos Correios foi vagamente atribuída à “taxa das
blusinhas”, em referência à taxação de artigos importados de baixo valor, e à
obrigação de entregar cartas nos lugares mais remotos do País. Ainda que ambos
os fatores pesem sobre os custos, conferir a eles o colapso da empresa é fazer
troça da inteligência alheia.
Somando-se a isso o fato de que o empréstimo
bilionário se destinaria basicamente às despesas operacionais corriqueiras,
como salários e fornecedores, por dois anos, é fácil entender a desconfiança
dos bancos. Não se reestrutura uma empresa apenas financiando capital de giro
no curto prazo. E, como admitiu o novo presidente dos Correios, Emmanoel
Schmidt Rondon, há cerca de um mês no cargo, a companhia não tem capacidade
hoje nem para pagar o Plano de Demissão Voluntária (PDV), que teve adesão de
3.705 funcionários em 2024.
Como mostrou reportagem recente do Estadão, os
bancos que estudam o balanço dos Correios para avaliar a concessão do socorro
financeiro chegaram à conclusão de que são inúmeras e urgentes as fontes de
problemas, desde o peso da folha de pagamentos até o elevado passivo trabalhista,
passando pela formação irregular do estoque.
Como já dissemos neste espaço, os Correios há muitos
anos viraram um cabide de empregos, um manancial de cargos que, pela
abrangência da empresa no território nacional, ganhou enorme importância em
negociações politiqueiras. É o que está por trás da relutância em privatizar.
Mas não adianta injetar dinheiro em uma companhia mal gerida – e os bancos
sabem disso melhor do que ninguém.
Opinião do Estadão
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