quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Opinião do Estadão: Todos temem socorrer os Correios

 


A resistência de bancos ao empréstimo de R$ 20 bilhões para ajudar os Correios a tirar o pé da lama é compreensível. Afinal, pelo que foi apresentado até agora, a operação de socorro desafogaria temporariamente a empresa, mas nada garante que não retornaria ao atoleiro logo adiante, já que, até então, não se tem conhecimento de um plano de recuperação capaz de mudar o rumo da companhia, que caminha a passos largos para a insolvência.

A crise da estatal chegou a tal ponto que é possível imaginar que seria difícil atrair investidores até para uma venda por valor simbólico – o que é juridicamente questionável. Em caso de liquidação, pelas demonstrações de junho, se a empresa convertesse em dinheiro todos os bens disponíveis em um ano (ativo circulante, de R$ 3,8 bilhões), teria o suficiente para pagar apenas um terço das dívidas que vencem no mesmo período (passivo circulante, de R$ 9,4 bilhões).

O prejuízo gigantesco, de R$ 4,4 bilhões no primeiro semestre, como se sabe, é 70% superior ao rombo do ano passado inteiro. Pior do que a situação financeira insustentável, no entanto, é a falta de transparência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para encarar o problema. Não são apresentados, com o comprometimento que a questão merece, os detalhes que levaram ao rombo bilionário e tampouco a proposta para tirar a companhia do buraco.

Quando surgiram as primeiras notícias do eventual aporte de recursos com garantia do Tesouro Nacional – ou seja, com o dinheiro do contribuinte –, a crise dos Correios foi vagamente atribuída à “taxa das blusinhas”, em referência à taxação de artigos importados de baixo valor, e à obrigação de entregar cartas nos lugares mais remotos do País. Ainda que ambos os fatores pesem sobre os custos, conferir a eles o colapso da empresa é fazer troça da inteligência alheia.

Somando-se a isso o fato de que o empréstimo bilionário se destinaria basicamente às despesas operacionais corriqueiras, como salários e fornecedores, por dois anos, é fácil entender a desconfiança dos bancos. Não se reestrutura uma empresa apenas financiando capital de giro no curto prazo. E, como admitiu o novo presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, há cerca de um mês no cargo, a companhia não tem capacidade hoje nem para pagar o Plano de Demissão Voluntária (PDV), que teve adesão de 3.705 funcionários em 2024.

Como mostrou reportagem recente do Estadão, os bancos que estudam o balanço dos Correios para avaliar a concessão do socorro financeiro chegaram à conclusão de que são inúmeras e urgentes as fontes de problemas, desde o peso da folha de pagamentos até o elevado passivo trabalhista, passando pela formação irregular do estoque.

Como já dissemos neste espaço, os Correios há muitos anos viraram um cabide de empregos, um manancial de cargos que, pela abrangência da empresa no território nacional, ganhou enorme importância em negociações politiqueiras. É o que está por trás da relutância em privatizar. Mas não adianta injetar dinheiro em uma companhia mal gerida – e os bancos sabem disso melhor do que ninguém.

Opinião do Estadão

 

 

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