segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Opinião do Estadão: Lula teve uma ideia (FANFARRONICE DE LULA)

 


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do Fórum Mundial da Alimentação, em Roma, onde pôde mais uma vez transformar a redução da fome em peça de propaganda – agora em escala global. Ressaltando a saída do Brasil do Mapa da Fome, anunciada em julho pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o petista declarou: “A fome é irmã da guerra”.

Além de mencionar os conflitos armados, que “desorganizam cadeias de insumos e alimentos”, Lula denunciou o egoísmo das potências econômicas, associou o problema às “barreiras e políticas protecionistas de países ricos” que “desestruturam a produção agrícola no mundo em desenvolvimento” e exibiu o Brasil governado pelo PT como exemplo de superação moral e política.

O discurso, repleto de indignação e metáforas grandiosas, foi recebido com aplausos. Mas o melhor ainda estava por vir: Lula sugeriu a cobrança de um “imposto global” de 2% em cima dos “super-ricos”. Em suas contas, bastariam US$ 315 bilhões para que todos os famintos do mundo pudessem fazer três refeições por dia.

O que Lula não contou à embevecida plateia é que o Brasil já gasta cerca de 15% desse valor por ano em Bolsa Família e em Benefício de Prestação Continuada, e, no entanto, a despeito dessa dinheirama, e mesmo tendo o equivalente a apenas 3% da população total dos países em desenvolvimento, ainda enfrenta insegurança alimentar, como mostrou recentemente o IBGE.

Os dados indicam que 24,2% dos domicílios brasileiros conviviam com algum grau de insegurança alimentar em 2024. Houve queda em relação aos 27,6% de 2023, mas mesmo assim segue sendo um número muito alto para um país que investe tanto em assistencialismo. E tudo isso mesmo com o PT na Presidência em 16 dos últimos 22 anos. Eis então que a fórmula proposta por Lula para acabar com a fome no mundo não funciona nem no Brasil que ele governa.

O máximo que os governos petistas conseguiram foi estabelecer uma miríade de benefícios sociais que se prestam a apenas mitigar um problema que só será resolvido quando houver reformas profundas, capazes de reduzir o imenso custo de produzir no Brasil, gerando riqueza e oportunidades para todos. E isso, obviamente, Lula e os petistas jamais farão.

Donde se conclui que o propósito do discurso de Lula não era lançar propostas concretas e factíveis para enfrentar o problema da fome no mundo, e sim vilanizar os ricos, eleitos pelo presidente como inimigos do povo brasileiro – e mundial. Esse, como sabemos, deverá ser seu mote na campanha à reeleição no ano que vem. Recorde-se que, recentemente, depois que o Congresso derrotou, de forma acachapante, a tentativa do governo de aumentar impostos para cobrir o rombo fiscal, Lula saiu a declarar que “uma parte do Congresso Nacional votou contra a taxação que a gente queria fazer dos bilionários deste País, daqueles que ganham muito e pagam pouco”.

Ademais, é fácil discursar sobre a fome em Roma. Difícil é combatê-la na pobreza amazônica de Roraima, nos becos de Manaus, no sertão do Piauí e nas favelas do Rio de Janeiro ou outras metrópoles. Lula levou à Itália o discurso moral, mas pouco disse sobre o colapso de condições internas que poderiam tornar o Brasil menos dependente da demagogia do governo de ocasião. Em vez de um diagnóstico estrutural, preferiu o teatro diplomático. A fome é de fato irmã da guerra, mas, antes de tudo, é filha da má gestão, da improvisação política e da dependência crônica do assistencialismo.

Enquanto isso, o Estado está quase completamente capturado por interesses privados, reduzindo de forma drástica sua capacidade de investimento público, necessário para melhorar a produtividade e impulsionar o desenvolvimento de forma sustentável. Aos pobres, por quem Lula diz se interessar, restam as migalhas, com as quais até é possível reduzir a fome, mas são insuficientes para fazer com que esse enorme contingente de brasileiros deixe finalmente de viver da mão para a boca.

Opinião do Estadão

 

 

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