Horas após o incêndio no reator de uma subestação do
Paraná deixar todas as regiões do País sem energia na madrugada do dia 14
passado, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, agiu como legítimo
representante de um governo petista: minimizou o problema e usou o caso para
fazer campanha eleitoral, ao comparar com apagões nos governos de Fernando
Henrique Cardoso e Jair Bolsonaro.
O incêndio ocorreu à 0h32 e, segundo a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o fornecimento de energia só foi
integralmente restabelecido no País por volta das 3h. O tempo de interrupção
variou por região, mas, se tivesse ocorrido em horário de pico, os prejuízos
seriam mais drásticos. Não foram, e a isso Silveira aferrou-se para declarar,
no programa de rádio Bom Dia, Ministro, da rede oficial EBC, que “o dano
foi pontual”, contido pela “robustez do sistema”.
Não é bem assim. É claro que mecanismos de segurança
foram acionados para cortar o fornecimento de eletricidade e evitar estragos
maiores, da mesma forma como um disjuntor desarma a corrente elétrica de uma
residência em caso de sobrecarga e evita curtos-circuitos. Mas foi uma questão
de sorte o acidente ter ocorrido em horário conhecido como “fora de ponta”,
quando a maioria das pessoas está dormindo ou em atividades de baixo consumo de
energia.
Ademais, o que se espera da confiabilidade de um
sistema nacional interligado, como o brasileiro, é que as consequências de um
evento regional fiquem isoladas àquela região. Muitos especialistas se disseram
surpresos com o fato de que um problema em apenas um reator desligou a usina
inteira e seguiu em efeito cascata com o desligamento total de linhas que
conectam usinas do Sul ao Sudeste, espalhando danos pelo Centro-Oeste, Norte e
Nordeste. E não foi a primeira vez. Em 2023, primeiro ano do terceiro mandato
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma falha em parques eólicos e solares
do Ceará deixou quase todo o País às escuras.
Mas o ministro Alexandre Silveira preferiu sair à
petista: ao invés de encarar o ocorrido com transparência, assumindo
responsabilidades e procurando firmar garantias de que episódios como esse não
irão mais acontecer, escolheu lembrar de apagões ocorridos em governos aos
quais o PT fazia oposição. “Quando se fala em apagão, a gente se sempre lembra
dos tristes episódios de 2001 e 2021, que na verdade aconteceram por falta de
energia e de planejamento. Hoje não. Hoje nós temos muita energia”, disse.
E foi além, argumentando que a população precisa
entender que hoje não há falta de energia, mas problemas na infraestrutura que
transmite a energia. Ora, falhas em transmissão ou distribuição, manutenção
deficiente ou produção insuficiente levam ao mesmo problema: cortes no
fornecimento de energia que, pela extensão, podem se traduzir em apagão. E
tudo, ao fim e ao cabo, é uma questão de gestão, seja qual for o partido no
poder.
Opinião do Estadão
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