Familiares de vítimas da ditadura militar recebem,
nesta quarta-feira (8), certidões de óbito retificadas, com a causa das mortes
oficialmente reconhecida como "morte não natural, violenta, causada pelo
Estado brasileiro". Uma das famílias é a do potiguar Virgílio
Gomes da Silva, morto no dia 29 de setembro de 1969, aos 36 anos.
A solenidade de entrega de Certidões de Óbito
Retificadas de vítimas da ditadura militar brasileira é realizada pela Comissão
Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) no Salão Nobre da Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Outras três famílias de potiguares estão aptas a
receber certidões retificadas, mas não devem participar do evento nesta quarta.
Os outros potiguares reconhecidos como vítimas da ditadura são:
- Emmanuel
Bezerra dos Santos
- Hiram
de Lima Pereira
- Zoé
Lucas de Brito Filho
O bancário Gregório Gomes da Silva, de 57 anos, é
filho de Virgílio e tinha apenas dois anos quando o pai desapareceu. Embora a
família saiba em que cemitério ele tenha sido enterrado pelo regime, o corpo
nunca foi identificado.
"É um misto de sentimentos, não sei
explicar. É um misto de alívio, de conquista, mas é um atestado de óbito, né?
", diz o filho.
"É um documento simbólico, de reconhecimento,
de encerramento de uma etapa dessa luta longa, difícil. Primeiro foi o
reconhecimento formal do Estado, mas ai tinha um atestado de óbito esdrúxulo
que nem dava condição de registro, para regularizar a situação da minha mãe, de
viúva", acrescentou.
A viúva de Virgílio tem 94 anos, vive acamada, e não
poderá participar da solenidade.
A retificação foi recomendada pela Comissão Nacional
da Verdade, que considerou que Virgílio Gomes da Silva é desaparecido em
decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro, em um contexto
de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela Ditadura Militar
implantada no país a partir de abril de 1964.
Quem foi Virgílio Gomes da Silva
Virgílio Gomes da Silva é considerado o primeiro
desaparecido da ditadura militar. Nasceu em Sítio Novo, no Rio Grande do Norte,
e foi para São Paulo, onde trabalhava como operário em uma indústria química e
se tornou líder sindical.
Virgílio era filiado ao Partido Comunista Brasileiro
(PCB), mas saiu do partido em 1967 e se uniu à Aliança Libertadora Nacional
(ALN), quando viajou para Cuba para fazer treinamento de guerrilha.
Conhecido como “Jonas”, ele chegou a ser o segundo
na hierarquia da organização, abaixo apenas de Carlos Marighella.
Em setembro de 1969, Virgílio comandou a ação do
sequestro do embaixador americano, Charles Burke Elbrick e logo depois foi
preso pela Operação Bandeirante, (Oban), em São Paulo. No mesmo dia foram
detidos sua mulher e três de seus quatro filhos. A esposa ficou presa por nove
meses.
Segundo presos políticos, Virgílio foi morto um dia
após seu sequestro. As Forças Armadas chegaram a dizer que ele teria fugido da
prisão.
O irmão dele, Francisco Gomes da Silva, que tinha
sido preso no dia anterior, afirmou ter visto a chegada de Virgílio e escutado
brutais cenas de tortura. De acordo com ele, o irmão foi algemado e agredido
por cerca de quinze pessoas. Depois, ainda teria sido levado para outra sala,
onde continuou a ser torturado até a morte.
Em 2004, foram encontrados o laudo e a foto do corpo
de Virgílio. Ele tinha escoriações e hematomas nos órgãos internos e
afundamento do osso frontal.
As investigações apontam que corpo de Virgílio foi
enterrado no cemitério da Vila Formosa (SP), mas seus restos mortais nunca
foram identificados.
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