quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Ministro de Lula sofre rejeição após enfrentar o próprio partido para ficar no governo

 


O ministro do Turismo, Celso Sabino, já decidiu que vai ficar no governo Lula mesmo que para isso precise deixar sua legenda, o União Brasil, que deu a ele até o último dia 19 para o desembarque. Licenciado do mandato de deputado federal pelo Pará e pré-candidato ao Senado Federal, ele recebeu do presidente a garantia de apoio na campanha de 2026. Mas, para isso, vai precisar encontrar um novo partido, e não está sendo nada fácil.

Como mostrou O GLOBO, o ministro, que chegou a entregar uma carta de demissão ao presidente no último dia 26, afirmou a aliados que permanecerá à frente da pasta após o União Brasil abrir um processo de expulsão por ele não ter obedecido à determinação para se desligar do governo do PT no prazo estipulado pela cúpula.

Sabino tem dito aos aliados que prefere ficar e aproveitar a visibilidade proporcionada pela COP30 em Belém em novembro e o Círio de Nazaré, programado para o próximo final de semana, para vitaminar a futura campanha. Além disso, caso se mantenha no ministério até o prazo de desincompatibilização, em março, terá o controle sobre milhões de reais em emendas.

A questão é que, saindo do União, ele vai precisar de outra legenda para se candidatar. E o maior partido de apoio ao governo no Pará, o MDB, já está com a chapa para 2026 formada e não tem intenção de abrir espaço para mais um candidato ao Senado.

Segundo fontes ouvidas pela equipe do blog, o governador do Pará, Helder Barbalho, que está no segundo mandato e não pode disputar a reeleição, concorrerá a uma das duas vagas em disputa no Senado em uma ampla frente partidária. Para isso, precisará renunciar em março de 2026 e abrirá caminho para que sua vice, Hana Ghassan (MDB), assuma o governo e dispute a reeleição no comando da máquina pública.

Já o presidente da Assembleia Legislativa do Pará, Chicão (MDB), que foi vice de Helder Barbalho na prefeitura de Ananindeua (PA), deverá concorrer à segunda cadeira do Senado.

O entorno do governador também fez chegar a Sabino que ele não teria espaço nem mesmo para disputar a reeleição da Câmara dos Deputados pelo partido. Isso porque a prioridade do grupo político é trabalhar pela candidatura do ministro das Cidades, Jader Filho, que nunca disputou cargo eletivo e demandará um esforço concentrado para angariar votos no Pará. O patriarca do clã, Jader Barbalho, completará 82 anos no ano que vem e não disputará a reeleição no Senado.

Sem condições de migrar para o MDB, Sabino poderia tentar se filiar ao PSB do vice de Lula, Geraldo Alckmin, como alternativa para concorrer ao Senado com o apoio do presidente da República. Para isso, porém, vai precisar do aval do presidente nacional do partido, João Campos, prefeito de Recife, o que ainda é incerto.

Campos participou da campanha vitoriosa de Igor Normando (MDB), a quem chama de “amigo” nas redes sociais, à prefeitura de Belém no ano passado. Normando é primo de Helder Barbalho e tem como vice Cássio Andrade, que é o presidente do PSB no Pará.

O ministro do Turismo considera na sua estratégia que, a despeito da proximidade entre João Campos e o grupo de Helder, o principal opositor do governador é o atual prefeito de Ananindeua, Doutor Daniel Santos, que é filiado ao PSB e trabalha para disputar o comando do Pará contra Hana Ghassan.

Ex-aliado de Helder, Daniel rompeu com o MDB. Em 2024, derrotou com larga vantagem o candidato apoiado pelo governador na cidade, o deputado federal emedebista Antonio Doido. Em Belém, apoiou o bolsonarista Delegado Éder Mauro (PL) no segundo turno, mas ele perdeu para Normando.

Por isso, para Sabino, a “saída PSB” depende da disposição de Campos em bancar a candidatura de oposição do prefeito de Ananindeua aos Barbalho enquanto o prefeito de Recife negocia o apoio do MDB à sua candidatura ao governo de Pernambuco.

Embora a eleição seja apenas no ano que vem, quanto mais Sabino demorar para fazer a troca de partido, mais difícil será encontrar um partido competitivo, já que as alianças nos estados estão em plena negociação e, diferentemente dos deputados, que são muitos, as vagas para candidaturas ao Senado são bem mais restritas. A janela para os políticos mudarem de legenda sem ferir a fidelidade partidária será aberta em menos de seis meses. Até lá, é provável que Sabino venha a prospectar outras opções para além do MDB e o PSB.

Malu Gaspar - O Globo

 

 

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