O Governo do RN corre o risco de ter orçamento
insuficiente para despesas com pessoal e manutenção administrativa no ano de
2026, segundo análise da Secretaria de Planejamento, com base em projeções da
Secretaria da Fazenda. A constatação motivou uma consulta à Procuradoria-Geral
do Estado e a Controladoria-Geral do Estado, tendo em vista que será o último
ano de gestão da governadora Fátima Bezerra e contrair dívidas que não podem
ser pagas dentro do mandato gera implicações legais para os gestores públicos.
A CGE e a PGE elencam medidas para conter gastos, como a proibição de reajustes
com pessoal, limite de inscrição de restos a pagar, revisão de renúncias
fiscais e adicionais e gratificações para servidores, bem como fortalecer a
arrecadação da dívida ativa.
As consultas ocorrem no âmbito da Secretaria de
Estado do Planejamento, do Orçamento e da Gestão (Seplan), que pediu à Control
e à Procuradoria-Geral do Estado (PGE) uma manifestação conjunta sobre medidas
cabíveis para manter a máquina estatal equilibrada no último ano de gestão da
governadora. A preocupação surgiu a partir de estimativas de receitas para 2026
da Secretaria de Fazenda (Sefaz) e a possibilidade de insuficiência
orçamentária. O documento não cita as projeções de arrecadação para 2026.
O Núcleo de Monitoramento de Indicadores, de
Consultoria e de Elaboração do Relatório de Contas de Governo e Gestão,
vinculado à Controladoria-Geral do Estado (Control), sugere uma série de
medidas a serem tomadas pelo Governo do Estado em 2026, visando manter o
equilíbrio financeiro e não desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF).
Uma das medidas é a prudência “máxima” na gestão da
receita, com revisão de renúncias fiscais e avaliação de efetividade e custo
fiscal, “priorizando a manutenção apenas daqueles que apresentem relação
custo-benefício comprovada”. Em outra medida, técnicos da Control sugerem
auditoria sobre gratificações concedidas a ativos, que em julho de 2025 somaram
R$ 17,9 milhões. Em valores anuais, os adicionais podem chegar a R$ 214,9
milhões. “É importante verificar se os pagamentos estão condizentes com o atual
exercício/atribuição do servidor.”
Também há sugestões para inativos, verificando
eventuais incorporações e concessões de adicionais aos proventos de
aposentadorias de forma indevida, e para os terceirizados, recomendando estudo
de viabilidade de redução do quadro de atividade-meio no Estado. Planilhas com
custos a partir de R$ 500 mil precisariam passar por análise mais minuciosa do
Núcleo de Conformidade da Control.
Outra estratégia seria fortalecer a arrecadação da
dívida ativa, que somava R$ 11 bilhões até agosto deste ano. A arrecadação em
agosto, por sua vez, somou apenas R$ 7 milhões.
Entre outras sugestões estão ainda a limitação de
empenho e gestão da disponibilidade de caixa para 2026, estabelecendo metas
bimestrais de arrecadação e revisões periódicas sobre o comportamento da
receita. A ideia seria criar um “decreto de programação financeira e cronograma
mensal de desembolso”, disciplinando a trajetória de liberação de limites por fonte
e por órgão.
Em 2024, o Governo do Estado publicou dois decretos
com o intuito de conter gastos na Administração Direta e Indireta do Estado. Na
época, o estado anunciou a suspensão de nomeação de novos servidores efetivos e
temporários, redução de participação em viagens, feiras, congressos ou qualquer
evento que implicasse gastos com passagens aéreas e diárias, contratos de
locações de mão de obra, veículos e imóveis, além de determinar que os órgãos
estaduais reduzissem despesas em pelo menos 25% do custeio, inclusive em contas
de água, energia e telefone.
Nesse sentido, auditores fiscais identificaram que
os decretos resultaram numa economia líquida aproximada de R$ 56 milhões entre
o último bimestre de 2024 e o primeiro quadrimestre de 2025. No entanto,
analisando o exercício de 2024 em relação a 2023, verificou-se aumento líquido
de cerca de R$ 200 milhões, “evidenciando que as reduções de curto prazo não
foram suficientes para inverter a tendência de crescimento da despesa”,
escreveram os auditores de finanças e controle da Controladoria.
“Os decretos funcionaram como medidas emergenciais
de contenção, com efeito inicial observado, mas que não se sustentou no médio
prazo. A análise sugere que parte das liquidações pode ter sido postergada para
o período subsequente, reduzindo o impacto imediato. Em síntese, os decretos
produziram efeitos pontuais e temporários, mas não foram suficientes para
alterar a trajetória de crescimento da despesa de custeio”, aponta conclusão de
parecer de dois auditores do Estado do Núcleo de Inteligência, Informações
Estratégicas e Promoção à Lei Geral de Proteção de Dados (NID).
Governo diz que analisa medidas
Em nota enviada à TN, a controladora do Estado,
Luciana Daltro, afirmou que a consulta da Seplan reflete um comportamento
“preventivo e republicano” e disse que a Seplan adota medidas preventivas para
garantir responsabilidade fiscal em 2026. Nesse contexto, a consulta feita pela
pasta visa as medidas cabíveis para assegurar o equilíbrio fiscal e a
conformidade legal das despesas públicas no exercício de 2026. “Algo que está
sob avaliação técnica criteriosa, de maneira que as eventuais medidas sejam
pontuadas, discutidas e aplicadas”, disse.
“O encerramento de mandato é um momento que exige
ainda mais atenção às normas da LRF e às boas práticas de integridade fiscal.
Antecipar cenários e buscar orientação técnica é o caminho mais seguro para
garantir a sustentabilidade das contas públicas e a confiança da sociedade”,
disse.
“A manifestação da CGE e da PGE orientará as
decisões administrativas para o exercício de 2026, assegurando que o Estado
siga observando os princípios da legalidade, da responsabilidade e da
transparência que norteiam a gestão pública potiguar”, acrescentou.
Economista defende modernização da
gestão pública
Para o consultor e economista Helder Cavalcanti,
diretor de Educação do Conselho Regional de Economia (Corecon-RN) e sócio da F
Group, o Estado atravessa um momento de desafios fiscais e administrativos
semelhantes aos enfrentados por diversas unidades federativas do país. A
conjuntura econômica nacional, a rigidez orçamentária e o aumento das despesas
obrigatórias, segundo ele, impactam diretamente a capacidade de investimento.
Ele cita que há oportunidades de reorganização e
modernização da gestão pública, especialmente com o uso de ferramentas
tecnológicas, revisão de contratos, incremento de arrecadação própria e
parcerias estratégicas. “As projeções até 2026 dependerão da eficiência com que
o Estado consiga equilibrar o ajuste fiscal com políticas que promovam
desenvolvimento econômico sustentável e valorização do servidor público”,
aponta.
Entre as ações possíveis para contenção de gastos,
segundo Helder Cavalcanti, estão a revisão de contratos e processos
licitatórios, buscando eficiência e economicidade; controle rigoroso de
despesas com pessoal, respeitando os limites legais da Lei de Responsabilidade
Fiscal; modernização dos sistemas de arrecadação e combate à evasão fiscal;
fortalecimento das parcerias público-privadas e convênios federais para reduzir
a pressão sobre o Tesouro Estadual; e planejamento plurianual realista, com
metas claras e acompanhamento da execução orçamentária.
Sobre as propostas sugeridas pela Control, Helder
Cavalcanti aponta que é possível afirmar que medidas voltadas à gestão de
despesas correntes, melhoria na arrecadação tributária e otimização de
contratos e convênios são as de maior viabilidade imediata.
“Aquelas que envolvem reestruturação administrativa,
revisão de benefícios fiscais e digitalização de processos tendem a apresentar
resultados progressivos e sustentáveis. A exequibilidade depende, sobretudo, da
capacidade técnica e da coordenação intersetorial do Governo para implementar
as mudanças com equilíbrio e responsabilidade social”, finaliza.
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