O Rio Grande do Norte, segundo maior produtor de
camarão do Brasil, ainda aguarda a liberação para exportar o crustáceo para o
mercado chinês. A autorização, esperada desde julho, não foi concluída pelo
governo da China. Apesar do otimismo do setor, um erro técnico no processo de
cadastramento do produto tem impedido a inclusão do camarão na pauta de
exportações. A expectativa é que a questão seja resolvida até o final de 2025.
A entrada no mercado chinês é considerada estratégica para o Estado, que busca
ampliar sua presença no comércio internacional.
O secretário estadual de Agricultura, Pecuária e
Pesca (Sape), Guilherme Saldanha, explica como se deu o erro no cadastramento
da espécie junto ao governo chinês. “O Estado do Rio Grande do Norte já há
bastante tempo vem buscando que o Ministério da Agricultura da China liberasse
a importação de camarão do Brasil. Infelizmente, houve uma falha no
cadastramento do camarão. Apesar de terem caracterizado a espécie correta, que
é o camarão vannamei, na complementação do cadastro eles erraram: colocaram o
camarão vannamei de captura. Só que não existe no mundo camarão Vannamei de
captura. Ele é explorado através de cultivo”, explica.
Diante disso, Saldanha afirma que o Governo do RN
tem atuado junto aos ministérios e ao Itamaraty para corrigir o equívoco. “A
gente está tentando reverter isso desde que surgiu essa questão do tarifaço. A
governadora Fátima intensificou os pedidos e há ofícios dela tratando sobre
esse tema encaminhados ao presidente da República, ao vice-presidente Geraldo
Alckmin, ao ministro André de Paula e ao ministro da Agricultura, solicitando a
correção do cadastro e que efetivamente se abram as importações para o camarão
brasileiro Vannamei de cultivo”, afirma.
O secretário destaca que não há impedimentos
sanitários ou comerciais para o envio do produto potiguar à China e destaca o
potencial competitivo do estado no cenário internacional. “A China, pelo
gigantismo dela, é muito interessante. Ela é, ao mesmo tempo, o maior produtor
mundial de camarão, o maior importador e o maior exportador. O Brasil, eu não
tenho dúvida, tem competitividade para abastecer um pedaço desse mercado”,
comenta.
O Rio Grande do Norte emprega cerca de 30 mil
pessoas na carcinicultura e responde pela produção de cerca de 24,7 milhões de
quilos de camarão, segundo dados de 2024 da Associação Brasileira de Criadores
de Camarão (ABCC) e do IBGE. O Ceará é o líder nacional, com 72 milhões de
quilos. A expectativa do setor no RN é de que a entrada no mercado chinês
amplie significativamente o escoamento da produção e estimule novos
investimentos e a geração de empregos.
De acordo com Guilherme Saldanha, a expectativa
alcança especialmente o projeto de interiorização da carcinicultura
recém-aprovado pela Assembleia Legislativa. A proposta prevê incentivos para a
instalação de fazendas de camarão nas bacias dos rios, como o Piranhas-Açu e o
Apodi-Mossoró, regiões consideradas estratégicas para expansão da atividade.
O presidente da ANCC, Orígenes Monte Neto, confirma
que a reunião entre Brasil e China ocorreu, mas que o impasse ainda não foi
superado. Ele considera que a questão é, acima de tudo, política. “Está
autorizada a exportação de um camarão que nem existe aqui. Então, ao meu ver, é
realmente uma falta de vontade política do governo chinês”, destaca. Segundo
ele, o potencial de expansão é grande, mas depende de estabilidade nas regras.
“Quando houver, não vai ser algo automático, do dia para a noite, mas é uma
semente que se planta, que cresce e brota, e vai ter colheita”, avalia.
A entrada no mercado chinês é tratada pelo setor
produtivo como um marco para a carcinicultura, capaz de fortalecer a economia
potiguar. Durante a Feira Internacional da Fruticultura Tropical Irrigada
(Expofruit), em Mossoró, importadores chineses visitaram fazendas potiguares e
demonstraram interesse no produto local.
“Vieram algumas missões chinesas visitar o RN e
estão interessadíssimos. O camarão potiguar é de excelente qualidade. Nós
precisamos realmente ter essa autorização”, afirma Orígenes.
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