Sair da agricultura tradicional para uma cultura
mais inovadora foi o desafio que o produtor Rodrigo Moura Pires da Cunha e seus
sócios, Daniel França e Carlos Frederico, encararam a partir de 2016. E ele
escolheu algo pioneiro no Rio Grande do Norte: o plantio do açaí. A empresa
Pioneira Agrícola, com terras no litoral de Touros e Pureza, saiu de 20
hectares em 2016 para quase 80 hectares plantados em 2024. A cada ano, a
plantação dobra e, para 2025/2026, a empresa projeta a ampliação do plantio em
mais 20 hectares. A ideia, segundo Rodrigo Moura, é chegar a 150 hectares de
açaí até 2027.
Atualmente, a empresa já exporta boa parte da
produção. “A gente acredita que nessa safra (2025/2026) vamos exportar 50% da
produção, ou algo muito próximo disso”, comemora Rodrigo Moura. Segundo ele, a
exportação seguia para vários países da Europa, mas no final de 2024 a empresa
fechou contrato e começou a exportar para um cliente no Kuwait, que prevê
receber 100 toneladas na safra 2025/2026. Este ano, o primeiro contêiner foi
enviado em julho e um segundo segue agora em outubro.
Além disso, há negociações com outros países. “Neste
momento, estamos em Madri, na Espanha, em um dos maiores eventos mundiais de
fruticultura, a Fruit Attraction, e sentamos com oito pessoas para negociar a
exportação de açaí, polpa e sorvete, mas nada consolidado, são rodadas de
negócios”, comenta o produtor.
Toda a exportação é feita a partir de um parceiro
local. “Praticamente toda a exportação que a gente fazia para pequenos lugares
na Europa vai ser direcionada para o Kuwait nesta safra. Vai ter ainda Itália,
um pouquinho, porque o nosso parceiro é italiano. Então ele manda para a Itália
alguma carga, e a Holanda também, mas o foco da safra 2026 vai ser a exportação
para o Kuwait”, revela o produtor. A empresa ainda exporta a polpa para seis
estados brasileiros.
A Pioneira já tem uma linha de sorvete
comercializada para o sudeste do país, principalmente, São Paulo, e para três
países: Kuwait, Itália e Amsterdã, neste ano. “A gente viu que há um potencial
muito grande na região para o cultivo do açaí, primeiro porque o clima é
favorável, tem muita luz, solos bons e água no subsolo. A região é propícia a
esse tipo de palmeira e ela desenvolve muito bem. Segundo, porque há um mercado
gigantesco”, diz o sócio-diretor da empresa. Hoje, somente o Brasil produz
açaí, e 94% da produção está concentrada no Pará, e o restante em outras
regiões do país.
Segundo ele, a primeira safra veio em 2020 e, em
2021, a empresa abriu a indústria de beneficiamento do fruto, que já processa
em torno de 350 toneladas por safra. “A gente já produz em algumas áreas 10
toneladas por hectare e em outras, 14 toneladas por hectare. Ano a ano você vai
mudando, até estabilizar no sétimo, oitavo ano”, diz Rodrigo Moura, ressaltando
que a empresa ainda é muito pequena, frente ao Norte do país, mas a expectativa
é de crescimento a cada ano. Hoje, a Pioneira emprega nas fazendas, 15 pessoas
e, diretamente na indústria, oito.
A primeira área plantada foi de uma variedade
chamada BRS Pai d’Égua (Euterpe Oleracea), que dá por touceira e foi
desenvolvida pela Embrapa. “Quando começamos a produzir e vimos o potencial
dessa fruta, começamos a investir na indústria com foco em fazer a exportação
da polpa. E começamos a trabalhar a qualidade desse produto”, comenta o
produtor rural.
Hoje, a empresa já colhe e processa o fruto dentro
de 24 horas, o que garante todas as características de sabor e aroma.
Inovação amplia competitividade dos
produtores
A inovação ampliou a competitividade da Pioneira
Agrícola. “Ela nos colocou num custo que se difere dos demais, no sentido de
pensar diferente, pensar grande, em exportar”, comenta Rodrigo Moura. No campo,
algumas tecnologias estão sendo aplicadas, desde o manejo de adubações orgânicas
ao controle defensivo, usando biológicos, tanto no solo, quanto na própria
planta.
“Hoje, a gente não precisa de muitos defensivos,
praticamente nada. A gente só faz os defensivos para controle de alguma erva
daninha. Mas para a planta, propriamente dita, é uso de biológico, até porque a
gente viu que não tem muitas doenças aqui na nossa região que possam danificar
ou prejudicar a produção de açaí”, conta.
Além disso, há um tipo diferenciado de colheita, com
uso de uma ferramenta que não deixa o fruto cair no chão, propiciando mais
higiene. A empresa também criou uma logística para ter uma velocidade rápida de
processamento. “A gente percebe que quando o fruto demora a ser processado, ele
perde a qualidade”, explica Rodrigo Moura. Hoje, também, toda a irrigação é
automatizada, calculando a quantidade de água por touceira. Cada touceira tem
três hastes, que produzem o fruto, semelhante à bananeira.
Na indústria, a empresa criou um circuito fechado no
processo de despolpamento. “A partir do momento que a fruta vira polpa, não há
mais contato dos funcionários com esse produto”, explica. Além disso, a
indústria tem uma velocidade muito rápida de congelamento. Saindo do
processamento, a polpa já é ensaca e colocada rapidamente dentro de câmaras
frias para não perder qualidade, de cor, sabor e aroma. “Se o açaí fica muito
tempo fora do processamento, ele muda totalmente. Ele fica marrom, ele não fica
roxo; ele fica ácido, não fica com gosto de açaí”, diz o produtor.
ELI Agro abriu portas para ampliar plantio
Antes de iniciar a cultura do açaí, Rodrigo Moura e
seus sócios fizeram missões no Pará, a fim de entender a cultura. A sugestão de
entrar nessa empreitada foi de um dos consultores do ELI Agro (Ecossistema
Local de Inovação do Agronegócio), do Sebrae/RN. Depois de iniciado o plantio,
o Eli Agro abriu portas, segundo ele, para que outros produtores conhecessem a
cultura.
“A gente conseguiu fechar parcerias com produtores e
eles começaram a visitar a fazenda e já estão plantando o açaí para a gente
comprar esse fruto. Eu, como indústria, compro esse fruto, faço o
beneficiamento e envio para fora do país, do Estado. Então, o ELI Agro trouxe
essa possibilidade”, diz Rodrigo Moura. Na região do Mato Grande pelo menos dez
produtores rurais já estão plantando açaí.
“Para o futuro, a expectativa é de crescer muito
como produtores e como indústria. Hoje, minha indústria tem limites, para uma
certa quantidade de áreas plantadas. Então, a gente ainda tem muita área para
abrir, parceiros estão plantando. E a gente não vê nos próximos 15, 20 anos,
uma superoferta do fruto, até porque demora muito para ele produzir”, diz. A
cultura demora, em média de cinco a seis anos, para o início da primeira
colheita. Segundo estudos da Embrapa, a demanda é hoje de 12% a 15% maior do
que a oferta de fruto. “É por isso que na entressafra, o preço dispara, porque
há uma escassez do produto, enquanto a procura continua muito alta. A ideia é
fomentar parceiros”, afirma.
A empresa, que tem outros negócios – ainda produz
coco e macaxeira – direciona praticamente todos os investimentos na cadeia do
açaí, tanto para o plantio nas áreas da fazenda e dos parceiros, quanto para o
melhoramento na indústria, em processos de congelamento e despolpamento, e
planeja iniciar o plantio de cacau.
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