domingo, 12 de outubro de 2025

Casos de câncer em pessoas com até 50 anos crescem 284% em 11 anos no Brasil, aponta DataSUS

 


O número de casos de câncer em pessoas de até 50 anos aumentou 284% no Brasil entre 2013 e 2024. Dados do painel DataSUS, reunidos pelo g1, mostram que os diagnósticos passaram de 45.506 para 174.938 nesse período. Os tumores de mama, colorretal e fígado estão entre os que mais crescem na faixa etária.

O câncer de mama lidera os registros, com alta de 45% desde 2013 e mais de 22 mil novos diagnósticos anuais de mulheres de até 50 anos no Sistema Único de Saúde (SUS). A maioria dos casos é identificada na rede pública, que concentra os atendimentos de 75% da população.

Especialistas afirmam, porém, que o cenário pode ser ainda mais grave. “Toda política de saúde depende de dados, e hoje eles são frágeis”, diz Stephen Stefani, oncologista do grupo Oncoclínicas e da Americas Health Foundation. “Na saúde suplementar, a notificação não é compulsória. Então o país subestima a real dimensão do problema.”

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que não é possível medir a incidência de câncer na rede privada, que cobre cerca de 25% da população, porque uma decisão judicial de 2010 impede o uso da Classificação Internacional de Doenças (CID) nas bases de dados das operadoras. O Ministério da Saúde também não dispõe de números consolidados sobre o sistema privado, apenas estimativas trienais.

Entre os tipos de câncer mais frequentes em adultos de até 50 anos, o de mama soma 219.449 casos entre 2013 e 2024, seguido por colo do útero (105.269), colorretal (45.706), estômago (38.574) e fígado (26.080).

O câncer colorretal é um dos que mais crescem no grupo. Os diagnósticos saltaram de 1.947 em 2013 para 5.064 em 2024 — alta de 160%. “É uma doença de estilo de vida. Só 5% dos casos são hereditários; mais de 90% têm relação com alimentação, sedentarismo e obesidade”, explica Samuel Aguiar, líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center.

Segundo ele, o aumento ocorre entre gerações expostas desde cedo a dietas industrializadas, excesso de gordura corporal e pouca atividade física. “Muitos pacientes jovens são diagnosticados em estágios avançados porque os sintomas são confundidos com hemorroidas ou alterações intestinais leves. Falta cultura de prevenção nessa faixa etária”, afirma Aguiar.

Os médicos também observam mudanças no perfil dos pacientes. “Os pacientes chegam ao consultório jovens, ativos, cuidando dos filhos, e de repente descobrem um câncer avançado. É um choque, não se viam no grupo de risco”, relata Stefani.

A médica nuclear Sumara Abdo, do Instituto Nacional do Câncer (INCA), diz que os protocolos de rastreamento não acompanham essa mudança. “Os protocolos ainda são voltados para pessoas acima dos 50 anos. Já temos evidências de que tumores como o de mama e o colorretal vêm aumentando muito antes dessa idade”, afirma.

Entre as medidas preventivas, ela cita manter alimentação rica em fibras, frutas e vegetais; reduzir o consumo de ultraprocessados e álcool; praticar atividades físicas regularmente; e realizar exames conforme orientação médica.

Mesmo com a ampliação da mamografia a partir dos 40 anos no SUS, anunciada em 2025, o sistema ainda enfrenta lentidão. “A demora entre diagnóstico e início do tratamento segue um desafio. Muitos não começam dentro dos 60 dias previstos por lei”, diz a oncologista Isabella Drummond, integrante das sociedades Americana e Europeia de Oncologia.

Ela aponta que terapias baseadas em testes genéticos e diagnóstico molecular avançam na rede privada, mas continuam inacessíveis à maioria dos pacientes do SUS. “Sem políticas públicas de rastreamento e diagnóstico molecular, a desigualdade em câncer só vai aumentar”, afirma.

O aumento dos casos em pessoas jovens é uma tendência global. Um estudo publicado na revista Nature Medicine em 2022 mostra crescimento da incidência de câncer em menores de 50 anos em todos os continentes, principalmente em países urbanizados. “O fenômeno é global, mas no Brasil ele é agravado por desigualdade e diagnóstico tardio”, diz Stefani.

A publicação alerta que, sem políticas integradas de prevenção e acesso, o Brasil pode seguir o padrão de países como Estados Unidos e Reino Unido, onde os casos precoces já representam até 20% dos novos diagnósticos anuais.

“O câncer diagnosticado cedo tem mais de 90% de chance de cura”, reforça Isabella Drummond. “Mas para isso, o paciente precisa ser ouvido e ter acesso rápido ao exame certo.”

*com informações do g1

 

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