Infecção respiratória e transmissível que acomete,
de forma grave, crianças menores de seis meses, a coqueluche registrou aumento
de casos confirmados e notificados no Rio Grande do Norte. Segundo dados da
Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN (Sesap), até 15 de outubro deste
ano foram notificados 72 casos, sendo 21 confirmados, 14 em investigação, 29
descartados e oito inconclusivos. No mesmo período do ano passado, foram 25
casos notificados, com 12 confirmações, 11 descartados, um inconclusivo e um em
investigação. O aumento nos casos confirmados é de 75%.
Nos últimos dias, uma bebê de dois meses
diagnosticada com coqueluche aguardava por um leito de UTI com crises de tosse
frequentes, chegando a desmaiar. Uma decisão judicial determinou sua
transferência para o Hospital Pediátrico Maria Alice, na zona Norte de Natal.
Segundo a Sesap, a bebê não estava mais indicada clinicamente para leito de UTI
desde o fim da semana passada e foi transferida para um leito clínico de
isolamento.
O aumento dos casos no RN segue uma tendência
nacional. Levantamento do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância),
da Fiocruz e da Unifase, revela que, em 2024, o Brasil registrou 2.152 casos de
coqueluche em crianças menores de cinco anos. O número representa aumento
relativo de 1.353% em relação a 2023, que teve 159 casos. Entre 2020 e 2024, o
país confirmou 8.205 casos. No mesmo período, no Rio Grande do Norte, foram
notificados 101 casos suspeitos, dos quais 35 foram confirmados, segundo
boletim da Subcoordenadoria de Vigilância Epidemiológica (Suvige).
“Esse aumento de casos de coqueluche no Brasil como
um todo preocupa. É o ressurgimento de doenças preveníveis com vacinação e que
podem apresentar quadros graves em crianças, e isso sempre aumenta nossa
preocupação, principalmente por ser uma doença de transmissão interpessoal”,
explica Gisele Borba, médica infectologista do Hospital Universitário Onofre
Lopes (HUOL), da Ebserh.
Entre 2020 e 2024 não houve óbitos por coqueluche no
RN. O último registrado no Estado foi em 2014. Quanto à imunização contra a
coqueluche, a vacina disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é a
pentavalente, que deve ser aplicada aos dois, quatro e seis meses de idade. A
cobertura vacinal em crianças de um ano no RN foi: 67,87% em 2020; 72,21% em
2021; 75,79% em 2022; 83,84% em 2023; e 89,18% em 2024. Durante esse período,
não foi alcançada a meta preconizada de 95%, o que aumenta a suscetibilidade à
doença.
“É uma doença prevenível com vacina. O ressurgimento
dela se deve diretamente à queda na cobertura vacinal. Estamos experimentando
essa queda desde um pouco antes da pandemia. Na pandemia, reduziu mais ainda e,
infelizmente, não conseguimos retomar os níveis necessários para garantir
proteção global contra a doença”, acrescenta Gisele Borba.
“A alta recente de coqueluche no país pode decorrer
de um conjunto de fatores: coberturas vacinais ainda abaixo da meta de 95%, e
muito desiguais entre municípios, com atrasos nos reforços e baixa adesão à
dTpa durante a gestação; retomada dos ciclos naturais da doença no
pós-pandemia; intensificação da vigilância e do uso de PCR, elevando a detecção
de quadros leves — sem, contudo, explicar sozinha o aumento de internações e
óbitos”, avalia uma das coordenadoras do Observa Infância, Patrícia Boccolini.
“Há também possível contribuição de fatores ambientais e sociais — desastres,
aglomerações e interrupções de serviços —, que criam condições para focos
locais, além do aumento de casos registrados em toda a região das Américas
entre 2023 e 2024”, completa.

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