Correios rumo ao precipício
Retirada da lista de privatizações no início da
atual gestão de Lula, a estatal multiplica prejuízos bilionários na pior crise
de sua história e continua sob disputa de PT e União Brasil
O extraordinário rombo dos Correios no primeiro
semestre deste ano, mais do que o triplo do prejuízo bilionário do mesmo
período do ano passado, dirimiu qualquer dúvida – se é que ainda restava alguma
– sobre a viabilidade de manter a empresa sob controle estatal.
O saldo deficitário de janeiro a julho, de R$ 4,37
bilhões, não apenas escancarou a piora em relação à primeira metade de 2024 (R$
1,35 bilhão negativo) como já representa aumento de quase 70% em relação ao prejuízo
de todo o ano passado, de R$ 2,6 bilhões.
Trata-se de uma derrocada espantosa, que o ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, candidamente atribuiu à permissão para que outras
empresas ingressassem no mercado de entrega de encomendas, deixando aos Correios
o “passivo de ter de entregar cartas nas regiões mais remotas do País”. Se o
ministro realmente crê nessa tese não se sabe, mas foi a desculpa que usou, em
entrevista à Rede Bandeirantes, ao alegar que os Correios ficam “com o osso”
enquanto outras empresas dividem “o filé mignon e a picanha”.
Ora, “entregar cartas em regiões mais remotas” não
justifica um prejuízo equivalente a mais da metade do faturamento dos Correios,
da ordem de R$ 8,2 bilhões. Ademais, a rigor, não havia monopólio sobre a entrega
de encomendas, razão pela qual empresas privadas do setor há décadas atuam
livremente no País.
O que o ministro Haddad não pode admitir, porque é
petista, é que o rombo dos Correios é resultado da submissão da empresa a
interesses político-partidários, como sói acontecer com quase todas as
estatais, especialmente quando estão sob comando do PT ou de seus associados.
O fato é que sob a gestão Lula a companhia vive o
pior momento de sua história, na situação incomum de permanecer há mais de dois
meses sob uma presidência demissionária. No início de julho, Fabiano Silva dos
Santos entregou a Lula sua carta de demissão, mas está sendo mantido até a
escolha do sucessor, cargo disputado entre o PT e o União Brasil, do presidente
do Senado, Davi Alcolumbre.
Eis aí o retrato da situação que desembocou no
balanço deficitário dos Correios, que o advogado Fabiano dos Santos por certo
esperava sanar com seu MBA em Gestão Estratégica de Empresas. O loteamento de
cargos, a disputa política, a gestão de negócios submetida a interesses do
governo de ocasião são problemas que atingem não apenas a empresa, mas também
seu fundo de pensão – basta lembrar que o Postalis já foi e ainda é investigado
por malversação de recursos, tendo ex-diretores já condenados pelo Tribunal de
Contas da União.
A diretoria dos Correios é dividida entre ungidos
pelo PT e pelo União Brasil e a expectativa é de que saia desse grupo o nome do
novo presidente da empresa. Não é preciso ser profeta para prever que a mudança
na direção nada representará – a não ser, talvez, para os principais
interessados no controle da empresa. A transferência à iniciativa privada, em
modelo que preserve a universalidade do serviço postal ou até mesmo a
fragmentação dos serviços, como cogitado no programa que vinha sendo desenhado
no BNDES, é o único caminho possível para recuperar a empresa.
Ao invés disso, as soluções buscadas são de mais
endividamento, como o empréstimo de R$ 4 bilhões que está sendo negociado com o
Banco do Brics – presidido pela petista Dilma Rousseff – e/ou aporte de valor
semelhante pelo governo, que já não tem de onde tirar recursos para as próprias
necessidades.
Disputando mercado com empresas que investiram
pesado em tecnologia para concorrer na entrega de encomendas, aproveitando a
explosão do comércio digital, os Correios marcham celeremente para a
obsolescência, ditada pela ideologia de um governo incapaz de acompanhar a
evolução da sociedade. A situação da estatal de fato “inspira cuidados”, para
usar a expressão do ministro Haddad, mas não apenas isso. Exige dos agentes
públicos a responsabilidade de propor a única solução possível para manter seu
funcionamento.
Opinião do Estadão
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