quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Opinião do Estadão: Correios rumo ao precipício

 


Correios rumo ao precipício

Retirada da lista de privatizações no início da atual gestão de Lula, a estatal multiplica prejuízos bilionários na pior crise de sua história e continua sob disputa de PT e União Brasil

O extraordinário rombo dos Correios no primeiro semestre deste ano, mais do que o triplo do prejuízo bilionário do mesmo período do ano passado, dirimiu qualquer dúvida – se é que ainda restava alguma – sobre a viabilidade de manter a empresa sob controle estatal.

O saldo deficitário de janeiro a julho, de R$ 4,37 bilhões, não apenas escancarou a piora em relação à primeira metade de 2024 (R$ 1,35 bilhão negativo) como já representa aumento de quase 70% em relação ao prejuízo de todo o ano passado, de R$ 2,6 bilhões.

Trata-se de uma derrocada espantosa, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, candidamente atribuiu à permissão para que outras empresas ingressassem no mercado de entrega de encomendas, deixando aos Correios o “passivo de ter de entregar cartas nas regiões mais remotas do País”. Se o ministro realmente crê nessa tese não se sabe, mas foi a desculpa que usou, em entrevista à Rede Bandeirantes, ao alegar que os Correios ficam “com o osso” enquanto outras empresas dividem “o filé mignon e a picanha”.

Ora, “entregar cartas em regiões mais remotas” não justifica um prejuízo equivalente a mais da metade do faturamento dos Correios, da ordem de R$ 8,2 bilhões. Ademais, a rigor, não havia monopólio sobre a entrega de encomendas, razão pela qual empresas privadas do setor há décadas atuam livremente no País.

O que o ministro Haddad não pode admitir, porque é petista, é que o rombo dos Correios é resultado da submissão da empresa a interesses político-partidários, como sói acontecer com quase todas as estatais, especialmente quando estão sob comando do PT ou de seus associados.

O fato é que sob a gestão Lula a companhia vive o pior momento de sua história, na situação incomum de permanecer há mais de dois meses sob uma presidência demissionária. No início de julho, Fabiano Silva dos Santos entregou a Lula sua carta de demissão, mas está sendo mantido até a escolha do sucessor, cargo disputado entre o PT e o União Brasil, do presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

Eis aí o retrato da situação que desembocou no balanço deficitário dos Correios, que o advogado Fabiano dos Santos por certo esperava sanar com seu MBA em Gestão Estratégica de Empresas. O loteamento de cargos, a disputa política, a gestão de negócios submetida a interesses do governo de ocasião são problemas que atingem não apenas a empresa, mas também seu fundo de pensão – basta lembrar que o Postalis já foi e ainda é investigado por malversação de recursos, tendo ex-diretores já condenados pelo Tribunal de Contas da União.

A diretoria dos Correios é dividida entre ungidos pelo PT e pelo União Brasil e a expectativa é de que saia desse grupo o nome do novo presidente da empresa. Não é preciso ser profeta para prever que a mudança na direção nada representará – a não ser, talvez, para os principais interessados no controle da empresa. A transferência à iniciativa privada, em modelo que preserve a universalidade do serviço postal ou até mesmo a fragmentação dos serviços, como cogitado no programa que vinha sendo desenhado no BNDES, é o único caminho possível para recuperar a empresa.

Ao invés disso, as soluções buscadas são de mais endividamento, como o empréstimo de R$ 4 bilhões que está sendo negociado com o Banco do Brics – presidido pela petista Dilma Rousseff – e/ou aporte de valor semelhante pelo governo, que já não tem de onde tirar recursos para as próprias necessidades.

Disputando mercado com empresas que investiram pesado em tecnologia para concorrer na entrega de encomendas, aproveitando a explosão do comércio digital, os Correios marcham celeremente para a obsolescência, ditada pela ideologia de um governo incapaz de acompanhar a evolução da sociedade. A situação da estatal de fato “inspira cuidados”, para usar a expressão do ministro Haddad, mas não apenas isso. Exige dos agentes públicos a responsabilidade de propor a única solução possível para manter seu funcionamento.

Opinião do Estadão

 

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