O depoente da CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) mista do INSS Milton Salvador, que se apresentou como ex-diretor
financeiro do grupo empresarial de Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido
como ‘Careca do INSS’, disse ao colegiado que essas firmas movimentaram cerca
de R$ 140 milhões em 14 meses.
Salvador apareceu no escândalo de descontos do INSS
como sócio de Antunes, mas ele nega essa condição. “Eu nunca fui sócio, nunca
recebi um centavo de dividendo, nunca recebi um centavo de lucro de empresa do
Careca do INSS”, declarou.
Ele afirmou ter sido contratado para prestar
consultoria financeira pela Prospect, uma das empresas de Antunes, e que seus
serviços se estendiam ao grupo todo. Milton Salvador disse que era responsável
pelo fluxo financeiro, trabalhando, na prática, como um diretor.
Salvador disse ter trabalhado para Antunes de março
de 2024 a abril de 2025, até o escândalo dos descontos irregulares em
benefícios previdenciários estourar. Afirmou que, no período, o grupo todo
movimentou por volta de R$ 140 milhões.
Procurada pela reportagem, a defesa de Antunes
afirmou que não se manifestaria.
O relator da CPI, Alfredo Gaspar, fez perguntas
sobre empresas específicas do grupo. De acordo com Salvador, firmas como ACCA,
Brasília Consultoria Empresarial e ACDS Call Center prestavam serviços para
associações que descontavam das aposentadorias.
O depoente mencionou como clientes do Careca do INSS
entidades como Abrasprev (Associação Brasileira dos Contribuintes do Regime
Geral da Previdência Social), Cebap (Centro de Estudos dos Benefícios dos
Aposentados e Pensionistas) e Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas
para Benefícios Coletivos), todas citadas em investigações da CPI.
Uma parte de seu trabalho, de acordo com o
depoimento, era emitir notas fiscais e fazer pagamentos. Os valores, disse ele,
eram informados por Antunes.
Gaspar também questionou Milton Salvador sobre as
atividades de uma empresa chamada Camilo Comércio e Serviços S/A. O depoente
disse que a firma ainda estava em “fase embrionária” durante seu período no
grupo empresarial de Antunes. Não teria um fluxo de atividades porque, na
época, ainda estaria aguardando licença para comercializar canabidiol,
substância medicinal derivada da maconha.
O depoente afirmou que Antunes comprou um imóvel em
Brasília por meio de uma empresa offshore, mas que teria pagou como pessoa
física e que a firma teria registro também no Brasil. Ele negou ter feito
qualquer repasse financeiro à offshore.
Milton Salvador disse que não conhecia Antonio
Carlos Antunes antes de trabalhar nas empresas dele. Disse que o Careca do INSS
encontrou seu currículo no LinkedIn, o convidou para conversar e o fez uma
proposta de emprego. O depoente disse que, antes, trabalhava para o grupo Paulo
Octávio, um dos maiores de Brasília.
Salvador afirmou que aceitou trabalhar no grupo
empresarial de Antunes por um salário de R$ 60 mil, contratado como pessoa
jurídica. Ele disse que já havia tido vencimentos semelhantes, mas que os
valores haviam caído depois da pandemia.
“Em relação ao último valor que eu vinha recebendo,
dobrou. Esse foi o motivo de eu ter aceito a proposta, para eu voltar a receber
algo em torno do que eu tinha recebido antigamente”, disse Milton Salvador.
O depoente disse que percebeu que estava no centro
de um possível esquema criminoso por causa de uma operação policial, apesar de
já ter visto notícias na imprensa antes.
“Identifiquei que estava nessa operação criminosa
quando recebi a Polícia Federal. Vi via imprensa, mas os questionamentos que eu
fiz ele negou todos. A mim ele dizia que não fazia nada de irregular”, disse.
Folha de S.Paulo
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