Pacientes com diabetes tipo 1 que dependem da rede
pública de saúde no Rio Grande do Norte estão enfrentando, mais uma vez, a
falta da insulina análoga de ação prolongada, também conhecida como “insulina
basal”. O medicamento é considerado essencial para o controle da doença e sua
ausência representa um risco grave à saúde — inclusive de morte.
De acordo com denúncias da Associação Potiguar
Amigos dos Diabéticos do RN (APAD RN), o remédio está novamente em falta na
Unicat, responsável pela distribuição. O problema tem sido recorrente ao longo
dos últimos meses e ainda não há previsão de regularização.
Pacientes com diabetes tipo 1 utilizam dois tipos de
insulina: a de ação rápida, geralmente aplicada antes das refeições, e a de
longa duração. Embora a insulina de ação rápida ainda esteja disponível na
Unicat, é importante destacar que ambas têm funções distintas no organismo e
não podem ser substituídas uma pela outra.
“Esse diabetes tipo 1 é um paciente que desde o
início do tratamento já precisa da insulina. Então, a insulina é igual à vida.
Para esse paciente, porque ele não tem nenhuma outra alternativa terapêutica,
somente a insulina. Então, a insulina representa ele viver ou morrer. Ele não
tem opção, ele tem que usar realmente a insulina”, afirmou a médica Anna
Karina, presidente da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia RN (SBEM/RN).
De acordo com Anna Karina, cerca de 5% dos pacientes
com diabetes têm o tipo 1 da doença, uma condição autoimune que exige o uso de
insulina desde o início do diagnóstico e de forma contínua, já que não há
alternativa terapêutica. Já o diabetes tipo 2 é progressivo e, em geral, é
tratado inicialmente com medicamentos orais, mas evolui para a necessidade de
insulina.
Segundo a médica, a responsabilidade pelo
fornecimento da insulina análoga de ação prolongada para pacientes com diabetes
tipo 1, assim como dos insumos necessários ao tratamento, foi definida em um
convênio entre a Unicat e o Ministério da Saúde. Ela destaca que o cuidado vai
além da medicação: “Não é só a insulina. O paciente diabético precisa fazer a
glicemia, precisa das fitas reagentes, das lancetinhas para furar o dedo, da
agulha para colocar na caneta, da insulina — porque hoje a insulina é fornecida
em caneta.”
A Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN
(Sesap) informou que: “A disponibilidade da insulina análoga de ação prolongada
é de responsabilidade do Ministério da Saúde, cabendo à Unicat a organização da
distribuição. A unidade aguarda o envio de novo carregamento por parte do
ministério para regularizar a entrega à população.”
Em nota enviada à Tribuna do Norte, o Ministério da
Saúde negou a falta do medicamento: “Não há falta de insulina no Brasil”. A
pasta informou que, apesar do cenário global de restrição, possui contratos que
asseguram o fornecimento de insulina para todo o ano de 2025.
Ainda segundo o Ministério, todos os estados
receberam “100% das insulinas humanas solicitadas”, entre frascos e tubetes
(carpules), sendo responsabilidade dos governos estaduais a distribuição aos
municípios. A pasta informou ainda que, até agosto deste ano, foram
distribuídas 62,9 milhões de unidades em todo o país — 30% a mais do que a
média mensal do ano anterior.
A Associação Potiguar Amigos dos Diabéticos do RN
(APAD RN) confirma o cenário de desabastecimento e relata que os usuários da
rede pública não têm sequer prazo. “A gente está recebendo só a insulina de
ação rápida. A prolongada a gente não recebe de jeito nenhum. Só dizem que não
chegou e não tem previsão”, informou a associação. Segundo a APAD, os pacientes
enfrentam essas dificuldades desde maio deste ano.
A presidente da SBEM/RN enfatiza que, sem o
fornecimento adequado de insulina, os pacientes correm risco de morte iminente.
“Para o tipo 1, se ele não usar a medicação, ele vai morrer, porque ele não
sobrevive sem insulina. O tipo 2 ainda tem um remédio que dá uma pequena ajuda.
Então, ele vai precisar da insulina”, destaca.
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