Dez dias após o julgamento que condenou Jair
Bolsonaro a 27 anos de prisão, o clima entre os ministros da Primeira Turma do
Supremo Tribunal Federal (STF) e Luiz Fux segue “azedo”, segundo relatos de
magistrados da corte.
Fux foi o único dos cinco integrantes do colegiado
que votou pela absolvição do ex-presidente e da maioria dos condenados da trama
golpista. Os ministros afirmam que não houve embates ou troca de farpas nos
bastidores, mas dizem que o climão ficou instaurado e que é “muito improvável”
uma reaproximação de qualquer membro da Primeira Turma, inclusive Alexandre de
Moraes, com Fux.
A avaliação é que a inclusão da advogada Viviane
Barci de Moraes, esposa do ministro, na Lei Magnitsky, pode piorar ainda mais o
clima.
Os magistrados destacam que o problema não foi a
divergência do voto de Fux, mas a maneira como ele mostrou sua posição. A
leitura majoritária entre os membros da Primeira Turma é que o colega não
proferiu seu voto em um rompante e trabalhou detalhadamente numa fala que
abastece o discurso de Jair Bolsonaro e seus aliados de ataques ao STF e seus
membros.
— É muito difícil o clima voltar ao normal. O
ministro Fux sabia bem o que estava fazendo e não fez uma manifestação em um
arroubo. Tudo que leu foi escrito, estudado. Ele, inclusive, evitou ir na sala
de lanches durante o julgamento para nos encontrar — disse um magistrado.
Os ministros relataram que Fux evitou encontrar os
colegas nos intervalos do julgamento de Bolsonaro porque sabia do “clima de
indignação” de todos.
A leitura dos magistrados é que, com seu voto, o
ministro não só foi contraditório em relação às posições que sustentou em
julgamentos do 8 de janeiro como também abasteceu os ataques ao STF em um
momento em que o tribunal está pressionado pelos bolsonaristas e pela gestão
Donald Trump.
Outro magistrado descreveu que o ambiente com Fux
seria “o pior possível” e disse que ele “não foi coerente” e ainda “incorporou
uma narrativa que coloca seus colegas e a corte na linha direta de ataques”.
Bela Megale - O Globo
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