O voto do ministro Luiz Fux, que defendeu a
tese de que a ação penal sobre a trama golpista que envolve o
ex-presidente Jair Bolsonaro não deveria tramitar no Supremo
Tribunal Federal (STF), provocou reações imediatas do relator do
processo, Alexandre de Moraes. Durante a sessão desta quarta, 10, da
Primeira Turma, Moraes recorreu em vários momentos a auxiliares para receber
novos documentos e reforçar suas anotações.
O ministro pediu ao menos quatro levas de papéis, a
última entregue dentro de um envelope. Em outra ocasião, no período da tarde,
recebeu um calhamaço de folhas que acomodou ao lado da Constituição, já aberta
sobre a mesa. Ele parecia preparar terreno para rebater ponto a ponto a fala de
Fux, que se estendeu das 9h e, às 16h30, ainda não havia terminado.
Munido de uma caneta vermelha e de dois marcadores
de texto, o ministro dedicou-se a grifar trechos dos documentos e a tomar notas
em silêncio, enquanto o colega sustentava que não havia provas de que os acusados
agiram de forma organizada ou emitiram ordens para as invasões.
No fim da tarde, por volta das 17h, Moraes devolveu
quatro calhamaços ao auxiliar a quem recorreu durante toda a sessão de
julgamento, enquanto Fux votava a culpabilidade ou inocência de cada um dos
réus. Pouco depois, em um raro momento da sessão plenária desta quarta, trocou
impressões com Cármen Lúcia. A magistrada é a próxima a votar,
provavelmente na sessão de quinta-feira, a partir das 9h.
Ainda durante o voto de Fux, Moraes pegou uma maleta
executiva e retirou documentos dela. Folheou papéis e os guardou em um envelope
pardo. Na sequência, pegou um grampeador e lacrou o envelope. Interlocutores do
magistrado lembram que é comum o ministro rascunhar de próprio punho as
contraditas de cada tese divergente da sua para apresentá-las no momento
oportuno.
Desconforto entre ministros da Primeira Turma
As reações de Moraes se somaram ao desconforto
visível de outros ministros da Turma. Dino, com a mão no queixo, acompanhava em
silêncio, enquanto Cármen Lúcia fazia anotações constantes. Apenas Cristiano
Zanin olhava com mais frequência para Fux, ainda que de forma intercalada com
consultas a um laptop.
O contraste entre os votos já proferidos evidencia o
choque de interpretações dentro do Supremo. Para Moraes e Dino, há uma
“avalanche de provas” demonstrando a articulação golpista. Para Fux, falta
materialidade suficiente para sustentar as condenações.
Os ministros seguiram o combinado de não interromper
o voto de Fux, e sequer acionaram os microfones que têm em cada uma das mesas.
Os aparelhos estão abaixados, como se os magistrados não pretendessem de fato
usá-los.
O movimento silencioso do relator, colecionando
documentos e notas, sugere que a resposta a esse embate ainda está em construção
— e promete ser central na reta final do julgamento.
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