Os tentáculos do Primeiro Comando da Capital (PCC)
podem ter chegado ao setor financeiro do Brasil. Segundo a Polícia Federal,
agências da Caixa e do Santander foram usadas para fazer movimentações
milionárias para a organização criminosa que dominou parte do setor de
combustíveis do país.
Segundo reportagem do Estadão, os acusados fizeram
9.560 depósitos em espécie, que somaram R$ 331 milhões, sem que os órgãos de
controle e fiscalização do setor tivessem sido informados, de acordo com
relatório da PF.
Pelas normas antilavagem de dinheiro estabelecidas
pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), para todas as
operações suspeitas ou acima de R$ 30 mil, os bancos são obrigados a informar
quem são os clientes, a origem do recurso e se a movimentação é normal ou
atípica.
"Não consta a identificação depositante em
nenhum desses depósitos, contrariando obrigatoriedade prevista nos normativos
do Coaf", escreveu o delegado Mateus Marins Corrêa de Sá, do Grupo de
Investigações Sensíveis (Gise) da PF no Paraná, no pedido de prisão dos
acusados investigados na Operação Tank, encaminhado à 13.ª Vara Federal de
Curitiba.
O questionamento sobre o uso das agências surgiu
durante a análise da atuação de duas instituições de pagamento usadas pelo
núcleo do esquema no Paraná. A primeira delas era o BK Bank, que movimentou R$
46 bilhões em cinco anos, dos quais R$ 17,7 bilhões em operações suspeitas,
segundo o Coaf. A segunda era a Tycoon.
Dinheiro vivo
A análise das contas mantidas pelo esquema nas
agências do Santander e da Caixa indica que a principal origem dos recursos -
96,76% dos créditos efetivos - foi depósito em dinheiro vivo. Na Caixa, a
Tycoon mantinha duas contas numa agência em Guarulhos. De acordo com a PF, a
fintech realizou 1.336 depósitos que somaram R$ 164,9 milhões. Tudo sem
identificação de depositante.
Numa das contas da Caixa, depósitos não
identificados foram praticamente a única origem de recursos. E os principais
destinatários deles foram BK Bank (R$ 126.694.615,74) e duas empresas em nome
de parentes de Mourad, a GGX Participações (R$ 21.694.255,68) e a Lega Serviços
Administrativos (R$ 8.550.750,44).
No caso do Santander, o delegado diz que foram
contabilizados R$ 91,2 milhões em créditos efetivos na conta 7560, numa agência
no bairro do Bom Retiro, em Curitiba. Ali, "90,80% do total refere-se a créditos
com o histórico OCT". Foram registradas 8.224 transações com esse
histórico, entre abril de 2020 e março de 2022.
Palavra dos bancos
O Santander informou que "mantém sistemas
robustos e contínuos de controle e reitera seu compromisso rigoroso com a
legalidade, a integridade e a legislação de Prevenção e Combate à Lavagem de
Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo". O banco esclarece que,
"por força destas mesmas normas, está legalmente impedido de comentar
casos específicos".
A Caixa afirmou que "atua conjuntamente com os
órgãos de segurança pública nas investigações e operações que envolvem a
instituição". "Tais informações são consideradas sigilosas e
repassadas exclusivamente à Polícia Federal e demais autoridades competentes."
O banco estatal informou ainda dedicar "atenção especial ao monitoramento
de movimentações financeiras com indícios de lavagem de dinheiro, com a devida
comunicação ao Coaf".
Em nota divulgada no dia da Operação Carbono Oculto,
o BK Bank informou que "conduz todas as suas atividades com total
transparência, observando rigorosos padrões de compliance". A reportagem
não conseguiu localizar a defesa da Tycoon e a de seu sócios. Tanto Mourad,
quanto Beto Loco alegam inocência.
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