O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), desenhou uma estratégia para manter abertas duas opções em
2026: a reeleição no Estado ou uma candidatura à Presidência. Para isso, já
conversa com marqueteiros, promove mudanças na comunicação e calibra seu
discurso para se projetar além do Estado.
A preparação antecipada busca evitar que Tarcísio
parta do zero em uma eventual disputa presidencial. A ideia é chegar ao momento
da decisão já com discurso, equipe e articulação política minimamente
estruturados para dar sustentação ao voo nacional. Se decidir mesmo disputar o
Planalto, ele precisa obrigatoriamente deixar o governo de São Paulo em abril.
Antes categórico ao descartar a Presidência,
Tarcísio mudou o tom e passou a admitir a hipótese diante de aliados, ainda que
faça questão de frisar que sua preferência é permanecer em São Paulo, onde
acredita ter uma reeleição tranquila. O governador reitera que qualquer
movimento dependerá de um pedido expresso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL),
a quem afirma ser leal.
Emissários do governador procuraram, de maneira
informal, alguns marqueteiros, como Chico Mendez e Paulo Vasconcelos, para
discutir o cenário eleitoral, mas as conversas não evoluíram para algo mais
concreto. Segundo fontes do Palácio dos Bandeirantes, o governador também tem
mantido conversas com a equipe de Pablo Nobel, responsável pela campanha
vitoriosa em 2022. Aliados afirmam que a tendência é que Tarcísio reedite a
parceria. Procurado, Nobel não quis comentar.
O governo de São Paulo se manifestou por meio de
nota. “Não há emissários responsáveis por montar equipes do governador. Essa
decisão é exclusiva de Tarcísio de Freitas, que é quem dialoga e escolhe sua
equipe”, infirmou a assessoria do governador.
A indefinição sobre o futuro já se reflete na agenda
de Tarcísio. Enquanto intensifica viagens ao interior de São Paulo para
inaugurar obras e anunciar recursos a municípios, inclusive aos finais de
semana, o governador também marca presença em eventos do mercado financeiro e
mantém encontros reservados com empresários. Nessas conversas, expõe sua visão
sobre os desafios do Brasil, defende medidas para alavancar o crescimento econômico
do País e critica o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O Palácio dos Bandeirantes disse que Tarcísio mantém
diálogo com os diferentes setores da sociedade, “incluindo empresariado e
representantes do mercado financeiro, sendo convidado e participando de
encontros, reuniões e eventos desde o primeiro dia de gestão”.
O Executivo afirmou ainda que a Caravana 3D,
iniciativa pela qual Tarcísio percorre o interior, foi idealizada no final de
2024 para percorrer todas as regiões do Estado com foco “nos três pilares da
gestão: desenvolvimento, dignidade e diálogo”.
“A iniciativa busca fortalecer a articulação com os
municípios, garantindo entregas e investimentos alinhados às necessidades
regionais e que contribuam para a melhoria da qualidade de vida da população”,
disse o Bandeirantes.
Em paralelo, o governador busca dar uma guinada na
comunicação para explorar melhor as marcas da sua gestão e se projetar como uma
liderança nacional. A inflexão já aparece nos discursos mais recentes, agora
mais duros contra o governo federal e embalados no antipetismo.
Na semana passada, durante fórum com governadores
promovido pelo Banco BTG Pactual, Tarcísio disse que “o Brasil não aguenta mais
Lula”.
“Nós estamos há 40 anos discutindo a mesma pessoa. O
Brasil não aguenta mais excesso de gasto. O Brasil não aguenta mais, não tolera
mais aumento de imposto. O Brasil não aguenta mais corrupção. O Brasil não
aguenta mais o PT. O Brasil não aguenta mais o Lula”, afirmou Tarcísio. “É
preciso falar dessa safra de governadores. Nós não precisamos mais da
mentalidade atrasada, da mentalidade de 20 anos atrás.”
O tom contrasta com o do início da gestão, quando
dizia ser o governador de oposição que todos queriam ter justamente por evitar
críticas.
A preparação de Tarcísio para uma eventual disputa
nacional exige uma articulação cuidadosa: o governador e seus aliados têm o
desafio de se estruturar sem dar a impressão de que Tarcísio já está pronto
para entrar em campo, o que poderia irritar a base bolsonarista. Mensagens extraídas
do celular do ex-presidente Jair Bolsonaro, tornadas públicas no dia 20 de
agosto, mostram Eduardo Bolsonaro (PL-SP) incomodado com a possibilidade de
Tarcísio suceder o pai.
Num jantar oferecido pelo presidente do União
Brasil, Antônio Rueda, um dia antes da divulgação das mensagens do celular de
Bolsonaro, Tarcísio não abordou uma eventual candidatura a presidente e fez
discurso voltado a manifestar solidariedade a Bolsonaro e analisar as
perspectivas econômicas do Brasil.
Estadão
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