As novas porcentagens obrigatórias de
biocombustíveis nos combustíveis fósseis começaram a valer no início de agosto,
conforme decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A gasolina
passou a conter 30% de etanol anidro — antes eram 27,5% – e o diesel passou de
14% para 15% de biodiesel. No entanto, a redução do preço dos combustíveis para
o consumidor, o que foi publicizado pelo governo federal na ocasião do anúncio
da nova medida, é improvável, de acordo com o Sindicato do Comércio Varejista
de Derivados de Petróleo do RN (Sindipostos/RN).
Projeções do CNPE indicam que a nova mistura pode
resultar em uma redução de até R$ 0,11 no preço da gasolina para o consumidor
final, o que equivaleria a uma economia de até R$ 0,02 por quilômetro rodado. O
autônomo Gleidson dos Santos, que gasta cerca de R$ 400 por mês com gasolina,
não acredita que o impacto seja significativo: “Muito pouca a diferença; é
praticamente nada”, avalia.
O motociclista de aplicativo Vanderley Gonçalves
afirma que a gasolina é um dos seus maiores gastos durante o mês. Ele vê a
mudança com ceticismo. “Não vai fazer diferença, a gasolina sempre está cara e
a gente trabalha para sobreviver. Não acredito em nada disso”, afirma. Segundo
estimativa do governo, motoristas de aplicativo ou taxistas que rodam cerca de
7,5 mil quilômetros por mês poderiam economizar até R$ 150 mensais.
Mesmo com a nova composição, o impacto no bolso do
consumidor deve ser praticamente nulo, segundo o presidente do Sindipostos/RN,
Maxwell Flor. “A redução do preço é muito improvável. Na gasolina, segundo os
cálculos da Fecombustíveis, essa redução não passaria de 2 centavos. Já no
Diesel, o cenário é o inverso: a mudança trouxe um aumento de aproximadamente 2
centavos”, disse.
Para o presidente do Sindipostos, essas variações
mínimas tornam os efeitos praticamente invisíveis no dia a dia do consumidor.
“Como são valores muito baixos, essas oscilações muitas vezes ficam
imperceptíveis ao consumidor”, completou.
A medida, de acordo com o governo federal, visa
reduzir a dependência da gasolina importada e estimular a produção nacional. A
expectativa é que o Brasil deixe de ser importador líquido e possa gerar um
excedente exportável de até 700 milhões de litros por ano.
A professora Lúcia Ferreira manifesta preocupação com a qualidade do
combustível. “Eu acho preocupante para o carro. Colocar mais etanol do que
gasolina, acho que não vai valer a pena”, comentou.
Durante este período inicial de vigência, uma das
principais preocupações do setor é a fiscalização de produtos em transição. Em
ofício à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a
Fecombustíveis alertou para o risco de autuações indevidas, já que muitos postos
ainda podem ter estoques com os percentuais antigos. Em resposta, a ANP optou
por flexibilizar temporariamente a fiscalização.
Para a Fecombustíveis, embora a medida seja
relevante no contexto da transição energética, os preços dos combustíveis são voláteis,
por dependerem de produtos agrícolas e estarem sujeitos a fatores climáticos e
de safra. “As variações decorrem de fatores climáticos que afetam a
produtividade das safras ou do período de queda de produção na entressafra”,
disse por meio de nota. “As alterações de preços a partir dos aumentos nas
misturas dos biocombustíveis, divulgados na mídia, podem não ocorrer exatamente
como previsto, pois se trata de mera estimativa”, completou.
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