segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Sindicato de irmão de Lula pagava “caixinha” para amiga de ex-ministro

 


Dirigentes do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi) ganhavam comissões toda vez que um aposentado tinha seu benefício do INSS descontado pela entidade. As comissões chegam a pelo menos R$ 4,1 milhões, de acordo com documentos obtidos pelo Metrópoles. Os descontos são investigados na chamada Farra do INSS.

Entre os beneficiados estão a mulher do presidente do Sindicato, Milton “Cavalo” Baptista de Souza, e o marido da diretora jurídica da entidade, a advogada Tonia Andrea Inocentini Galleti.

Tonia Galleti é amiga do ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), e vinha a Brasília com frequência, pois integrava até recentemente o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS). Também fez parte da equipe de transição do governo Lula, em 2022, tratando de temas previdenciários.

Ela é filha do ex-presidente do Sindnapi, morto em agosto de 2023, João Batista Inocentini, o João Feio.

A empresa se chama Gestora Eficiente LTDA e funciona em um prédio comercial no bairro da Liberdade, em São Paulo (SP). Atualmente, os sócios são Pamela Silva Grecco e o advogado Carlos Afonso Galleti Junior, marido de Tonia Galleti. A mulher de Milton Cavalo, a decoradora Daugliesi Giacomasi Souza, foi sócia da Gestora Eficiente até junho de 2024.

Sediado em São Paulo e ligado à Força Sindical, o Sindnapi tem como vice-presidente o irmão mais velho do presidente Lula, o sindicalista José Ferreira da Silva, o Frei Chico.

O Sindnapi é uma das entidades investigadas pela Polícia Federal na Operação Sem Desconto, deflagrada em abril deste ano. A investigação da PF se baseia em uma série de reportagens do Metrópoles que ficou conhecida como a “Farra do INSS”.

Notas fiscais da Gestora Eficiente obtidas pelo Metrópoles mostram que a empresa recebeu ao menos R$ 4,1 milhões em comissões do Sindicato, do banco Bmg e em pagamentos da seguradora Generali, que era ligada ao Bmg. O montante se refere ao período de 2020 a 2023 e é parcial, pois diversas notas fiscais estão faltando e outras são ilegíveis.

A parceria do Sindnapi com o Bmg e com a financeira do banco, as Lojas Help!, resultou em centenas de reclamações em sites da internet e processos judiciais. Há vários relatos de aposentados que afirmam que os descontos do Sindnapi começaram depois que eles buscaram o Bmg para fazer um empréstimo consignado.

Em alguns casos, os atendentes do Bmg ou das Lojas Help! disseram que o desconto do Sindnapi era necessário para garantir o empréstimo. Em outros, nem mencionaram o sindicato. Os aposentados relatam que seus dados e assinaturas foram captados pelo Bmg ao pedir o empréstimo e usados indevidamente para autorizar os descontos em favor do Sindnapi.

Ganhos de dirigentes explodiram na Farra do INSS

Os documentos obtidos pelo Metrópoles mostram que o papel da Gestora Eficiente, controlada pelos cônjuges dos dirigentes do Sindnapi, era processar as fichas entregues pelo sindicato e pelo Bmg e encaminhar a documentação à Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev), para que o Sindnapi pudesse receber os descontos dos aposentados.

O pagamento era por produtividade: ou seja, quando o número de aposentados sendo descontados pelo Sindnapi aumentou fortemente, os pagamentos à mulher de Milton Cavalo e ao marido de Tonia Galleti também cresceram.

As informações parciais obtidas pela reportagem mostram ganhos de R$ 340,4 mil em comissões no ano de 2020. Já em 2022, foram pelo menos R$ 1,08 milhão.

Ao mesmo tempo, os ganhos do Sindnapi com os descontos dos aposentados cresceram de forma abrupta. Em 2020, a entidade recebeu R$ 23 milhões do INSS, fruto dos descontos nas aposentadorias. Em 2024, esse valor subiu para R$ 154,7 milhões, segundo informações públicas do Portal da Transparência. Ou seja, um aumento de 563,9%.

Os documentos obtidos pelo Metrópoles também mostram que a maioria dos novos associados do Sindnapi, no período desse “boom”, foi captada por meio da parceria do sindicato com o Bmg.

No ano de 2022, por exemplo, apenas 747 pessoas foram à sede do Sindnapi, no centro de São Paulo, para se associar à entidade. Já as adesões por meio do Bmg somaram 106 mil. Ou seja, os filiados diretamente no Sindnapi representaram só 0,7% do total naquele ano.

Os documentos também mostram que a Gestora Eficiente fez pagamentos a familiares de Tonia Galleti, como Nita Gabriela Inocentini e Neuza Pereira Inocentini.

Em maio deste ano, um relatório da Controladoria-Geral da União já abordava o aumento explosivo no número de filiados do Sindnapi.

Em um único mês, em junho de 2023, a entidade ganhou 67.255 novos filiados, segundo a CGU. Só a Generali pagou R$ 1,4 milhão à Gestora Eficiente nesse ano. No lote de notas fiscais obtido pelo Metrópoles, não constam os pagamentos do Bmg e do Sindnapi para a firma em 2023, o que sugere que os ganhos totais foram ainda maiores.

Mesmo com todas as evidências já conhecidas sobre a atuação do Sindnapi, a Advocacia-Geral da União (AGU) deixou de ajuizar ações contra a entidade comandada por Milton Cavalo e Tonia Galleti. A AGU também se recusa a prestar informações sobre o motivo dessa decisão, dizendo apenas que nada impede a proposição de novas ações no futuro.

Metrópoles – Andreza Matais

 

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