A seca já compromete colheitas, pastagens e a renda
de famílias rurais no Rio Grande do Norte, onde 61 cidades enfrentam situação
grave. Diante do cenário, o governo avalia decretar emergência, enquanto
prefeituras relatam gastos de pelo menos R$ 300 mil em ações como abastecimento
por carros-pipa, abertura de barreiros e perfuração de poços.
Um dos municípios mais afetados pela seca no Estado
é Luís Gomes, no Alto Oeste potiguar. A cidade é uma das 21 que estão em
rodízio de abastecimento em 2025, segundo dados da Companhia de Águas e Esgotos
do RN. Desde março, o município decretou emergência junto ao Governo Federal.
“A seca tem afetado a pastagem dos animais. Os
criadores têm mais dificuldade de pasto e de outras formas de alimentação para
os rebanhos. Também na parte da agricultura, houve prejuízos na colheita,
porque tivemos chuvas irregulares, o que prejudicou o preenchimento do grão do
milho e provocou perdas severas no feijão durante a formação das vagens. Foi
uma perda severa nas lavouras temporárias e típicas da nossa serra”, explica
Júnior Fontes, subcoordenador de Defesa Civil da Secretaria Municipal de
Agricultura e Defesa Civil de Luís Gomes.
O açude que abastece o município, o Dona Lulu Pinto,
está com apenas 1,78% da sua capacidade, de 1.674.070 m³. O secretário informa
que, nos últimos seis meses, foram investidos R$ 300 mil em ações como
manutenção de poços artesianos, perfuração de novos poços e transporte de água
em carros-pipa, com captação no município de Paraná, também no Alto Oeste. Ele
revela ainda que a Prefeitura já prepara novo pedido de prorrogação da situação
de emergência junto ao Governo Federal.
Localizado também no Alto Oeste, Tenente Ananias é
outro município que convive com dificuldades relacionadas à seca. Segundo José
Lindenberg Melo, da Secretaria Municipal de Agricultura, Meio Ambiente,
Recursos Hídricos e Defesa Civil, uma das principais reivindicações é a entrada
em operação da adutora de Pau dos Ferros.
“Estamos pleiteando junto ao Governo do Estado que a
adutora de Pau dos Ferros seja colocada em funcionamento. Não podemos esperar
faltar água para depois ela ser ligada”, explica o secretário. Ele acrescenta
que a prefeitura investe, mensalmente, R$ 200 mil em manutenção de poços,
barreiros e no abastecimento por carros-pipa para 272 famílias da zona rural.
Também aponta a expectativa de decreto de emergência estadual por parte do
governo.
Outro caso é Acari, no Seridó potiguar, que
registrou chuvas abaixo da média na quadra chuvosa de 2025. Segundo o
secretário de Agricultura do município, Chico de Onessino, os trabalhadores da
zona rural foram os mais afetados neste ano. Ele cita um projeto em parceria
com a Riachuelo para compra direta de algodão de produtores familiares. Se
antes 15 produtores participavam da ação, apenas 6 conseguiram se manter.
“Eles não conseguiram resistir exatamente pela falta
de chuvas. Tivemos em janeiro uma chuva boa, em torno de 180 milímetros, mas
nos meses seguintes praticamente não choveu”, relata. Ele acrescenta que a
prefeitura investiu em barreiros para armazenagem de água na zona rural. “Temos
feito melhorias nos barreiros e ampliação de cacimbas. É algo muito demandado
na região porque temos o rio Acauã e temos trabalhado nessas ampliações”,
afirma, apontando ainda a necessidade de novas perfurações de poços na cidade
por parte do Governo do Estado.
Em nota enviada à TN, a Caern informou que a Adutora
Alto Oeste (subsistema Pau dos Ferros) tem captação na barragem de Pau dos
Ferros. O sistema foi construído e projetado como alternativa para reforço de
água às cidades da região, que possuem mananciais pequenos e podem precisar de
complemento em anos de estiagem.
“É o caso de Luís Gomes, que neste momento tem o
Açude Lulu Pinto com volume perto do chamado ‘volume morto’. Para garantir o
abastecimento da cidade, a Caern inicia os testes com a adutora nesta
terça-feira (26). Além de Luís Gomes, terão reforço no abastecimento, a partir
da adutora, Riacho de Santana e Água Nova. É possível que a adutora seja
utilizada de forma permanente, quando a transposição do Rio São Francisco for
estabelecida”, disse a estatal.
Emergência
O secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (Semarh), Paulo Varella, disse que o Estado ainda não tem prazo para
definir se vai decretar emergência ou não em razão da seca, mas destacou que
mais de 60 poços já foram perfurados em 2025, com expectativa de chegar a 500
até abril de 2026.
“Quem vive no semiárido não pode ter a seca como uma
surpresa. Nós temos, de fato, a certeza da época em que não chove e a incerteza
dos meses em que deveria chover”, declarou.
Segundo ele, o Estado tem se preparado para reduzir
os efeitos da seca com ações estruturantes e não estruturantes. “As ações
estruturantes são obras, como perfuração de poços, recuperação de reservatórios
e barragens, implantação de adutoras em situações críticas ou de colapso. Já as
ações não estruturantes envolvem alocações de água. Nessa linha, foi autorizado
um programa inédito de recuperação de barragens. Pela primeira vez, 28
barragens estão sendo recuperadas, 18 já em execução e 10 concluídas”, afirmou.
O secretário acrescentou que há medidas ligadas à
produção agropecuária, como a fabricação de 10 mil fardos de feno por mês, que
serão vendidos a preço subsidiado aos agricultores, e a perspectiva de ampliar
a cota de milho da Conab, de 22 para 45 mil toneladas.
Na semana passada, prefeitos de várias cidades do
Estado estiveram na Assembleia Legislativa para cobrar soluções para o colapso
hídrico, principalmente a perfuração de poços no interior.
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