terça-feira, 26 de agosto de 2025

Seca já compromete colheita, pastos e agricultura familiar em 61 cidades do RN

 


A seca já compromete colheitas, pastagens e a renda de famílias rurais no Rio Grande do Norte, onde 61 cidades enfrentam situação grave. Diante do cenário, o governo avalia decretar emergência, enquanto prefeituras relatam gastos de pelo menos R$ 300 mil em ações como abastecimento por carros-pipa, abertura de barreiros e perfuração de poços.

Um dos municípios mais afetados pela seca no Estado é Luís Gomes, no Alto Oeste potiguar. A cidade é uma das 21 que estão em rodízio de abastecimento em 2025, segundo dados da Companhia de Águas e Esgotos do RN. Desde março, o município decretou emergência junto ao Governo Federal.

“A seca tem afetado a pastagem dos animais. Os criadores têm mais dificuldade de pasto e de outras formas de alimentação para os rebanhos. Também na parte da agricultura, houve prejuízos na colheita, porque tivemos chuvas irregulares, o que prejudicou o preenchimento do grão do milho e provocou perdas severas no feijão durante a formação das vagens. Foi uma perda severa nas lavouras temporárias e típicas da nossa serra”, explica Júnior Fontes, subcoordenador de Defesa Civil da Secretaria Municipal de Agricultura e Defesa Civil de Luís Gomes.

O açude que abastece o município, o Dona Lulu Pinto, está com apenas 1,78% da sua capacidade, de 1.674.070 m³. O secretário informa que, nos últimos seis meses, foram investidos R$ 300 mil em ações como manutenção de poços artesianos, perfuração de novos poços e transporte de água em carros-pipa, com captação no município de Paraná, também no Alto Oeste. Ele revela ainda que a Prefeitura já prepara novo pedido de prorrogação da situação de emergência junto ao Governo Federal.

Localizado também no Alto Oeste, Tenente Ananias é outro município que convive com dificuldades relacionadas à seca. Segundo José Lindenberg Melo, da Secretaria Municipal de Agricultura, Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Defesa Civil, uma das principais reivindicações é a entrada em operação da adutora de Pau dos Ferros.

“Estamos pleiteando junto ao Governo do Estado que a adutora de Pau dos Ferros seja colocada em funcionamento. Não podemos esperar faltar água para depois ela ser ligada”, explica o secretário. Ele acrescenta que a prefeitura investe, mensalmente, R$ 200 mil em manutenção de poços, barreiros e no abastecimento por carros-pipa para 272 famílias da zona rural. Também aponta a expectativa de decreto de emergência estadual por parte do governo.

Outro caso é Acari, no Seridó potiguar, que registrou chuvas abaixo da média na quadra chuvosa de 2025. Segundo o secretário de Agricultura do município, Chico de Onessino, os trabalhadores da zona rural foram os mais afetados neste ano. Ele cita um projeto em parceria com a Riachuelo para compra direta de algodão de produtores familiares. Se antes 15 produtores participavam da ação, apenas 6 conseguiram se manter.

“Eles não conseguiram resistir exatamente pela falta de chuvas. Tivemos em janeiro uma chuva boa, em torno de 180 milímetros, mas nos meses seguintes praticamente não choveu”, relata. Ele acrescenta que a prefeitura investiu em barreiros para armazenagem de água na zona rural. “Temos feito melhorias nos barreiros e ampliação de cacimbas. É algo muito demandado na região porque temos o rio Acauã e temos trabalhado nessas ampliações”, afirma, apontando ainda a necessidade de novas perfurações de poços na cidade por parte do Governo do Estado.

Em nota enviada à TN, a Caern informou que a Adutora Alto Oeste (subsistema Pau dos Ferros) tem captação na barragem de Pau dos Ferros. O sistema foi construído e projetado como alternativa para reforço de água às cidades da região, que possuem mananciais pequenos e podem precisar de complemento em anos de estiagem.

“É o caso de Luís Gomes, que neste momento tem o Açude Lulu Pinto com volume perto do chamado ‘volume morto’. Para garantir o abastecimento da cidade, a Caern inicia os testes com a adutora nesta terça-feira (26). Além de Luís Gomes, terão reforço no abastecimento, a partir da adutora, Riacho de Santana e Água Nova. É possível que a adutora seja utilizada de forma permanente, quando a transposição do Rio São Francisco for estabelecida”, disse a estatal.

Emergência

O secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Paulo Varella, disse que o Estado ainda não tem prazo para definir se vai decretar emergência ou não em razão da seca, mas destacou que mais de 60 poços já foram perfurados em 2025, com expectativa de chegar a 500 até abril de 2026.

“Quem vive no semiárido não pode ter a seca como uma surpresa. Nós temos, de fato, a certeza da época em que não chove e a incerteza dos meses em que deveria chover”, declarou.

Segundo ele, o Estado tem se preparado para reduzir os efeitos da seca com ações estruturantes e não estruturantes. “As ações estruturantes são obras, como perfuração de poços, recuperação de reservatórios e barragens, implantação de adutoras em situações críticas ou de colapso. Já as ações não estruturantes envolvem alocações de água. Nessa linha, foi autorizado um programa inédito de recuperação de barragens. Pela primeira vez, 28 barragens estão sendo recuperadas, 18 já em execução e 10 concluídas”, afirmou.

O secretário acrescentou que há medidas ligadas à produção agropecuária, como a fabricação de 10 mil fardos de feno por mês, que serão vendidos a preço subsidiado aos agricultores, e a perspectiva de ampliar a cota de milho da Conab, de 22 para 45 mil toneladas.

Na semana passada, prefeitos de várias cidades do Estado estiveram na Assembleia Legislativa para cobrar soluções para o colapso hídrico, principalmente a perfuração de poços no interior.

 

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