O Rio Grande do Norte inicia a safra 2025/2026 de
frutas frescas com uma expectativa histórica para o Porto de Natal: movimentar
até 300 mil toneladas, volume que dobrará a quantidade exportada em relação à
safra anterior e consolidará o terminal potiguar como o principal polo nacional
de exportação frutícola. O processo foi iniciado no último domingo (10) com o
primeiro navio da safra, e oficialmente lançado no dia seguinte, reforçando a
retomada do papel estratégico do Porto de Natal na cadeia produtiva da
fruticultura potiguar.
Este avanço expressivo é fruto de uma articulação
entre a Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), a Agrícola Famosa —
maior exportadora potiguar do setor — e o Governo do Estado, que vem investindo
em infraestrutura para viabilizar o aumento do fluxo exportador. Carlo Porro,
CEO da Agrícola Famosa, destaca as vantagens competitivas do porto e do modal
dedicado: “As vantagens de ter um porto dedicado e, principalmente, um navio
dedicado, são a qualidade da fruta e o tempo de viagem. O navio não para em
outros portos, a fruta chega mais rápido e no padrão ideal. Isso ajuda muito na
qualidade da fruta”, explica.
A Agrícola Famosa prevê exportar cerca de 300 mil toneladas
de melões e melancias nesta safra, além de uma pequena participação de mangas e
uvas. O quantitativo representa o dobro do volume exportado pelo Porto de Natal
na safra passada. “Se conseguirmos estender a safra por mais dois meses, até
março e abril, quando antes chegava até o final de fevereiro, acredito que o
Porto de Natal se tornará o maior porto fruteiro do país”, completa Porro.
A empresa já transfere para Natal parte da carga que
antes seguia por outros portos, com o terminal respondendo atualmente por 65% a
70% das exportações da Agrícola Famosa.
A Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande
do Norte (Faern) avalia positivamente o crescimento do volume exportado pelo
porto, mas alerta para a concentração da atividade em um único operador. “O
volume exportado saltou de 46,4 mil toneladas na safra 2023/2024 para 131,5 mil
toneladas na 2024/2025. Isso reforça o papel da Agrícola Famosa como vetor da
fruticultura potiguar, mas a dependência de um único operador limita a
diversificação de riscos e estabilidade a longo prazo,” analisa o presidente
José Vieira, da Faern.
Embora o Porto de Natal tenha avançado em
infraestrutura, com câmaras frias e melhorias logísticas, Vieira aponta
limitações operacionais que ainda impactam a competitividade: restrições de
calado, incapacidade de receber navios de grande porte, escalas pouco
frequentes e baixa previsibilidade de atracação. Ainda assim, ele reconhece que
a rota direta encurta o tempo e reduz custos para mercados europeus, Rússia,
Oriente Médio e Canadá — que permanecem como os principais destinos das frutas
potiguares, enquanto o mercado americano representa menos de 5% da produção.
Sobre o impacto das tarifas impostas pelos Estados
Unidos, o setor considera que o efeito direto na fruticultura do RN é restrito,
mas não desprezível. Vieira pondera que “a manutenção de tarifas elevadas reduz
a competitividade, afeta segmentos especializados e dificulta a diversificação
de mercados, especialmente para frutas premium”.
O secretário de Desenvolvimento Econômico do RN,
Alan Silveira, confirma a meta estadual de ultrapassar as 300 mil toneladas na
safra 2025/2026. Ele destaca que, além das frutas tradicionais — mamão,
melancia, manga e melão —, a banana, castanha de caju e coco também vêm
ganhando relevância nas exportações. Segundo Silveira, as exportações de frutas
do RN mais do que dobraram em seis anos, saindo de US$ 120 a 130 milhões para
superar US$ 250 milhões, o que trouxe aumento de investimentos, geração de
empregos e acesso a tecnologias avançadas, com reflexos positivos em regiões
produtoras como Mossoró, Vale do Açu e Chapada do Apodi.
Infraestrutura
Para garantir a operação da safra, a Codern realizou
uma dragagem emergencial no canal de acesso ao porto, removendo um banco de
areia para manter o calado em 10 metros. O investimento foi de R$ 6,4 milhões.
Além disso, o governo federal anunciou esta semana R$ 130 milhões em novos
investimentos, incluindo reforma de armazéns, galpões e instalação de usina
fotovoltaica, com obras já iniciadas. A estatal prevê que a ampliação do calado
para 12 metros e a instalação das defensas da Ponte Newton Navarro
possibilitarão a passagem de navios 24 horas por dia, atraindo novos clientes
para o terminal.
Atualmente, o Porto de Natal movimenta cerca de 10
mil toneladas semanais de frutas, concentradas na exportação feita pela
Agrícola Famosa. Porém, a Codern busca ampliar o atendimento e a diversidade de
cargas, incluindo a possibilidade de exportar minério de ferro, açúcar e gado
vivo nos próximos anos, com expectativa de iniciar a movimentação do minério já
em 2027.
O governo do Estado diz que mantém negociações com
outros potenciais exportadores e acompanha de perto a operação do porto para
garantir que as melhorias e investimentos possam ampliar o volume e a qualidade
dos serviços prestados, tornando Natal uma plataforma competitiva e sustentável
para o setor frutícola e outras cadeias produtivas.
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