Apesar de liderar a produção nacional de energia
eólica e ter vocações consolidadas em turismo, fruticultura e mineração, o Rio
Grande do Norte enfrenta dificuldades para transformar essas vantagens em
crescimento econômico consistente. Problemas em infraestrutura, saneamento,
segurança e conectividade reduzem a competitividade do estado, dificultam a
atração de investimentos privados e limitam setores estratégicos, como turismo,
energia renovável e logística.
O presidente da Federação do Comércio do RN (Fecomércio), Marcelo
Queiroz, destacou os gargalos mais críticos. “Em coleta e tratamento de esgoto,
o RN e Natal estão entre os piores do país”, afirmou, citando dados do
Instituto Trata Brasil (2023). Segundo ele, os desafios logísticos se
multiplicam em rodovias, aeroportos e portos, gerando custos adicionais que
impactam diretamente o comércio e o turismo. “Apesar de investimentos recentes
do governo estadual na recuperação de rodovias, ainda há um longo caminho a
percorrer”, completou.
A defasagem em infraestrutura limita a atração de
novos investimentos. No Ranking de Competitividade Estadual 2024, o RN ocupa a
24ª posição geral, sobretudo por baixos indicadores em infraestrutura,
segurança e solidez fiscal. “Infraestrutura é um dos quatro fatores decisivos
para atrair investimentos, ao lado de mão de obra qualificada, carga tributária
e segurança pública”. Ele acrescentou que o fraco desempenho nesses pilares
reduz a atratividade do estado e eleva o custo operacional das empresas locais.
Apesar das dificuldades, energias renováveis e
turismo ainda oferecem oportunidades inexploradas. “Existem muitas
oportunidades no RN, energias renováveis e turismo são apenas algumas delas. O
estado é líder nacional na geração de energia eólica e já projeta avanços em
novas cadeias, como o hidrogênio verde, a partir da implantação do Porto-Indústria
Verde, em Caiçara do Norte”. Quanto ao turismo, Queiroz observou que, “a
reativação do Aeroporto de Mossoró e a ampliação de rotas nacionais e
internacionais do Aeroporto de Natal tendem a impulsionar o setor”.
Para superar gargalos em saneamento e
infraestrutura, Queiroz defende concessões de serviços, atraindo investimentos
privados capazes de universalizar o acesso até 2033, conforme o Marco Legal do
Saneamento. Ele destacou o papel da Fecomércio no desenvolvimento econômico,
com pesquisas, apoio a empreendedores e eventos culturais, como Carnaval, São
João, Natal e Carnatal. “Nossa atuação gerou mais de dois milhões de
atendimentos em todo o estado, além de contribuir com qualificação profissional
pelo Senac e atuação em educação, saúde, esporte, lazer e assistência social
através do Sesc”.
Turismo potiguar: potencial que é subaproveitado
O RN ainda perde competitividade frente a Ceará e
Bahia por menor conectividade aérea e orçamento reduzido para marketing,
segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Estado
(ABIH-RN), Edmar Gadelha. “Uma estratégia dual, com fomento à conectividade
aérea e campanhas contínuas e assertivas, é essencial. Os investimentos nesses
estados chegam a ter orçamento dez vezes superior ao do RN”.
Ele ressaltou avanços recentes. “A nova rota diária
conectando Natal a Buenos Aires, a operar a partir de dezembro de 2025, é um
marco emblemático. Resultado de ação coordenada do Governo do Estado, serve de
modelo replicável e demonstra que a estratégia correta está sendo
implementada”, afirmou.
O turismo gera empregos e renda de forma horizontal,
impactando taxistas, agricultores e fornecedores de hotéis. “Nos cinco
primeiros meses de 2025, o RN registrou aumento de 7,5% no faturamento do
turismo em comparação com o mesmo período de 2024. Apenas em maio, faturamos R$
106,4 milhões, crescimento de 4,1% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Nosso potencial de crescimento é inesgotável”, disse Gadelha.
Segurança e qualidade urbana: desafios para o turismo
Segurança e infraestrutura urbana ainda limitam a
competitividade turística. “A insegurança e a precariedade urbana em alguns
locais prejudicam a imagem do destino e dificultam a atração de investimentos.
Este é um desafio complexo que exige ação integrada entre poder público,
iniciativa privada e sociedade civil”, afirmou Gadelha.
Apesar disso, dados do Ministério da Justiça e
Segurança Pública mostram que Natal é a capital mais segura do Nordeste, com
redução de 33,59% nos homicídios entre 2023 e 2024. Para atrair investidores em
hotelaria, resorts e parques temáticos, ele defendeu segurança jurídica,
simplificação de leis, conectividade aérea e marketing consistente.
“É fundamental agilidade e simplificação dos
licenciamentos pelos órgãos responsáveis, com trabalho conjunto entre
iniciativa pública e privada”. Gadelha reforçou a necessidade de diversificar o
turismo além do sol e mar, explorando experiências, aventura, negócios, eventos
e cultura local.
Energia renovável e tecnologia: liderança nacional e
oportunidades globais
O governo estadual, por meio da Secretaria de Estado
de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedec), destacou
avanços estratégicos. “O RN se consolidou como maior hub de serviços em energia
renovável do país. Mais de 10 mil pessoas estão empregadas no setor, e empresas
líderes têm escolhido o estado como base operacional”, informou a pasta. O RN
abriga o maior centro de operação e manutenção da Vestas, líder global em
turbinas eólicas e estruturas da Voltalia em Areia Branca.
O Porto de Natal passa por modernização, incluindo
dragagem do canal de acesso e dos cais, além de melhorias nas defesas das
pontes, permitindo navios de maior porte. O futuro edital de concessão do Pátio
Norte deve viabilizar a exportação de minério de ferro produzido no RN.
Projetos ferroviários estão em desenvolvimento para integrar o Porto Indústria
aos ramais da Transnordestina, criando novas rotas de escoamento com alta
eficiência logística.
No modal aéreo, a nova gestão do Aeroporto de São
Gonçalo pela Zurich promoveu melhorias e ampliou o turismo internacional. A
rota direta Natal-Buenos Aires, articulada com a Emprotur, reforça a
expectativa de crescimento do setor, assim como a intensificação das operações
domésticas.
O RN também investe em transição energética, com
dois projetos em implantação de usinas de hidrogênio verde e novas unidades
previstas, posicionando o estado entre líderes nacionais da Power-to-X. A
expansão de datacenters verdes, que demandam alta disponibilidade de energia
renovável, coloca o RN em posição estratégica para operações tecnológicas de
grande porte. Além disso, o governo articula junto à União a atração de cabos
submarinos de fibra óptica, fortalecendo a infraestrutura digital.
A exploração de petróleo e gás também registra
avanços. “O RN, que há uma década contava com cerca de cinco empresas operando
na Bacia Potiguar, hoje abriga 12 operadoras, sinal de retomada e confiança no
potencial produtivo local”, afirmou a Sedec. As operações envolvem exploração onshore
e offshore, em parceria com empresas privadas e estatais, como a Petrobras.
Desafios históricos
Mesmo com políticas estratégicas e vocações
naturais, gargalos estruturais ainda travam o desenvolvimento do RN. “Os
investimentos recentes são positivos, mas o desafio histórico do saneamento,
combinado com defasagem em rodovias, portos e aeroportos, continua limitando a
competitividade do RN”, destacou Marcelo Queiroz.
Edmar Gadelha reforçou que, “o potencial do turismo
é imenso, mas precisamos integrar esforços entre trade turístico e poder
público. A diversificação da economia, com sinergia entre turismo, indústria,
agricultura irrigada, tecnologia e energia renovável, é o caminho para
consolidar o crescimento”.
O RN enfrenta o dilema de não conseguir transformar recursos e investimentos em
desenvolvimento econômico consistente. Embora setores-chave como logística,
saneamento, turismo e energia renovável tenham avançado, permanecem limitados
por desafios históricos, mantendo o estado abaixo de seu potencial.
O desafio é transformar vocações e oportunidades em
crescimento sustentável e inclusivo, garantindo empregos, renda e qualidade de
vida para a população. Enquanto o RN se consolida como referência nacional em
energia limpa e turismo de experiência, a travessia entre potencial e resultado
efetivo ainda exige coordenação estratégica, investimentos robustos e políticas
públicas integradas.
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