quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Opinião do Estadão: Brasil deve evitar o abraço chinês

 


Brasil deve evitar o abraço chinês

A China tenta usar a beligerância de Trump para atrair o Brasil cada vez mais para sua esfera de influência. Felizmente, por ora, Lula tem resistido. O País precisa se manter equidistante

A nota do Palácio do Planalto sobre o recente telefonema entre os presidentes do Brasil, Lula da Silva, e da China, Xi Jinping, adotou um tom prudente, ao não citar as agressões americanas contra o País e ao focar apenas nas possibilidades de “parceria estratégica bilateral” e de novas oportunidades de negócios com os chineses. Mostrou, ao menos no discurso, que o Brasil, a despeito das inclinações ideológicas do lulopetismo, não está disposto a correr para os braços da China para se abrigar da virulência do presidente americano Donald Trump.

O contraste com o comunicado chinês a respeito do telefonema não poderia ser mais evidente. A nota de Pequim exalta a intenção brasileira de fortalecer a comunicação e a coordenação com a China em mecanismos multilaterais como o Brics, de opor-se a atos de intimidação unilateral e de defender os interesses comuns de todos os países. Ademais, destacou o apoio chinês ao povo brasileiro na defesa de sua soberania nacional e de seus legítimos direitos e interesses, uma clara referência às chantagens de Trump. Ou seja, trata-se de um comunicado com forte caráter político, que na prática procura retratar o Brasil como um país ansioso por estreitar os laços com Pequim a fim de responder ao bullying dos EUA. Tudo isso é obviamente muito conveniente para a China, que tenta ampliar seu raio de alcance comercial e diplomático na sua guerra particular contra os EUA.

A beligerância com que Trump tem tratado o País é útil aos objetivos dos chineses, que há tempos tentam convencer o Brasil a aderir formalmente à Nova Rota da Seda, projeto por meio do qual a China busca exercer sua influência global via investimentos de infraestrutura e de comunicações executados e financiados por empresas e bancos chineses.

Tal alinhamento, por óbvio, não viria sem um custo geopolítico elevado, e o Brasil, felizmente, tem resistido a essa armadilha. Apesar das dificuldades impostas por Trump, a economia brasileira tem porte mais que suficiente para manter sua tradição de equilíbrio e independência na defesa de valores e interesses sem abrir mão de fazer negócios com o mundo todo, inclusive a própria China.

Nesse sentido, o discurso do presidente Lula no lançamento do Plano Brasil Soberano foi bastante sensato, diferentemente do tom que o petista costuma adotar nesse tipo de situação. No anúncio de medidas para socorrer os exportadores prejudicados pelo tarifaço norte-americano, Lula descartou adotar, neste momento, medidas para retaliar os EUA e disse, reiteradas vezes, que vai investir na melhoria das relações entre os dois países.

A despeito da evidente má vontade de Trump para negociar com o Brasil, há a possibilidade de que novos produtos sejam incluídos na lista de quase 700 exceções ao tarifaço de 50%, como o café. Lula disse ainda que o País vai procurar novos parceiros comerciais dispostos a comprar parte de nossa produção. Em outubro, ele pretende ir à Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia, e, em janeiro, à Índia, acompanhado de centenas de empresários.

Há muito a ser feito para minimizar o impacto do tarifaço na economia. Além da ajuda imediata aos produtores prejudicados via crédito, devolução e diferimento de tributos, o Ministério da Agricultura e Pecuária tem investido na busca de novos mercados para expandir a exportação de carnes e frango, setor no qual o País tem desempenho promissor e um dos mais afetados pelas sanções.

Embora Lula não tenha tocado no assunto, passou da hora também de acertar os últimos detalhes que ainda atravancam o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Esse acordo, além de ser do interesse de todos, ganhou ainda mais relevância num momento de tantas incertezas.

É importante lembrar que Trump acaba de estender por mais 90 dias a trégua com Pequim para a vigência do tarifaço, o que dá uma dimensão dos limites da agressiva política americana perante o gigante asiático, com quem acumula o maior déficit comercial. Para o Brasil, o momento é desafiador, mas pede serenidade e equidistância, atributos que historicamente têm sido a marca de nossas relações internacionais, a despeito das pressões vindas de todos os lados.

Opinião do Estadão

 

 

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