sábado, 16 de agosto de 2025

Novo colírio aprovado nos EUA pode dispensar os óculos por até 10 horas em caso de ‘vista cansada’

 


Um novo colírio aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, pode ser uma alternativa temporária ao uso de óculos de leitura para pessoas que convivem com presbiopia, quadro chamado popularmente de ‘vista cansada’ e que dificulta enxergar de perto.

O grande diferencial do medicamento, batizado de Vizz, é o tempo de duração do efeito: até 10 horas. Em 2021, outro medicamento com a mesma proposta, o Vuity, também foi aprovado pela FDA, mas com ação de até seis horas.

Na Europa, os princípios ativos dos colírios, aceclidina (Vizz) e pilocarpina (Vuity), foram usados por mais de 50 anos para o tratamento do glaucoma.

“Hoje, (essas substâncias) não são mais usadas, temos drogas melhores para isso. Mas ambos os medicamentos tinham um efeito colateral no tratamento do glaucoma: faziam com que a pupila ficasse muito pequena. Normalmente, ela vai ter uns 4 milímetros (mm) de diâmetro. Com o uso desses colírios, vai para 2 mm. Esse efeito colateral faz com que a visão para perto fique melhor”, detalha Wallace Chamon, professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

De acordo com Halim Féres Neto, oftalmologista e membro do CBO, os colírios agem de forma parecida com câmeras fotográficas: ao diminuir o tamanho da pupila, eles aumentam a profundidade de foco. “Ao fazer isso, o paciente consegue ter uma visão um pouco mais nítida para perto.”

Cabe destacar que a vista cansada é uma condição comum a partir dos 40 anos. “É uma coisa natural, não é uma doença. Todas as pessoas vão apresentar. Alguns fatores fazem com que a pessoa apresente antes, como a hipermetropia, e outros fazem ter um pouco mais tarde, como a miopia”, explica Chamon.

Em testes clínicos, os primeiros efeitos do Vizz foram notados cerca de 30 minutos após a aplicação. No grupo tratado, 71% dos voluntários conseguiram ler com clareza sem comprometer a visão à distância, contra menos de 12% no grupo placebo.

Existem riscos e efeitos colaterais?

Segundo Chamon, cerca de 10% dos pacientes podem ter uma sensação de pressão, dores e vermelhidões nos olhos. Um outro possível efeito é a diminuição da qualidade de visão em ambientes pouco iluminados. “Como a pupila fica pequena, entra menos luz no olho.”

É importante mencionar a possibilidade de doenças associadas. ”Também não vai acontecer com todos os pacientes, mas alguns deles têm maior risco de descolamento de retina, que é uma doença séria. O uso desse tipo de colírio pode aumentar a chance desse tipo de complicação em até duas vezes”, destaca o professor.

“Por isso, os pacientes não devem usar esses colírios sem antes serem avaliados por um oftalmologista, para verificar se não apresentam risco aumentado para o quadro”, adiciona.

Neste momento, o recado vale principalmente para quem faz viagens ao exterior, já que o produto ainda não está disponível no Brasil.

Os colírios podem substituir definitivamente os óculos?

Apesar dos benefícios, os colírios não substituem totalmente o uso de óculos. Um dos motivos é a dificuldade em enxergar de noite ou em ambientes pouco iluminados. Outro fator tem a ver com a duração do efeito – no caso do Vizz, de 10 horas.

Mas, para determinadas atividades, o uso é especialmente bem-vindo. Um exemplo é a prática de esportes.

“Tenho um paciente que é triatleta, e durante a prática esportiva ele precisa olhar o relógio, o controle da bicicleta, mas não conseguia enxergar. Tentamos um óculos, mas, como ele tem que nadar e a bicicleta é muito agitada, não dava certo. Então, optamos pelas lentes de contato, mas elas incomodavam. Daí, como ele faz as atividades ao ar livre, com abundância de luz, o uso do colírio foi excelente para ele”, exemplifica Chamon. O paciente teve acesso ao medicamento após o médico solicitar a formulação em uma farmácia de manipulação.

“Então, basicamente, para aqueles pacientes que não têm riscos adicionais para o descolamento de retina e que ficam em ambientes bem iluminados, os medicamentos são úteis”, resume.

Estadão

 

 

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