“Não estamos conseguindo dialogar com a nova classe
trabalhadora.”
A avaliação é de Edinho Silva, presidente nacional
do Partido dos Trabalhadores, o PT, em entrevista à BBC News Brasil, na segunda-feira
(18/8).
Assumir que o partido enfrenta dificuldades para
dialogar com a “classe trabalhadora” parece ter um peso extra para a liderança
de um partido cujo nascedouro foi o movimento sindical do final dos anos 1970 e
início dos anos 1980 e que carrega “trabalhadores” no nome.
Aos 60 anos de idade, Edinho Silva assumiu o comando
do PT em julho, ao vencer as eleições internas do partido. Mesmo antes de
vencer a disputa, ele já era apontado como um dos homens de confiança do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Sociólogo, Edinho atribui essa dificuldade às
próprias origens do PT, formado a partir da lógica da defesa de direitos de
trabalhadores com vínculo formal de emprego. Em meio a um mercado de trabalho
novo, o partido, segundo ele, vem precisando modernizar suas propostas.
“Sou defensor de que, em vez de nós ficarmos
tentando regulamentar da perspectiva da CLT (Consolidação das Leis do
Trabalho), que a gente comece a dialogar com esse trabalhador dentro dessa nova
realidade”, diz.
O diagnóstico reflete uma das principais
preocupações do PT neste momento: reconquistar diálogo com setores médios das
periferias e com categorias marcadas pela informalidade, como motoristas de
aplicativo e moto-entregadores.
Essa dificuldade de diálogo se viu refletida, em
grande medida, no campo eleitoral. Em 2024, por exemplo, o partido obteve uma
pequena recuperação no número de prefeituras conquistadas, saindo de 183 para
252. Apesar disso, o partido obteve o comando de apenas uma capital, Fortaleza.
Para Edinho, as urnas mostraram que parte da classe
média brasileira, especialmente a que vive nas periferias das grandes cidades
do país, virou as costas para o partido.
No campo político, Edinho critica o aumento do poder
do Congresso Nacional sobre verbas do orçamento. Estimativas apontam que
deputados e senadores sejam responsáveis pela execução de até R$ 52 bilhões por
meio de emendas parlamentares, o que, segundo Edinho, descaracteriza o
presidencialismo.
Apesar de Lula ter prometido, nas eleições de 2022,
acabar com o chamado “orçamento secreto”, mecanismo que proporcionou esse
aumento no volume de verbas atribuído aos parlamentares, Edinho diz que o
presidente não teve forças para cumprir a promessa.
“Para voltar a caracterizar o presidencialismo,
teríamos que alterar essas normas e, hoje, é impossível você alterar essas
normas com a atual correlação de forças no Congresso Nacional”, afirma.
Apesar dos desafios, Edinho se diz confiante na
força da legenda e no papel central de Lula em 2026.
“Eu tenho certeza absoluta de que o presidente Lula
chegará em 2026 muito competitivo para ganhar as eleições.”
Filiado ao PT desde 1985, Edinho tem longa
trajetória política no partido: foi vereador em Araraquara (SP), prefeito da
cidade por quatro vezes, deputado estadual em São Paulo, ministro-chefe da
Secretaria de Comunicação Social no governo Dilma Rousseff (PT) e coordenador
da campanha de Lula em 2022.
BBC News Brasil
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