A proposta de expansão do Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência (SAMU) no Rio Grande do Norte está gerando divergências entre
gestores municipais e o Governo do Estado. Embora haja consenso sobre a
necessidade de ampliar a cobertura do serviço, a forma de financiamento
apresentada pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) é o ponto de
maior conflito, uma vez que geraria ônus que os municípios não teriam condições
de bancar.
Em entrevista concedida nesta terça-feira (19) ao
programa Tribuna Livre, da Rádio Jovem Pan News Natal, a presidente do Conselho
de Secretarias Municipais de Saúde do RN (Cosems), Maria Eliza Garcia, afirmou
que os municípios são favoráveis à ampliação, mas criticou o modelo de
cofinanciamento proposto. “O Cosems e os gestores municipais de saúde não são contra
essa expansão. O que tem nos incomodado e nos trazido uma certa insatisfação e
preocupação é exatamente o modelo que o estado está querendo colocar nessa
expansão. É importante dizer que esse serviço é um serviço estadual”, declarou.
No mês passado, a governadora Fátima Bezerra
realizou a entrega oficial de 25 novas ambulâncias do SAMU RN, recebidas do
Ministério da Saúde. Do total, 10 serão utilizadas para renovação da frota
atual e 15 para a expansão do serviço em áreas que ainda não são atendidas. Outras
11 ambulâncias foram recebidas por meio do PAC Seleções 2025, sendo oito
destinadas à expansão da cobertura e três à renovação da frota.
Segundo a presidente, o acordo original firmado na
Comissão Intergestores Bipartite (CIB) estabeleceu que o Estado seria
responsável pela condução do SAMU no território potiguar. “Qualquer município
poderia solicitar esse pleito dentro do Ministério da Saúde. E assim a gente
não fez porque exatamente foi acordado e assinado em CIB que o estado do Rio
Grande do Norte, enquanto ente federado, seria o condutor dessa política”,
disse.
O cálculo apresentado, segundo Maria Eliza, prevê
que a cada 10 mil habitantes o município teria que investir R$ 30 mil, o que
impactaria diretamente os cofres locais. “Isso onera muito. Foi feito um estudo
pela equipe técnica do estado, que coloca o custo do SAMU em torno de R$ 9
milhões. Esse modelo de expansão é que vem nos trazendo preocupação, porque ele
coloca para os municípios 60% de custeio e desse modo a situação se torna
inviável”, ressaltou.
A presidente também lembrou que os municípios já
destinam uma fatia significativa de seus orçamentos à saúde, muitas vezes acima
do exigido por lei. “Hoje todos os municípios já investem o mínimo de 20 a 35%
na saúde, quando o exigido é 15%. E o estado do Rio Grande do Norte está em
último lugar em investimento em saúde entre os nove estados do Nordeste,
cumprindo apenas os 12%. Essa diferença de investimento é que nos preocupa”,
afirmou.
Outro ponto destacado foi a sobrecarga de
responsabilidades que os municípios vêm assumindo para evitar falhas no
atendimento à população. Existem serviços que não são da atribuição do
município, mas, para que não haja paralisação, ela diz que as prefeituras
terminam arcando. “A média e alta complexidade, por exemplo, é um grande
gargalo. Temos que atender oncologia e contratar serviços como ressonância
magnética porque a pactuação existente é insuficiente”, relatou.
No interior, a situação é ainda mais delicada. Maria
Eliza citou o exemplo da 6ª região de saúde, em Pau dos Ferros, que reúne 37
municípios, mas conta com apenas uma base do SAMU. “Com a expansão, seriam
criadas duas novas bases, em São Miguel e Alexandria.
Cada vez mais os municípios precisam investir
recursos próprios para suprir o que deveria ter contrapartida do estado”,
criticou.
A Sesap, por sua vez, defende que a proposta de
cofinanciamento segue o princípio do financiamento tripartite do Sistema Único
de Saúde (SUS) e o modelo de consórcios interfederativos. Em nota, a secretaria
afirmou que parte do serviço já funciona de forma compartilhada entre estado e
municípios. “A proposta já foi apresentada em diversos momentos aos gestores
municipais e já foi acatada em deliberações feitas em determinadas regiões do
estado, conforme rege a legislação”, destacou o órgão.
Atualmente, apenas Natal e Mossoró contam com
serviços próprios do SAMU, financiados com recursos federais, enquanto os
demais municípios dependem do modelo estadual. Com a chegada das novas
ambulâncias, a expectativa é de que todas as oito regiões de saúde passem a
contar com cobertura, ainda que não haja consenso sobre a divisão dos custos.
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