Uma pesquisa nacional do Instituto Ibespe realizada
entre os dias 1º e 3 de agosto revela que a maioria dos brasileiros considera
que a tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos
brasileiros tem motivação política — e não comercial, como alega o Palácio do
Planalto.
Segundo o levantamento, 60% dos entrevistados
enxergam a medida norte-americana como uma retaliação política. Apenas 29,7%
acreditam que a decisão tem razões comerciais.
“Mesmo com o esforço em rotular a medida como
econômica, os dados mostram que a maioria da população compreendeu o contexto
geopolítico da decisão”, afirma o cientista político Marcelo Di Giuseppe,
coordenador da pesquisa. “Isso revela uma consciência política que vai além da
superfície das narrativas.”
Questionados sobre quem seria o maior responsável
pela imposição da tarifa norte-americana, 25,3% dos entrevistados citaram o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele aparece à frente do presidente dos
EUA, Donald Trump (19,9%), e de Jair Bolsonaro (11,5%).
Outros nomes citados incluem o “governo brasileiro”
(7,7%) e o ministro Alexandre de Moraes (2,8%). Já o deputado federal Eduardo
Bolsonaro, alvo de críticas por denunciar o STF no exterior, foi
responsabilizado por apenas 2,8% dos entrevistados.
“A tentativa de criminalizar a denúncia feita por
Eduardo Bolsonaro não encontrou respaldo na opinião pública. Ao contrário do
que alegaram seus adversários, a população majoritariamente não o vê como
traidor da pátria”, destacou Giuseppe.
Um dado que chama atenção é a uniformidade da
percepção política entre diferentes perfis de consumo de mídia. O Ibespe mostra
que 68,7% dos brasileiros que se informam por redes sociais veem a tarifa como
retaliação política. Entre os que se informam principalmente pela televisão, o
índice também é alto: 62,3%.
A pequena diferença revela que a narrativa do
governo Lula sobre uma suposta motivação econômica da medida norte-americana
não se sustentou nem entre o público tradicional da TV, historicamente mais
influenciado pelos grandes grupos de comunicação.
“Essa pesquisa evidencia que estamos diante de uma
disputa narrativa, e que os meios alternativos de informação estão conseguindo
romper o monopólio da interpretação dos fatos”, explica o cientista político.
Mesmo entre eleitores que votaram em Lula no segundo
turno das eleições presidenciais de 2022, 24,4% o responsabilizam pela crise
com os Estados Unidos. Entre os eleitores de Jair Bolsonaro, esse número salta
para 39%, segundo a pesquisa.
Revista Oeste
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