domingo, 3 de agosto de 2025

Lavagem digital: Fintechs movimentaram R$ 28 bilhões de facções criminosas em 6 anos, segundo investigações

 


“O futuro é agora”, anuncia nas redes sociais uma fintech de Mogi das Cruzes (SP), em uma sequência de posts com imagens criadas por inteligência artificial (IA) que mostram jovens enriquecendo enquanto teclam no celular. Outras duas instituições de pagamento da capital paulista e de Campinas (SP) prometem “liberdade” e o “avanço para o futuro”. “Restrições bancárias e bloqueios judiciais tiram o seu sono? Conheça a conta garantida e retome o controle”, propaga a primeira. “Seja digital, seja atual”, reforça a segunda.

Essas três são parte de um grupo de fintechs que entrou na mira das autoridades nos últimos meses por suspeita de lavar dinheiro do crime e tiveram operações suspensas pela Justiça. Segundo as investigações, as empresas de “inovação tecnológica” operavam a serviço de pessoas ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e ao Comando Vermelho (CV), as duas maiores facções criminosas do país.

Com muitas startups financeiras fora do radar dos órgãos de controle, o fenômeno da “fintechização” chegou ao submundo do crime. De acordo com as investigações, cerca de R$ 28,2 bilhões de recursos oriundos de supostos esquemas do tráfico de drogas e armas foram movimentados nos últimos seis anos por meio de oito dessas instituições de pagamento e bancos digitais, que oferecem todo o tipo de produto financeiro, de transferências de recursos a compra e venda de criptomoedas.

“Fintechs estão substituindo doleiros. São paraísos fiscais” — Fábio Bechara, promotor do Ministério Público de São Paulo

O valor foi levantado pelo GLOBO com base em mais de 3 mil páginas de relatórios e denúncias de seis operações da Polícia Federal, Polícia Civil de São Paulo e Rio e do Ministério Público. O montante corresponde a mais da metade do orçamento da Prefeitura do Rio (R$ 46 bilhões) e supera o de Belo Horizonte (R$ 22,6 bilhões) para 2025.

As mais de 1.500 fintechs em operação no Brasil ampliaram o acesso da população a serviços bancários ao proporcionar maior competição no setor financeiro com soluções tecnológicas, menos burocracia e taxas mais baixas. Essa mesma infraestrutura, no entanto, também passou a ser explorada por organizações criminosas, que se aproveitam da regulamentação limitada do segmento, de acordo com investigadores e especialistas.

— Algumas fintechs estão substituindo os doleiros. Por que o criminoso vai correr o risco de ser assaltado, de alguém não pagar o dólar-cabo (compensação ilegal da moeda), se pode usar essas ferramentas? São como paraísos fiscais — diz o promotor Fábio Bechara, do MP de São Paulo, responsável por denúncias de fintechs usadas pelo PCC.

 


Em nota, o Banco Central (BC) informa que faz um trabalho constante de supervisão das instituições e vem aperfeiçoando a regulação para prevenir a ação de criminosos.

Fundada em 2019 com o slogan o “primeiro banco cripto” do Brasil, a 4tbank está oficialmente no nome de uma jovem de 24 anos que, segundo a Polícia Civil de São Paulo, movimentou meio bilhão de reais em quatro anos, sendo R$ 80 milhões em espécie.

Apesar de a jovem ser o rosto público da instituição, o verdadeiro “CEO” da empresa era o padrasto dela, João Gabriel de Mello Yamawaki. Conforme as investigações, ele estava em vias de ser “batizado” no PCC e indicado a uma função na operação financeira da facção.

Yamawaki está foragido. A defesa reconheceu que ele é o chefe da empresa, mas negou vinculo com o PCC. “Ele refuta que seria batizado por organização criminosa”, escreveu o advogado André Jardim de Siqueira Branco.

O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hepatite A cresce 54% no Brasil e preocupa autoridades

  A hepatite A cresce de forma preocupante no  Brasil . De acordo com dados oficiais, o número de casos aumentou 54% em 2024, em comparação ...