Na eleição de 2018 e enquanto esteve na Presidência,
Jair Bolsonaro (PL) atacou a imprensa profissional, e esta Folha em particular,
covarde, insistente e brutalmente. Incitou a massa de seus apoiadores
extremistas contra jornalistas e veículos, liderou campanhas de boicote e
perseguiu a asfixia financeira das empresas.
Imprecou dia sim, outro também, contra a
independência dos Poderes democraticamente constituídos, alvejando sobretudo
juízes do Supremo Tribunal Federal. Fez campanha contra o sistema de votação e
arregimentou assessores e ministros do governo para tentar sabotá-lo.
Inconformado com a derrota nas urnas, insuflou
hordas de fanáticos que se aglomeravam defronte a quartéis e bloqueavam
rodovias pelo país. Tramou a subversão do regime democrático com oficiais das
Forças Armadas e, não obtendo apoio, fugiu do Brasil para, quem sabe, esperar
um vento favorável do destino.
Assistiu da Flórida às depredações de 8 de janeiro
de 2023, postou mensagem encorajadora aos vândalos e logo depois a apagou,
temendo ser enquadrado pela lei. Dois anos e meio depois, denunciado e
processado por tentativa de golpe, associou-se ao presidente dos Estados Unidos
numa chantagem abjeta contra a economia e a soberania do Brasil.
Jair Bolsonaro é um inimigo da Constituição de 1988
e das liberdades civis. Se não tivesse sido parado pela intransigência
democrática da sociedade e das instituições brasileiras, teria se convertido em
ditador e hoje estaria censurando, reprimindo e violentando cidadãos e
organizações.
Com a mesma firmeza que impôs o império da lei a
esse aventureiro do autoritarismo, o Brasil deve reconhecer que Jair Bolsonaro
detém ampla liberdade de se defender na Justiça e de se expressar onde quer que
seja, inclusive nas redes sociais. Democratas não se transformam em tiranos
para combater a tirania.
A pretexto de enfrentar a ameaça autoritária, o
ministro Alexandre de Moraes, apoiado pela maioria dos colegas, desenvolveu
teoria e prática estranhas à Carta. As ordens de censura, muitas vezes exaradas
em despachos secretos que não permitem defesa, tornaram-se lugar-comum.
Moraes errou ao pretender silenciar Bolsonaro numa
ordenação kafkiana, impossível de cumprir. Moraes erra ao mandar prender o
ex-presidente por ter se comunicado com apoiadores em atos organizados pela
direita.
no cárcere, parece agora ter aprendido com
Bolsonaro. A liberdade de expressão é direito que não abandona nem sequer quem
cumpre pena —lição que o ministro Luiz Fux, que no passado censurou a Folha
numa tentativa de entrevistar o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT)
A maioria dos colegas de Alexandre de Moraes precisa
reinstituir esse princípio basilar da ordem democrática. O espírito de corpo ou
de defesa contra assédio estrangeiro não justifica relativizar garantias
constitucionais.
Folha de S. Paulo
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