quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Comissão recomenda bloqueio de leitos no João Machado por desabastecimento

 


Um relatório da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital João Machado, em Natal, revelou um cenário crítico de desabastecimento de insumos e medicamentos essenciais. A falta de itens como luvas, aventais, álcool, antissépticos e antibióticos de uso hospitalar — entre eles piperacilina + tazobactan e meropeném — compromete, segundo o relatório, a segurança de pacientes e profissionais. Como medida temporária, a Comissão de Controle de Infecção recomenda o bloqueio técnico de leitos. O relatório foi enviado para a Secretaria de Saúde do Estado no último dia 14 de agosto.

O Relatório de Comunicação da Falta de Insumos e Medicamentos Essenciais do Hospital João Machado recomenda o bloqueio temporário de leitos sempre que não houver condições mínimas de segurança e suporte. A medida deve ser registrada formalmente, comunicada à direção técnica e à regulação, e notificada à vigilância sanitária quando necessário. O texto não especifica quantos leitos devem ser bloqueados – e nem a partir de qual data – mas alerta que o desabastecimento tem impactado nos índices de infecção hospitalar.

“Nos últimos meses, observou-se um cenário crítico relacionado à escassez de insumos e medicamentos essenciais, o que comprometeu diretamente a capacidade de resposta da instituição frente à prevenção e ao tratamento adequado das infecções hospitalares. Essa situação tem gerado impactos relevantes nos desfechos clínicos dos pacientes, refletidos no aumento da taxa de mortalidade, nas dificuldades de implementação de medidas de isolamento adequadas e no agravamento do perfil microbiológico, com maior prevalência de microrganismos multirresistentes”, diz o relatório.

Em 2025, de acordo com o relatório, os indicadores de infecção hospitalar do Hospital João Machado superaram em múltiplas vezes as metas previstas. A taxa de infecção de corrente sanguínea chegou a 8,58 em fevereiro e 8,20 em abril, cerca de três vezes acima do limite de 2,70. Nos mesmos meses, a pneumonia associada à ventilação mecânica registrou 23,12 e 21,98, quase três vezes a meta de 7,95. As infecções do trato urinário, zeradas no ano anterior, atingiram 3,31 em abril e 2,43 em maio, até cinco vezes o parâmetro de 0,69. A adesão à higiene das mãos caiu para patamares críticos: em janeiro foi de apenas 15,9% e em julho de 19,5%, quando o esperado era 85%.

Segundo o relatório, o problema tem “gerado impactos relevantes nos desfechos clínicos dos pacientes, refletidos no aumento da taxa de mortalidade, nas dificuldades de implementação de medidas de isolamento adequadas e no agravamento do perfil microbiológico, com maior prevalência de microrganismos multirresistentes”. Também destaca o baixo índice de adesão à higiene das mãos, além do déficit de leitos de isolamento, sobretudo nos setores de clínica médica e psiquiatria.

Em resposta ao relatório, um ofício da Subcoordenação de Assistência Farmacêutica da Secretaria Estadual de Saúde (SESAP) reconheceu o problema e informou que medidas administrativas foram tomadas para reabastecer os estoques. Afirmou que a normalização deveria ocorrer “nos próximos dias” e revelou que o índice de abastecimento estava em torno de 73,5%, apesar de admitir a falta de itens críticos.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou contato com a Secretaria de Saúde, mas não houve resposta. O espaço segue aberto.

Desabastecimento

Para o presidente do Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed), Geraldo Ferreira, a situação não se restringe ao João Machado. Segundo ele, o desabastecimento de insumos básicos e medicamentos vem se repetindo em hospitais de referência da rede estadual.

“Estamos vivendo um desabastecimento que adquiriu caráter generalizado. Faltam desde lençóis, máscaras cirúrgicas, material de intubação e medicamentos, até seringas de 10 e 20 ml. Isso compromete totalmente o tratamento, aumenta os riscos de infecção hospitalar, prolonga o tempo de internação e eleva a mortalidade dos pacientes”, alertou.

O dirigente pontua ainda que os médicos ficam expostos a responsabilidades que não lhes cabem. “Se o paciente não recebe o antibiótico adequado e evolui com infecção, o médico pode acabar respondendo legalmente por um problema que é consequência da falta de estrutura. É uma situação lamentável, que causa dor e sofrimento a pacientes, familiares e profissionais”, acrescentou.

A crise se estende a outras unidades da rede estadual. No Hospital Maria Alice Fernandes, em Natal, a Justiça chegou a determinar a reabertura de leitos de UTI após denúncias de desativação por falta de recursos humanos e materiais. De acordo com Geraldo Ferreira, cinco leitos da UTI neonatal e dois da pediátrica foram desativados recentemente pela escassez de insumos e de profissionais, comprometendo o atendimento a crianças em estado grave.

No Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim, a situação também é delicada. Cirurgias ortopédicas precisaram ser canceladas neste terça-feira (19) devido à falta de materiais básicos, como fios cirúrgicos e equipamentos essenciais para os procedimentos. Familiares chegaram a relatar que pacientes aguardavam internados sem previsão para realização das cirurgias, o que agrava o quadro clínico e sobrecarrega a equipe médica.

Walfredo Gurgel será inspecionado

O Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, maior pronto-socorro do estado, será alvo de uma visita de inspeção nesta quinta-feira (21). A ação será realizada pelo Sinmed em conjunto com o Conselho Regional de Medicina (Cremern), com participação do Ministério Público.

Segundo Geraldo Ferreira, a decisão foi motivada por denúncias do centro cirúrgico e do centro de queimados do hospital. “Recebemos relatos gravíssimos, inclusive de uma obra no centro de queimados que se arrasta há mais de um ano e coloca em risco a manutenção de recursos federais. Só esse setor recebe cerca de R$ 2 milhões anuais, mas está em vias de perder o repasse por não atender aos critérios de qualidade exigidos”, disse.

Na inspeção, o sindicato pretende verificar a falta de insumos e reunir informações para apresentar em coletiva à imprensa. “Estamos diante de uma situação que não é localizada, é disseminada em toda a rede. É necessário que os gestores das unidades hospitalares tenham uma postura mais firme diante da gestão estadual, porque não se pode continuar esmagando a saúde pública dessa forma”, reforçou o presidente do Sinmed.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CAMPESTRE SE - PORTARIA N° 168: O prefeito Eribaldo Lima, NOMEIA, Sufia Gomes de Azevedo, Coordenadora de Recursos Humanos

  GABINETE DO PREFEITO PORTARIA Nº 168/2025 - GP São José do Campestre/RN, 20 de agosto de 2025.   O  PREFEITO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DO CAMP...