quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Com 88,7%, cartão de crédito lidera endividamento das famílias em Natal

 


O cartão de crédito continua sendo o principal vilão quando o assunto é o endividamento das famílias natalenses. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 88,7% dos endividados na capital potiguar apontam o cartão como origem das dívidas, uma proporção superior às demais modalidades, como carnês (20,8%), cheque especial (11%) e financiamentos habitacionais (7%).

A pesquisa revelou ainda que 9,2% das famílias em Natal ainda recorrem a instrumentos de alto custo, como o cheque pré-datado e o cheque especial, o que agrava o risco de inadimplência em caso de perda de renda. Apesar disso, o tempo médio de atraso caiu para 42 dias, abaixo da média nacional, que é de 64 dias.

Para o economista William Figueiredo, o uso do cartão de crédito está enraizado na cultura da população brasileira, que enxerga vantagens em opções como o crédito rotativo — que permite comprar hoje e pagar dentro de até 30 dias — e o parcelamento, muitas vezes sem juros. “O uso do cartão é um instrumento financeiro que existe para ajudar as famílias, a sociedade a fazer uma melhor gestão dos seus recursos. Ele só vai se tornar um problema a partir do momento que você não tem controle sobre os seus gastos”, explica o economista.

A autônoma Maria Vanessa já teve a experiência de comprar no cartão de crédito e perder o controle de seus gastos mensais. “Quando eu compro no cartão, não tenho a noção de estar pegando dinheiro. Então vou gastando como se não houvesse amanhã. Quando chega a fatura, eu digo: ‘Meu Deus, para que fui fazer isso?’”, disse, enquanto escolhia vestidos em uma loja de roupas no bairro Cidade Alta.

Já o enfermeiro Edinaldo Gomes conta que não costuma usar o cartão de crédito e que é organizado com as finanças, mas frequentemente empresta o cartão para familiares que não têm limite de crédito disponível: “A pessoa já está acostumada e quer comprar, mas sabe que, seja no débito ou no crédito, tem que pagar no dia certo. E essas pessoas que parcelam no meu cartão já sabem que são elas mesmas que vão pagar depois”, afirma.

O estudo também destaca fatores que seguem pressionando o consumo das famílias potiguares. A inflação persistente em serviços essenciais — como energia elétrica e alimentação fora do lar —, combinada à taxa Selic elevada (15% em julho de 2025) e à queda de 1,6% na renda média do trabalhador no Rio Grande do Norte (R$ 2.448, segundo a Pnad Contínua do IBGE), dificulta o alívio nas finanças.

De acordo com o levantamento, o mercado de crédito vem registrando uma desaceleração nas concessões para pessoas físicas, o que aponta para um comportamento mais cauteloso tanto por parte das instituições financeiras quanto dos consumidores. A taxa média de juros ao consumidor segue em alta pelo quinto mês consecutivo, reforçando a necessidade de atenção aos indicadores de inadimplência.

“Particularmente no Rio Grande do Norte a gente está tendo um aumento considerável da geração de emprego. Eu coloco isso na conta do próprio aumento da taxa de juros. O crédito está mais caro. A taxa básica de juros hoje no Brasil está em 15%”, analisou o economista William Figueiredo.

No curto prazo (de 2 a 3 meses), a tendência é de manutenção ou leve recuo no endividamento. No médio prazo (6 a 12 meses), eventuais cortes na Selic e datas sazonais de consumo podem reaquecer o crédito, exigindo maior vigilância sobre o risco de inadimplência.

O relatório da CNC também alerta para 2026: caso o comprometimento da renda familiar — atualmente em 34,6% da renda média no RN — volte a subir, há risco de retomada da inadimplência estrutural.

Figueiredo recomenda que a população evite utilizar múltiplos cartões de crédito, pois isso pode dificultar o controle das finanças pessoais. A orientação é concentrar os gastos em poucos instrumentos financeiros. “Se eu somar meu cartão de crédito, meus carnês, minhas contas do mês, o quanto isso está consumindo da minha renda? Se essa dívida for superior a 30%, tem que estar mais atento, mais alerta”, reforça.

Endividamento cai em Natal, mas segue em patamar elevado

O percentual de famílias endividadas em Natal caiu de 86,4% em julho de 2024 para 83,5% no mesmo mês de 2025, segundo a Peic. Apesar da retração, o Instituto Fecomércio RN alerta que o nível ainda é elevado, indicando que a maioria das famílias da capital potiguar continua convivendo com algum tipo de débito.

A inadimplência também apresentou melhora: 40,1% das famílias declararam estar com contas em atraso, uma queda expressiva em relação aos 52,2% do ano anterior. Ainda mais significativo, apenas 1,6% disseram não ter condições de pagar suas dívidas vencidas, um índice muito abaixo da média nacional (12,7%) e também inferior ao observado em capitais vizinhas, como Fortaleza e Recife.

“A queda na inadimplência de Natal está diretamente ligada ao aumento da formalidade do mercado de trabalho. No ano passado o RN bateu recordes de geração de empregos. Esse ano já foram quase 7 mil empregos gerados nesses primeiros seis meses”, disse o economista William Figueiredo.

 

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