A vista a partir das areias da Praia da Redinha, na
região conhecida como Redinha Nova é deslumbrante. De lá é possível observar,
em contraste com as águas claras do mar, a icônica Ponte Newton Navarro com o
Rio Potengi e os arranha-céus da capital ao fundo, que formam um dos cenários
mais belos para quem visita a área, na divisa dos municípios de Natal e
Extremoz. A infraestrutura, no entanto, deixa a desejar, de acordo com
moradores e comerciantes. Ruas sem calçamento e o abandono de empreendimentos
importantes são as principais queixas, que impactam também no turismo local.
As ruínas de um famoso hotel na Avenida Litorânea
onde já se hospedaram personalidades nacionais estão entre as reclamações.
Tânia Maria, de 67 anos, mora e tem um comércio de frente para o
empreendimento. Ela lamenta a situação do hotel, mas comenta que esse não é o
único problema do bairro. “Moro aqui na Litorânea há 20 anos. Não cheguei a
pegar a época em que ‘chovia’ de gente para se hospedar aí, mas ainda vi o
hotel aberto. Hoje, é só abandono. Fora isso, as ruas daqui estão todas
alagadas, porque não tem calçamento, só lama”, relata a mulher.
A reportagem constatou que praticamente todas as
ruas transversais à Avenida Litorânea não são calçadas. Por causa das chuvas,
sobram alagamentos – em algumas delas, como a Rua Pirá, se forma uma espécie de
lagoa – e lama. Maria da Guia, de 64 anos, mora há pouco tempo na Redinha Nova.
Segundo ela, os moradores estão revoltados com as condições das ruas do bairro.
“Vivo aqui há três anos. Até agora só calçaram uma rua, mas o resto alaga
tudo”, reclama. O vendedor Alex Lopes, de 45 anos, conta que a situação é ruim
para o comércio e a população em geral, que sofre inclusive para utilizar
serviços de transporte por aplicativo.
“Os motoristas não querem entrar nas ruas por causa
da lama e das poças d’água. O comércio sofre muito. Em uma época de chuva como
essa, não tem como o carro parar na frente de uma loja. A dificuldade é muito
grande. É bem comum os comerciantes falarem que vão sair do bairro porque o
dinheiro não circula”, descreve o vendedor, que mora há um ano na Redinha Nova.
Em nota, a Prefeitura de Extremoz respondeu que
iniciou o trabalho de calçamento das principais ruas. “Já foi calçada a rua
Baleia, assim como foram iniciados os trabalhos na Rua Espada, os quais devem
ser concluídos após o período de chuvas. Para as demais vias, estamos em fase
de estudo e levantamento de dados para o anteprojeto, para busca de recursos
nas esferas federal e estadual”, explicou a Secretaria de Comunicação do
Município.
Empresários veem prejuízos para o
turismo
Valdemiro Bezerra é bugueiro há 27 anos. As
condições da região da Redinha Nova geram, segundo ele, muitas reclamações por
parte dos turistas. “Eles questionam: como pode uma cidade turística ter uma
região numa situação dessas?”, conta. Se entre os visitantes sobram queixas,
para os trabalhadores restam os prejuízos. “Tem local aqui que é só buraco. Então,
haja manutenção — que requer custos — para o buggy conseguir uma sobrevida
maior”, comenta Bezerra.
“A gente está em uma área turística, mas o que se vê
são buracos, alagamentos e estruturas abandonadas. Isso causa reclamação por
parte dos visitantes”, afirma Alex Lopes, que mora há um ano na Redinha Nova.
Daniele Souza veio de São Paulo com o companheiro para conhecer o Rio Grande do
Norte e se disse encantada com o que encontrou por aqui. Mas confessa, em uma
visita ao Aquário Natal, que as condições do bairro não são agradáveis. “Tudo é
lindo, mas a situação das ruas aqui poderia melhorar muito”, fala.
Os reflexos não se restringem apenas ao aumento de
custos para trabalhadores como os bugueiros ou à queixa de quem vai em busca de
lazer na região. Tânia Maria, que vende lanches na casa onde mora, em frente a
um hotel abandonado na Avenida Litorânea, diz que muitas casas do bairro são
ocupadas apenas no veraneio. Uma alternativa para aumentar o fluxo de pessoas —
algo fundamental para a expansão do comércio — seria a requalificação de áreas
como a que envolve o empreendimento, de acordo com ela.
“A gente gostaria que fosse como antes, quando o
hotel recebia muita gente — até Xuxa ficou aí. Mais à frente, tem uma grande
casa abandonada também, que podia ser usada de alguma forma para atrair as
pessoas para visitar a Redinha Nova”, pontuou Tânia. A TRIBUNA DO NORTE
questionou a Prefeitura de Extremoz se há algum tipo de planejamento para
estruturar a área com vistas a estimular o turismo na região.
A Prefeitura respondeu, sem maiores detalhes sobre
eventuais planejamentos, que “os financiamentos do projeto de reordenamento da
orla da Redinha precisam de convênios com outras esferas de governo, seja
estadual, federal ou até mesmo com a participação das duas esferas, sendo parte
estadual e parte federal”, por causa da necessidade de investimento superior à
capacidade financeira do município. A reportagem não conseguiu contato com os
responsáveis pelo hotel abandonado na Avenida Litorânea.
Alagamentos na Litorânea são constantes
Não são apenas as vias sem calçamento que sofrem com
o acúmulo de água na Redinha Nova. Na Avenida Litorânea a reportagem
identificou alguns pontos de alagamento, como o registrado em frente ao Aquário
Natal. Por conta das fortes chuvas registradas na capital e Região
Metropolitana nos últimos dias, uma grande quantidade de água está acumulada em
um trecho que se estende por alguns metros da avenida.
Em uma parte a água toma os dois lados da pista. A
comerciante Maria Aparecida dos Santos, de 51 anos, afirma que os prejuízos
para o restaurante dela, bem frente ao Aquário, são enormes. “O cliente não vem
aqui porque não tem como atravessar de um lado para o outro. Tenho vários
amigos bugueiros que tentam dar uma força, indicando pessoas para conhecer o
estabelecimento, mas com a avenida intransitável para pedestres, como é que o
turista vai chegar aqui?” questiona a comerciante. A Avenida Litorânea é uma
via estadual, de responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem do RN
(DER).
Em nota, o órgão informou que “está ciente dos
problemas de alagamento na RN-303, no trecho entre Redinha Nova e Extremoz” e
esclareceu que a situação é causada, principalmente, por construções
irregulares ao longo dos anos, que acabaram obstruindo bueiros e comprometendo
o sistema de drenagem da via, favorecendo o acúmulo de água. Ainda na nota, o
DER disse que se “compromete em iniciar tratativas com os órgãos municipais e
realizar estudos técnicos conjuntos para identificar soluções viáveis e
minimizar os transtornos”.
Além dos alagamentos, uma obra na Avenida Litorânea,
bem ao lado do Aquário Natal tem causado transtornos aos comerciantes, segundo
Maria Aparecida. “É uma obra da Caern. A gente esperava que os serviços,
iniciados há cerca de três meses fossem para escoar a água acumulada, mas nos
disseram que é para nivelar a via. Cortaram uma parte do asfalto, mas queriam
cortar um pedaço maior. Só não fizeram isso porque os comerciantes falaram que
julho estava chegando e, nessa época, o movimento aqui aumenta por causa das
férias escolares. Para quem tem comércio em frente à obra, é um transtorno só”,
relata Aparecida.
Procurada, a Caern explicou que o serviço tem como
objetivo a recuperação do pavimento da via em decorrência de intervenções
realizadas anteriormente no âmbito das obras do Sistema de Esgotamento
Sanitário da zona Norte. “No momento, a obra está passando por um processo de
readequação contratual, o que tem impactado o ritmo de execução dos serviços.
Reforçamos que estamos tomando todas as medidas administrativas necessárias
para garantir a retomada plena das atividades e minimizar os transtornos causados
à população e ao comércio local. A previsão atual é de que os serviços sejam
concluídos no prazo de até 90 dias”, esclareceu a Companhia.
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