O setor salineiro do Rio Grande do Norte pediu
oficialmente que o Governo Lula busque ao menos adiar a entrada em vigor da
sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
sobre a importação de produtos brasileiros. A previsão é que a tarifa comece a
valer em 1º de agosto, e os empresários potiguares pedem que a taxa caia ou
pelo menos tenha a implantação adiada em 90 dias.
Diretor da Federação das Indústrias do Rio Grande do
Norte (Fiern) e presidente do Sindicato da Indústria da Extração do Sal do
Estado do Rio Grande do Norte (Siesal-RN), Airton Torres se reuniu nesta semana
com o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria,
Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa.
Também participaram da reunião o CEO da Salinor –
maior exportadora de sal do Brasil -, Rafael Mandarino, e a diretora da
Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Cláudia Borges, que
representou a Intersal (Porto Ilha).
Segundo Torres, o encontro permitiu demonstrar não
apenas a importância do setor salineiro para a economia nacional, mas também as
preocupações de outras cadeias produtivas.
“Levamos informações ao MDIC que o secretário
[Márcio Elias Rosa] entendeu serem muito úteis e importantes para a elaboração
de um documento que está desenvolvendo, com base nos dados de muitos setores da
economia nacional, para encaminhar ao governo americano”, afirmou.
Durante o encontro, Torres defendeu a retirada da
taxação ou, em caso dessa impossibilidade, o adiamento da sua vigência por,
pelo menos, 90 dias, como “forma de garantir mais tempo para que o governo, com
apoio do setor produtivo, possa dar prosseguimento à negociação técnica”,
explicou.
Ele entregou ao secretário diversos documentos,
dentre eles a carta enviada pela governadora Fátima Bezerra (PT) ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) solicitando a intensificação de negociações
técnicas com o governo norte-americano com o objetivo de retirar a tarifa dos
produtos brasileiros ou prorrogar a sua entrada em vigor.
Em nota técnica divulgada após o anúncio da taxação,
o Siesal-RN alertou que a medida ameaça 4 mil empregos diretos no Semiárido
Potiguar, além de afetar toda a cadeia logística e inviabilizar as operações do
Porto Ilha, em Areia Branca.
Atualmente, 47% das exportações feitas pelo terminal
salineiro de Areia Branca são destinados aos Estados Unidos, o que,
historicamente, representa cerca de 530 mil toneladas exportadas por ano. “Se a
tarifa de 50% não for retirada, o nosso sal estará fora do mercado dos Estados
Unidos e este é um problema muito grande, porque a indústria salineira não tem
um outro mercado que possa absorver esse volume”, concluiu Torres.
De acordo com dados do Siesal-RN, caso a medida seja
mantida, o Brasil poderá se tornar dependente da importação de sal, colocando
em risco a sustentabilidade da produção nacional.
A tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros
exportados aos Estados Unidos pode resultar em perdas de até R$ 175 bilhões no
Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ao longo dos próximos 10 anos, aponta um
estudo da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).
Além da retração — que representaria um impacto
negativo de 1,49% no PIB no longo prazo —, as taxas anunciadas pelo presidente
Donald Trump têm potencial para eliminar mais 1,3 milhão de postos de trabalho
no Brasil, estima a entidade.
“O agravamento da crise comercial entre Brasil e EUA
representa um risco grave à estabilidade econômica e ao desenvolvimento
industrial”, afirmou, em nota, a Fiemg.
No estudo, a federação mineira também estimou os
impactos de uma possível retaliação brasileira ao tarifaço. Caso o governo do
presidente Lula decida impor uma taxa recíproca de 50% sobre a importação de
produtos norte-americanos, a queda no PIB pode chegar R$ 259 bilhões (-2,21%).
Nesse cenário, 1,9 milhão de empregos seriam
impactados em até 10 anos, com uma redução de R$ 36,2 bilhões na massa salarial
do País. Enquanto isso, a arrecadação de impostos cairia R$ 7,21 bilhões, de
acordo com o estudo.
Em nota, a Fiemg defendeu que o governo brasileiro
“atue de forma firme, mas diplomática, na busca por um acordo”.
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