Um dos líderes na produção de camarão no Brasil, o
Rio Grande do Norte está perto de iniciar o envio do pescado para um dos
maiores países consumidores do mundo: a China. Segundo informações de
interlocutores do setor produtivo e do Governo do Estado, uma reunião que deve
ocorrer até meados de agosto, no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) pode bater o martelo sobre a autorização para o camarão
potiguar entrar na China ainda este ano. Atualmente, apenas o melão do RN e a
uva de Pernambuco são produtos autorizados a entrar no país, conhecido por
rígidos protocolos fitosanitários.
Segundo o secretário-adjunto da Secretaria de
Desenvolvimento Econômico do RN (Sedec), Hugo Fonseca, o processo para envio do
camarão potiguar e de itens da piscicultura e aquacultura para a China, além da
melancia, foi iniciado no começo de 2024, com o RN tendo que se adequar a uma
série de protocolos e garantias do país chinês. O último passo é o envio desse
documento à China, que avaliará e dará o veredicto sobre a autorização ou não
da ida dos produtos potiguares ao país asiático.
“Estamos correndo atrás com o Governo Chinês e o
Ministério da Agricultura para liberação desses procedimentos das barreiras
fitossanitárias para termos autorização de exportar e as empresas potiguares
criarem a cultura de exportação”, explica Hugo Fonseca. A perspectiva é iniciar
as exportações ainda em 2025.
“Temos outra parte da vertente, que é capacitar os
produtores do RN para a exportação, de acordo com as regras do Governo Chinês.
Cada mercado tem sua própria exigência. Temos um trabalho de capacitação junto
a outras entidades que precisaremos fazer, como Apex Brasil, o Sebrae e outros
atores, para capacitar essas empresas”, acrescenta.
Na semana passada, a relação entre o RN e a China
ganhou novo impulso com a instalação da Frente Parlamentar de Cooperação
Econômica RN–China, formalizada na última sexta-feira (18), na Assembleia
Legislativa. Com representantes do setor produtivo, autoridades públicas e
empresários com atuação internacional, a cerimônia marcou o início de um novo
ciclo de aproximação política e econômica entre o estado potiguar e a maior
economia da Ásia.
Desafios
Atualmente, o Rio Grande do Norte ocupa a 2ª posição
entre os estados produtores de camarão. Dados da Associação Brasileira de
Criadores de Camarão (ABCC) e do IBGE registraram que a produção potiguar
atingiu 24,7 milhões de quilos de camarão. Os dados são referentes ao ano de
2023. O Ceará é o líder nacional, com 72 milhões de quilos.
O presidente da Associação Norteriograndense de
Criadores de Camarão (ANCC), Orígenes Monte Neto, aponta que a ida do camarão
potiguar à China é uma questão positiva, mas que ainda carece de uma série de
desafios a serem cumpridos, como viabilização de rotas, capacitação e mesas de
negociação com importadores. O RN emprega cerca de 30 mil pessoas na
carcinicultura.
“Que é benéfico, sem dúvida será. Ocorre que o
Governo Chinês não autoriza a exportação da espécie que cultivamos, que é o
camarão P. Vannamei, oriundo de carcinicultura, sendo apenas autorizado o
extrativista, mas não ocorre porque esse camarão não é do Pacífico, é do
Atlântico. Essa luta estamos há muitos anos travando para autorizar, e
ultimamente houve uma autorização do Vannamei de captura; acredito que tenha
sido um engano, pois não há esse camarão de captura no Brasil. Está se
tentando, via Ministério da Agricultura, uma reformulação dessa identificação
para poder liberar o camarão brasileiro para ser exportado”, comenta.
Ainda segundo Orígenes, a China é um dos maiores
compradores de camarão do mundo. “É um assunto eminentemente político e o
momento está bom para ser resolvido. Caso seja autorizado, vamos ter uma
abertura para disputar o mercado que é o maior comprador de camarão do mundo.
Vai ser algo que vai facilitar o escoamento da produção nacional”, complementa.
Importadores chineses visitam o RN em
agosto
Autorizado pela China para enviar melão potiguar
para a Ásia desde 2020, o Rio Grande do Norte tenta articular uma rota e uma
rotina de compra com importadores para ampliar as cargas para o país chinês.
Até agora, foram apenas 100 toneladas de melão para a China em envios
experimentais, segundo informações do Comitê Executivo de Fruticultura do RN
(Coex-RN). A título de exemplo, o RN envia anualmente 17,5 mil contêineres de
frutas para a Europa.
“A ideia nossa é unir volumes de uva [de Petrolina]
com melão e termos como provocar as companhias marítimas para fecharem uma
linha dedicada e que saia da nossa região e vá para a China num menor tempo
possível, tornando esse processo viável. Hoje o que temos de logística é de
Santos para a China, com 50 dias, com a fruta chegando numa qualidade
inviável”, explica Fábio Queiroga.
Em agosto, importadores chineses visitarão fazendas
no Rio Grande do Norte para conhecer o melão potiguar e tentar articular junto
a produtores potiguares uma rota para escoamento da fruta. A visita fará parte
da Feira Internacional da Fruticultura Tropical Irrigada (Expofruit), que
ocorrerá em Mossoró.
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