O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária
do Rio Grande do Norte (Faern), José Vieira, fez duras críticas ao apoio que,
segundo ele, setores do governo estadual têm dado ao Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em entrevista, ele relacionou a deputada
federal Natália Bonavides (PT-RN) e o secretário estadual da Agricultura
Familiar, Alexandre Lima, como apoiadores das invasões de terra: “Olha, todo
mundo sabe que a deputada Natália é ligada ao movimento dos sem terras. E
também o secretário da agricultura familiar. Então, não é segredo para
ninguém.”
Para o dirigente da Faern, as invasões de terras no
RN estão desconectadas da realidade fundiária atual e ameaçam áreas produtivas.
“Muito triste, nós ainda estamos discutindo questões de invasão de terra. Eu
acho que isso é voltado completamente fora do mundo real que nós estamos vendo,
que não existe falta de terra.” Segundo ele, a tendência é que os conflitos
fundiários aumentem com a proximidade do calendário eleitoral e a atuação de
figuras políticas ligadas ao MST.
Invasão na Emparn afeta centro de
pesquisa agropecuária no RN
Vieira citou como exemplo o caso da fazenda “Terras Secas”, uma unidade de
pesquisa administrada em conjunto pela Embrapa e pela Emparn, que foi ocupada
por militantes ligados ao MST. O local é referência no melhoramento genético de
caprinos, ovinos e gado Sindi, além da produção de mudas de palma para a
agricultura familiar. “Ali naquela unidade chamada Terras Secas, você tem
também plantios de palma que onde é feito distribuição de mudas, de raquetes
para os nossos pequenos. Então é um lugar de agricultores para ciência e também
para apoio à própria agricultura, agricultura familiar. Lá faz treinamento e desenvolve
todo um trabalho”, afirmou.
A Embrapa já entrou com pedido de reintegração de
posse, mas a Emparn se manteve inerte. A omissão levantou suspeitas de
aparelhamento político em áreas técnicas do estado, por se tratar de uma
invasão em terras públicas e não uma ocupação de terras da iniciativa privada.
“Aquela fazenda, especificamente, é patrimônio da Embrapa. Então, por isso que
a Embrapa teve que ter a iniciativa de entrar (na justiça). Agora, demorou
muito. Isso é que nos chama atenção. Foi por isso que a federação,
imediatamente, soltando nota, fazendo apelo que se tomasse uma providência”,
explicou.
MST no DIBA: “Vai virar uma
esculhambação”, diz presidente da Faern
Um dos pontos centrais da crítica de José Vieira é a possível cessão de 300
hectares dentro do Distrito de Irrigação do Baixo Açu (DIBA) para famílias
ligadas ao MST. Ele afirma que isso colocaria em risco um sistema
autossustentável, onde produtores arcam com altos custos de energia e
infraestrutura. “Ali são produtores que estão ali produzindo e o que, é, e todo
mês você precisa de pagar conta de energia. Ali não tem nada de graça”,
descreveu.
Segundo ele, permitir o assentamento de pessoas que
não contribuirão com os custos pode inviabilizar todo o modelo de gestão: “Eles
não vão pagar absolutamente nada, vai virar uma esculhambação o distrito e pode
inviabilizar a atividade do próprio distrito.”
Vieira destaca que a área emprega diretamente cerca
de 3.000 pessoas e está em expansão: “Nós acreditamos que em torno de 3.000
empregos diretos e agora aumentando, porque nós estamos colocando a segunda
etapa para funcionar.”
Faern defende reforma na legislação
ambiental do RN
Ainda na entrevista, o presidente da Faern também
defendeu mudanças no licenciamento ambiental no Brasil e no Rio Grande do
Norte. Segundo ele, o atual modelo é travado e burocrático. “Por exemplo, é
inconcebível que você tenha que ter licenciamento para fazer saneamento. Ora,
eu preciso de fazer o saneamento justamente para poder melhorar o ambiente”,
afirmou. Ele ainda diz que a nova lei nacional não altera o Código Florestal,
apenas cria prazos e uma licença única para agilizar processos.
Vieira também criticou a legislação estadual: “É,
nossa lei, a 272, é uma lei que foi feita antes do Código Florestal, então você
vê como ela está totalmente desatualizada.” Ele afirma que a Faern, em parceria
com a Federação das Indústrias (Fiern), está elaborando uma proposta para
modernizar as normas ambientais do RN. “Nós estamos apresentando propostas para
poder melhorar, atualizar a lei ambiental do estado.”, explicou.
“Segurança jurídica para quem produz”
Vieira explicou que o objetivo das mudanças é
garantir segurança jurídica ao setor agropecuário, que hoje estaria à mercê de
decisões subjetivas de fiscais ambientais. Segundo ele, a criação de prazos e a
descentralização do licenciamento para estados e municípios são passos
importantes para destravar investimentos. “Nós não podemos ficar todo momento à
mercê da boa vontade de um fiscal. Tem muita coisa travada aqui na Grande do Norte.”,
disse.
Ele citou ainda casos absurdos da atual legislação,
como a exigência de reposição florestal para capinar margens de estrada. Para
Vieira, a simplificação não afeta a proteção ambiental, mas elimina entraves
que atrasam o desenvolvimento do setor. “Olha que absurdo. Para eu limpar as
estradas nas laterais, limpar o mato ali, eu preciso de fazer uma reposição
florestal porque eu estou fazendo aquela limpeza.”, descreveu.
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