sábado, 26 de julho de 2025

Opinião do Estadão: Tapete vermelho para os brucutus

 


Tapete vermelho para os brucutus

Enquanto os vândalos do MST invadem sedes do Incra, Lula os recebe no Palácio do Planalto

No mesmo dia em que a cúpula do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) visitava o presidente Lula da Silva no Palácio do Planalto, muitos dos seus integrantes se espalhavam pelo Brasil para executar aquilo em que se especializaram: vandalismo. A pretexto de forçar o mesmo governo que lhe beija a mão a fazer a reforma agrária, os baderneiros ocuparam as sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 21 Estados e no Distrito Federal. Foram 17 mil sem-terra mobilizados, segundo o movimento, protestando – vamos chamar assim – por ocasião da chamada Semana Camponesa.

É o método de sempre. De um lado, a convicção, herdada de longa data, de que a desordem e a força bruta constituem o melhor instrumento para reivindicar direitos. De outro, a audácia de quem se sente protegido pelo presidente-companheiro ao cometer crimes em série em nomes de uma certa “justiça social”. Há décadas, Lula demonstra apoio – ora tácito, ora explícito – à truculência do MST, que costuma cobrar respeito pelos seus direitos enquanto atropela os direitos alheios.

Ainda que, vez ou outra, o petista peça moderação a quem nunca foi moderado, sua tibieza facilita a delinquência disfarçada de ação política. Se já seria grave Lula agir assim na condição de líder oposicionista, passa a ser afronta como presidente da República, papel que lhe deveria exigir o mais pleno respeito às leis e à convivência democrática no campo e nas cidades. O convescote no Palácio, no mesmo dia das invasões, torna mais vergonhoso esse casamento.

Mas isso não é tudo. Chama a atenção a providencial adequação do discurso à conveniência das circunstâncias. Dois dias antes, o movimento divulgou uma carta aberta na qual não só cobrava avanços na reforma agrária como dizia que “soberania nacional só é possível com soberania alimentar”, fazendo alusão evidente à campanha que Lula e o PT encampam em defesa da soberania do Brasil após o tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump.

É a marotagem de quem sabe que a bandeira da reforma agrária faz cada vez menos sentido em um país que é hoje uma das maiores potências agrícolas do planeta. Já foi o tempo em que o MST invadia “latifúndios improdutivos”, nome habitualmente usado para qualificar qualquer fazenda que ocupa. O jeito é procurar outra clientela, conforme o momento e a oportunidade: anos atrás, por exemplo, durante o governo de Michel Temer, além da questão fundiária, o MST passou a reivindicar outras pautas, como o combate ao desemprego e à corrupção – não a corrupção do PT, claro, já que seus líderes permaneceram mudos enquanto denúncias contra os governos petistas jorravam pelo Brasil.

Em resposta ao MST, o Ministério do Desenvolvimento Agrário argumentou que o País “retomou o ritmo dos dois primeiros governos do presidente Lula”, citando mais de 13 mil novos lotes para assentamentos. Não é de hoje que líderes do movimento se queixam do trabalho do ministro Paulo Teixeira. Seria louvável constatar que Lula apenas os ignora, ou finge ignorá-los. O problema é que o petista também se omite diante da ação, dos métodos e dos argumentos exibidos por esse grupelho liberticida.

Opinião do Estadão

 

 

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