Ao dizer, quatro dias antes do “dia D”, que vai
esperar a sexta-feira para decidir sobre medidas de socorro aos setores e
empresas mais duramente atingidas pelo tarifaço de Donald Trump, o presidente
Lula deixou uma pergunta que não quer calar: o que ele está esperando? O
resultado de alguma negociação sigilosa? Um recuo nos 50%, que Trump nega? Ou
simplesmente o tsunami chegar?
Lula não desce do palanque, e não para de fazer
provocações e ironias contra Trump e os EUA, desde que a Genial/Quaest detectou
que a popularidade dele subiu e a de Jair Bolsonaro caiu com a ameaça de
tarifaço e as cartas mal-ajambradas do presidente norteamericano. Logo, uma
segunda dúvida é onde Lula quer chegar. À sexta-feira, com uma negociação
bem-sucedida, ou às eleições de 2026, numa posição confortável? Uma coisa pode
estar condicionada à outra…
Enquanto o chanceler Mauro Vieira, o vice Geraldo
Alckmin, empresários brasileiros e americanos e a comissão de senadores que foi
aos EUA conversam muito, articulam muito, não se vê um único sinal, à luz do
dia, de que haja reais negociações e, portanto, chances de reduzir os 50%.
Essas negociações e chances deveriam ser até
naturais, já que esse percentual é mais que o dobro na guerra de Trump contra o
mundo, e o Brasil, apesar de estar no topo das sanções, é deficitário no
comércio com os EUA, como Lula está rouco de tanto repetir. Em tese, o tarifaço
é para superavitários, não para deficitários.
Se seriam tão naturais, por que inexistem
negociações e ninguém acredita em recuo, por mais que Trump, que é um jogador,
venha sempre baixando as tarifas no “dia D” com os demais países? Porque a
birra com o Brasil não é por causa de comércio, mas sim de política: o processo
contra Bolsonaro, bigtechs, o apoio de Lula a Kamala Harris, a camaradagem de
Lula com China e Rússia, o Brics como adversário de Washington…Em sendo assim,
nem Trump quer ceder, nem Lula age diplomaticamente. As portas e os ouvidos se
fecham.
Antes de ir para Nova York, numa derradeira busca de
pragmatismo e bom senso, Mauro Vieira enviou um embaixador aos EUA para abrir
canais. Até a noite de segunda-feira, porém, não havia motivos para
comemoração, só para preocupação com o PIB, os exportadores, os produtos e os
empregos.
Os 50% são arrasadores e estão chegando, com Lula
saltitante, em campanha, e o Brasil cara a cara com uma derrota que vai lhe
custar muito caro. Na reta final, o único consolo é que sexta-feira não será o
fim do mundo. A guerra continua e há muito o que negociar, se Trump e Lula
adotarem o tom e a disposição de estadistas que não tiveram te agora. É possível?
Só vai se saber depois do “dia D”.
Eliane Cantanhêde - Estadão
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