O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta
(Republicanos-PB), deu até o início de agosto para o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) encaminhar um texto próprio sobre o corte de isenções
tributárias. Segundo interlocutores do deputado, caso o Ministério da Fazenda
não envie uma proposta, a Casa vai elaborar um projeto próprio e votá-lo no
retorno do recesso parlamentar.
A discussão sobre a redução das isenções fiscais
acontece num contexto em que o governo Lula tenta encontrar meios de aumentar
sua arrecadação e, assim, atingir a meta fiscal. Estima-se que o Brasil deixa
de arrecadar R$ 540 bilhões por ano por causa dos benefícios tributários. Como
mostrou o Metrópoles, a Câmara demonstrou que poderia discutir um corte nesses
privilégios após ser emparedada pela esquerda por causa da resistência em taxar
super-ricos e fundos de investimentos hoje isentos.
Nesse sentido, o que discute-se na Câmara é aprovar
um projeto “meio-termo” entre as propostas do deputado Mauro Benevides Filho
(PDT-CE) e outro do senador Esperidião Amim (PP-SC). O do parlamentar cearense
atende mais ao interesses arrecadatório imediato do governo, pois promove um
corte de 10% nas isenções, sendo 5% num ano e outros 5% no próximo.
A crise do Planalto com o Congresso, que envolveu o
STF:
- O
governo anunciou no fim de maio o aumento no IOF para arrecadar quase R$
20 bilhões, visando atingir a meta fiscal de 2025.
- O
Congresso reagiu mal. Após reunião com os presidentes da Câmara e do
Senado, o Planalto recuou, diminuindo o reajuste.
- Executivo
e Legislativo acordaram o envio de uma Medida Provisória (MP) para
completar a verba que o Executivo deixaria de arrecadar com o recuo do
IOF.
- O
clima azedou pouco depois, e o presidente da Câmara, Hugo Motta
(Republicanos-PB), pautou e aprovou a urgência do projeto que derrubava o
reajuste do imposto. O requerimento foi aprovado em 16/6, com promessa de
15 dias para o governo encontrar uma saída política.
- Antes
do fim desse prazo, Motta surpreendeu o Planalto e até parte dos líderes
da Câmara ao pautar e aprovar a derrubada de todo o reajuste do IOF no dia
25/6.
- O
governo alardeia que, sem o dinheiro do IOF e da MP, vai precisar cortar
programas sociais e bloquear emendas parlamentares.
- Após
a derrota, o governo acionou o Supremo Tribunal Federal (STF), cuja
intervenção poderia deflagrar uma nova guerra entre Poderes.
- Na
sexta-feira (4/7), o ministro Alexandre de Moraes derrubou as medidas do
Executivo e Legislativo, convocando uma conciliação.
- O
governo partiu para ofensiva na opinião pública e emparedou o Congresso
nas redes sociais.
Marco normativo
Enquanto isso, o projeto de Esperidião, já aprovado
no Senado, estabelece um marco normativo para futuras concessões e revisões das
isenções. A proposta estabelece critérios para definir se vale a pena o governo
abrir mão de uma arrecadação a partir de parâmetros como geração de emprego.
Apesar de promover uma mudança estrutural, esse texto não se traduz,
necessariamente, em arrecadação imediata para o governo.
Estima-se que, com um corte de 10% nas isenções, o
governo consiga arrecadar de R$ 54 bilhões a R$ 68 bilhões ao ano, com chance
de aumento caso a proposta passe a régua também em benefícios creditícios e
financeiros. No melhor cenário arrecadatório, isso significaria um montante
três vezes superior aos quase R$ 20 bilhões que a Fazenda previu de entrada nos
cofres públicos com o reajuste do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF),
que deflagrou a última crise entre Congresso e Planalto.
A abertura para revisão das isenções fiscais foi
sinalizada pelo presidente da Câmara na reunião de líderes da última
terça-feira (8/7). Desde então, Planalto e Congresso têm sinalizado maior
disposição para superar a crise causada pela derrubada do decreto do IOF.
O presidente Lula afirmou que o decreto editado pelo
governo será mantido, mas reconheceu que pontos específicos podem ser
ajustados, se necessário. “Eu não me queixo do Congresso. Apesar das
divergências, é importante que o povo brasileiro entenda: meu partido elegeu
apenas 70 deputados dos 513 e 9 senadores dos 81. Isso me impõe um caminho:
negociar e dialogar. E, justiça seja feita, até agora conseguimos aprovar 99%
do que enviamos. Sou grato ao Congresso, porque tem colaborado muito”, disse o
petista.
Metrópoles
Nenhum comentário:
Postar um comentário